Maria da Penha Boina Dalvi

Encontrados 11 pensamentos de Maria da Penha Boina Dalvi

⁠Autenticidade

Cansei de ser julgada pela minha autenticidade
na essência poética
Aos bravos e recolhidos seguidores dos meus perfis,
não serei performática para agradar
As suas escolhas pelo obscurantismo não me interessam
Deixem de se preocupar com a minha escrita insólita
busquem pelo fanatismo adulador e fantasioso das aparências
que combinam com suas visões
A minha poesia é ácida que até dói
Diante do atual mundo tresloucado
nunca praticarei uma escrita espúria
Sempre estarei no limiar da minha mais profunda essência
convicta das rasas interpretações
As dimensões que ocupamos são antagônicas.
Imagino como seria hoje julgado Manuel Bandeira
Que do seu íntimo preconizou
“Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem-comportado...”
... “Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
— Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.”

Inserida por MariadaPenhaBoina

⁠Lacuna

Estou saturada
da tolerância e de desculpa rasa para qualificar o hiato cognitivo
do estratagema do saber das pontas dos dedos
do aprender célere e abominável
como se o malabarista do circo
não necessitasse ser perseverante
do desprezível conjuminado do incompatível
ensinar para fazer aprender
lucubração de clã díspar
à mercê do próprio capricho
ah! Como estou farta
da pergunta antecipada para conhecer a minha opulência
para vir a traçar o meu hediondo destino.

Inserida por MariadaPenhaBoina

⁠A idade certa
Cheguei àquela idade em que os aforismos ganham vida própria, como pequenos faróis a iluminar o caminho que, enfim, escolhi para mim. Não descobri tudo — longe disso —, mas descobri que não preciso mais carregar o peso das expectativas alheias. A vida, como dizem, é breve demais para ser pequena. E eu, agora, entendo o que isso significa.
Cheguei à idade em que o "não" sai com a leveza de quem sabe que dizer "sim" a si mesma é o maior dos luxos. Já não me importo em ser incompreendida, porque entendi que a única compreensão que importa é a que tenho de mim mesma. "Conhece-te a ti mesma", dizem. E que descoberta libertadora!
Cheguei à idade em que o tempo não é mais um tirano, mas um aliado. Já não conto os dias, mas os saboreio. Cada momento é como um aforismo: breve, mas denso de significado. "A vida é o que acontece enquanto você faz planos", dizem. Pois bem, agora eu vivo os planos, e não apenas os faço.
Cheguei à idade em que os erros não são fracassos, mas lições. E as lições, por sua vez, tornam-se sabedoria. "Queda após queda, a mulher aprende a caminhar." E eu, que já caí tantas vezes, agora caminho com passos firmes, porque sei que cada tropeço me trouxe até aqui.
Cheguei à idade em que faço o que realmente gosto, não porque seja fácil, mas porque é autêntico. E a autenticidade, como dizem, é o único caminho para a paz interior. "Sê fiel a ti mesma", ecoa o velho conselho. E eu, finalmente, sou.
Cheguei à idade em que os aforismos não são apenas palavras, mas a própria essência da minha existência. E, como dizem, "a vida é uma obra de arte que cada um pinta com suas próprias cores". As minhas, agora, são vibrantes, porque escolhi pintar com o que realmente amo. E isso, meus amigos, faz toda a diferença.

Inserida por MariadaPenhaBoina

Eu queria ter vivido
Eu queria ter vivido
quando o tempo era manso
e as palavras não corriam
numa tela sem trato.
Quando o vento escrevia
nas janelas abertas,
e o silêncio trazia
respostas concretas.
Eu queria ter vivido
onde o olhar era carta,
onde o encontro não era
só um nome sem face.
Quando a praça era o mundo,
o degrau era escola,
e a verdade não vinha
mastigada em retórica.
Eu queria ter vivido
num instante sem pressa,
onde a vida pulsava
no compasso das eras.
Mas vivo no ruído
de um tempo sem tato,
onde o toque é um vulto
e a alma, um contrato.⁠

Inserida por MariadaPenhaBoina

⁠Amor algorítmico
No futuro distópico, meu amor,
serás um código, eu, um algoritmo,
nosso romance, uma função de valor,
calculada em qubits, sem nenhum critério.
Teu coração, um chip quântico,
pulsa em superposições, frio e exato,
enquanto meu peito, um circuito vazio,
busca teu sinal no infinito abstrato.
Prometemos eternidade em nuvens quânticas,
mas nossa conexão falha, a rede oscila,
o 6G do amor é instável, desigual,
e o GPS da paixão nos leva à ilha
de um mar de big data, onde afogamos
nossos sentimentos em deepfakes vazios,
enquanto IA generativas nos declamam
poemas de amor, pré-treinados, sombrios.
Ah, meu amor cibernético e irônico,
será que ainda há espaço para o humano?
Ou somos apenas mais um código eletrônico,
perdidos no loop de um futuro insano?
Talvez, entre tantos qubits e labirintos,
ainda reste um sopro de verdade:
um erro no sistema, um laço antigo,
que nos salve da fria eternidade.

Inserida por MariadaPenhaBoina

⁠Faces caídas
No palco frio da hipocrisia,
amizades nascem sem raiz,
crescem à sombra da cortesia,
mas morrem sempre por um triz.
Sorrisos largos, gestos belos,
promessas feitas sem calor,
olhares falsos, frios, amarelos,
vestidos todos de impostor.
Enquanto a cena se desenrola,
fingem afeto, juram ser leais,
mas basta a queda da coroa,
e os rostos mostram seus sinais.
E quando enfim saio de cena,
o brilho some, não há mais voz,
a falsa amizade se condena,
só resta o eco do vácuo atroz.
Tantos anos, tantas trilhas,
e ainda assim não compreendi,
como há almas tão vazias,
que somem quando já não há o que fingir.

Inserida por MariadaPenhaBoina

⁠Libertação do ser
Quando o véu se esgarça,
e o mundo perde suas cores emprestadas,
a liberdade não é um rio,
mas o oceano que não pede licença
para ser vasto, profundo, salgado.
Não há mais rédeas,
nem mapas desenhados por mãos alheias.
As regras, outrora prisões,
agora são cinzas ao vento,
e os valores, sombras desbotadas,
refletem apenas o vazio que habita
o cerne de tudo.
É aqui, no abismo sem fundo,
que o ser se revela:
niilista, agnóstica,
desnuda de certezas e dogmas.
Não há mais o ter que,
apenas o poder ser.
E ser é existir sem véus,
sem máscaras,
sem a necessidade de pertencer
a qualquer coisa que não si mesma.
A liberdade chega como um silêncio,
um eco que não responde,
um horizonte que não promete.
E no meio desse vazio,
o ser se encontra,
não como um ponto fixo,
mas como uma dança contínua,
uma chama que arde sem motivo,
sem destino,
apenas porque existe.
E assim, no caos da existência,
no deserto sem deuses ou sentidos,
o ser se faz inteiro,
não pelo que tem,
mas pelo que é:
livre,
desamarrada,
e infinitamente sua.

Inserida por MariadaPenhaBoina

⁠O peso do medo
Dizem que há sombras na esquina,
sussurros frios na neblina,
olhos que espreitam na escuridão,
mãos que apertam sem compaixão.
Tranque as portas, feche o peito,
dobrem-se ao fardo do preceito.
Há sempre um monstro à espreita,
um castigo para a alma imperfeita.
No deserto, a voz bradou:
“O mar se abre a quem rezou!”
E os que duvidam, sem piedade,
são tragados pela tempestade.
Na fogueira, a chama dança,
queima o corpo, apaga a esperança.
A fé impõe o seu decreto:
“Negue-me e prove do inferno certo.”
Coroas brilham, aço brande,
o medo cresce e nunca expande.
Pois só se vê o que convém,
quem dita a lei nos faz refém.
Um novo rosto, um novo nome,
sempre há um lobo em meio ao homem.
Ora justiça, ora nação,
ora inimigo, ora oração.
E assim seguimos, sem acerto,
livres no corpo, presos por dentro.
Grades que o tempo não desmancha,
o medo pesa... e nos amansa.

Inserida por MariadaPenhaBoina

⁠Espelho partido
Nasci sob o brilho de um espelho dourado,
Que refletia o mundo como ela queria.
Mas a luz, tão falsa, trazia ao meu lado
Sombras que o amor nunca preencheria.
Sua voz era um cântico enfeitiçado,
Ressoando louvores a si, tão vazios.
E eu, pequena, em seu mundo moldado,
Afogava-me em mares frios.
Seu olhar me feria com indiferença,
Como quem vê o outro e nada enxerga.
Eu buscava seu amor, mas na ausência
Só via a máscara que nunca se entrega.
Minha dor era calada, um grito mudo,
Pois quem ousaria a verdade contar?
Que o colo materno, tão profundo,
Era um abismo pronto a devorar.
Eu, folha caída ao vento cruel,
Tentava brotar em terra estéril.
Mas ela, rainha de um falso céu,
Pisava meus sonhos com garras de ferro.
Hoje carrego cicatrizes invisíveis,
Marcas de uma luta que ninguém vê.
Pois ser filha de quem ama impossíveis
É aprender a amar sem nunca receber.
Mas há força no pranto que em mim brotou,
Raízes que nasceram do chão quebrado.
E o que ela negou, a vida me ensinou:
Sou inteira, mesmo no espelho rachado.

Inserida por MariadaPenhaBoina

⁠Teia invisível

Em seu altar de livros e esperanças,
A mestra urdia, com mãos pacientes,
Uma teia feita de longas tranças,
Ligando almas a mundos diferentes.
Seus gestos eram como suaves brisas,
Que moldam dunas sem deixar sinal.
E suas palavras, em curvas precisas,
Desenhavam rotas num mapa ancestral.
Os alunos partiam em várias direções,
Com sonhos que ela ajudou a nutrir.
No Brasil profundo ou em novas nações,
Levavam seus ecos, prontos a florir.
Cada encontro era um fio entrelaçado,
Que o tempo cuidava de esticar além.
Mesmo longe, o elo jamais apagado
Resistia ao sopro dos dias que vêm.
A mestra sabia que a sala vazia
Guardava histórias que não têm final.
Pois o saber plantado um dia
Flui como rios num curso imortal.
E assim, sem alarde, deixou sua marca,
Com passos firmes, mas quase sem som.
Uma cátedra viva que nunca se apaga,
E nos corações ressoa como um dom.

Inserida por MariadaPenhaBoina

⁠A dança dos extremos

Na praça do tempo, a extrema direita grita,
Faz da espada seu verbo, da fúria sua escrita.
É um vendaval que ruge entre os campos de dor,
Plantando espinhos onde o trigo já foi amor.
Lá vem o cavaleiro, com bandeiras rasgadas,
Ecoando promessas de glórias passadas.
Mas são sombras de reis que nunca existiram,
Fantasmas de um poder que tantos sucumbiram.
E do outro lado, suave, a esquerda caminha,
Com pés descalços sobre a terra que alinha.
É o sopro da aurora no campo semeado,
O canto das mãos que constroem o legado.
Dos livros nascem pontes, dos sonhos, revoluções,
É o abraço do povo contra as prisões.
Mas a bonança tem curvas, também seus tropeços,
Pois no campo das ideias, há espinhos nos começos.
A história é mestra, nos sussurra ao ouvido:
Já vimos extremos ferirem o perdido.
Mas também vimos florescer, em terreno infértil,
A coragem de lutar, ainda que em solo hostil.
Que não nos guie o ódio, que não nos cegue o temor,
Que a mão que aperta o punho também saiba dar flor.
E que na dança dos extremos, o equilíbrio seja o fim,
Para que a história cante o melhor de seu jardim.

Inserida por MariadaPenhaBoina