Maria Alice Guimarães

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A MULHER DE UM HOMEM Só




Há muitas espécies em extinção na natureza. Desde os ursos Panda até a “mulher de um homem só”.
Se por acaso alguém encontrar alguma por aí encaminhe para o Fantástico, pois se trata de raridade.
A “mulher de um homem só” para quem não sabe, só teve na vida, um único namorado, ainda na adolescência. Muito jovem casou-se com ele. Sua “performance” sexual limitava-se a alguns tímidos beijinhos (os famosos selinhos de hoje) e uma ou outra mão-boba na perna da donzela que, de tão culpada, rezava a noite inteira rosários e rosários em penitência. E de joelhos, para que o pecado fosse mais facilmente perdoado.
O encontro amoroso só podia acontecer no sofá da sala, aos domingos à tarde, sob a vigilância da família inteira que se revezava na guarda do hímen da moça.
Depois de muitas e silenciosas tardes de namoro começava a ficar urgente passar à próxima fase, a do noivado, ante-sala para o casamento. “Os outros” já estão falando , dizia o pai, referindo-se a urgência em casar os pombinhos antes que acontecesse o pior.
E o noivado era festejado com muita comida e muitos doces, familiares presentes na festa e uma bela aliança de ouro na mão direita dos noivos. Tudo isso vinha acompanhado de autorização paterna para andarem de mãos dadas e “de braços”. Podiam passear, mas sem dispensar o “doce- de- pera “.
A núpcias da “mulher de um homem só” eram rigorosamente preparadas e implicava em muita festa , despesas enormes, quase sempre maiores que o poder econômico de muitas famílias.
A festa durava o dia inteiro, tudo isso depois de semanas de exaustos preparativos. O vestido da noiva, obrigatoriamente branco, acompanhado de véu e grinalda de flores de laranjeira, só podia ser usado pelas moças-donzelas, virgens, de comportamento comprovadamente casto, avalizadas pelo pároco da igreja local, inclusive.
A preparação da vida futura da “mulher de um homem só” parava por aí. Ela sabia através de conversinhas com casadas recentes que teria que passar por grandes apuros na noite de núpcias, mesmo assim, munida de muita coragem, encarava o fálico marido com toda coragem de que dispunha. Traumaticamente chegava até o matadouro, vestida em camisola de sedas e rendas, de preferência branca para combinar com sua pureza. Curiosidade havia, mas o medo era maior. A possibilidade da dor superava qualquer possibilidade de esperar por algo que pudesse ser bom.
Era um ritual de passagem doloroso, sofrido, onde dor e alegria se confundiam. Muitas se separavam das famílias e iam viver em lugares distantes e como aves migratórias chegavam tristes acompanhadas daquele quase desconhecido que iria fazer gato e sapato da pobrezinha.
Mas era assim que tinha de ser e todas as moças queriam casar. Ficar solteira era uma vergonha. Solteironas, nem pensar. Seria a condenação de “ficar para titia” ou cuidar dos irmãos mais novos e arcar com os pais quando envelhecessem. Melhor o matadouro, morder o travesseiro e tornar-se mulher (como se já não o fossem). Tornar-se, para sempre, “mulher de um homem só”.
Ensinadas na lei do sacrifício e da doação acolheriam os filhos que deus mandasse, uma dúzia deles e nunca esqueceria nem o nome nem o aniversário de nenhum, afinal seu título era de nobreza- rainha do lar – quase uma santa.Dava até a impressão que os filhos foram concebidos sem sexo, como Jesus. Essa mulher não podia ter a visão de seu marido despido. Sexo só santificado, diziam os padres. Tinha que passar pela água-benta, pelo confessionário e era preciso zelar a vida inteira pela reputação, abdicar de enfeites e perfumes.
Quem ouve uma história dessas nos dias de hoje pensa que é pura lenda. Mas ainda existem algumas dessas mulheres vagando por aí. Não conseguem entender muito bem quem são as extravagantes e voluptuosas” mulheres de muitos homens” que desfilam pelas ruas enfiadas em “jeans” apertados, barriguinhas à mostra, seios empinados, bundas arrebitadas, equilibrando-se em saltos muito altos e finos. Não se falando que exalam perfumes libidinosos que provocam paixões avassaladoras. Todas sem donos, livres pensam as “mulheres de um homem só” ou será que o mundo mudou tanto que agora são eles que têm de obedecer, comportar-se e se submeterem ao desejo delas?
Será que eles é que viraram “homens de uma mulher só?”

Amor Bandido


Ouve-se, frequentemente, mulheres dizerem “eu não sei o que foi que eu vi nesse cara”.
Ele parece não gostar de nada.Principalmente das coisas que eu aprecio. É um chato. Filme pra ele é bang-bang ou de guerra. Até do Jeca Tatu ele gosta. Música, então, só com som bem alto, sertanejas, zonão de preferência. Quando vai se vestir enfia a primeira camisa surrada que encontra no armário, mistura sapato preto com meias brancas e sai falando errado, engolindo os “esses” e os “erres”. Sem nenhum pudor faz xixi na minha frente e fala de boca cheia. O último livro que leu estava na quinta série e assim mesmo foi pressionado pela professora de Literatura. Chega a ser cafajeste o jeito que o mal-educado me trata A culpa de tudo o que acontece é sempre minha. Só falta me dizer que o Bahuam engravidou a Maya porque eu emprestei a cama. O que some foi porque eu tenho mania de esconder as coisas e quando viaja esquece o número do meu telefone na primeira esquina.
É, você, inteligente, culta, leitora assídua dos jornais diários, chegada nos clássicos da literatura universal, fã do Chico Buarque e do Caetano, organizada, bem vestida e cheirando a Natura, ama esse despropósito da natureza. Fica por horas na cama procurando o cheiro desta coisa sem nenhuma vocação para príncipe encantado.
Quando ele está longe, então a coisa piora. Falta a droga que inebria seus cinco sentidos. Falta o gosto daquele beijo que só ele tem, aquela pegada que te arrepia até o dedinho do pé, aquele cheiro de pecado mortal. É amiga, isso é a loucura chamada paixão, o tal de “amor bandido”. Como é amor não tem referência fora do objeto desejado. Existe em si e de si mesmo se alimenta, coisa assim meio filme de terror. Dá medo, paralisa, eletriza, mas a gente fica ali, com medo às vezes, mas achando bom.
Por isso vai-se ficando neste círculo fechado, envolvidas por este mistério que mistura paz e tormento, alegria e raiva obedecendo ao sentimento que provoca e estimula. E dane-se a razão.
Até quando nunca se sabe. O mais provável é que ele te atormente por toda vida. Não há, nesses casos espaços vazios para que outro o preencha e te salve. Ninguém consegue neutralizar este encantamento. Ele tem magia, magnetismo, está escrito nas estrelas e obedece a um alinhamento estelar, cósmico. Quando se está perto tem-se vontade de fugir, mas quando longe a sensação de alívio não vem. No lugar instala-se a dor da saudade da pele, do cheiro que só ele possui. Dependência total.
É o amor-bandido, mas você vai achar que é a coisa melhor do mundo.

PODEROSAS

Quem gosta de liberdade tem que aprender a conviver com a solitude.
Ela pode ser uma boa companheira. Basta experimentar. Vale a pena.
Diferente da solidão que carrega o estigma de ser triste, de ter cheiro de abandono, a solitude é amena e é uma opção pessoal, coisa de mulher moderna. De mulher poderosa, como se diz por aí.
De todas as idades, mas principalmente as maduras, que já aprenderam as duras lições da vida, essas moças bonitas, charmosas e atraentes dirigem seu próprio carro comprado com o esforço de seu trabalho, viajam sozinhas, vão da cozinha ao cinema sem medo de ser feliz. Tudo isto ostentando um belo sorriso emoldurado por uma boca pintada com batom vermelho. Vestem roupas da moda, primam pela qualidade, abanam cabelos sedosos ao vento deixando atrás de si um rastro de perfume francês. Pagam suas despesas com cartões de crédito que exibem nas mesas dos bares e restaurantes onde almoçaram, jantaram ou apenas tomaram uma cervejinha gelada. Sem nenhum constrangimento por exporem ao mundo sua solitude.
Para essas sacerdotisas contemporâneas seu templo é o mundo e nele não há clausuras. Não lhes falta amigos, familiares e namorados, mas preferem dividir a alegria de viver consigo próprias e com ninguém mais, como uma espécie de desagravo às suas ancestrais amordaçadas.
Nada de egoísmo, apenas usufruir daquela sensação gostosa de”sentir-se donas de seu próprio nariz”. Já foi-se o tempo do “eu só vou se você for”. E olha que não faz tanto tempo assim que mulher nem era cidadã, não votava, não tinha CPF nem carteira de motorista. Fumar, então, era coisa de mulher-dama (como eram chamadas as prostitutas).
Beber, só refrigerante, usar calças compridas um escândalo.
Tudo coisa do passado, graças a Deus. Hoje já se pode dizer que as mulheres são livres, mesmo que ainda haja quem se preste a discordar. Concordar ou discordar é de foro íntimo, individual.
O que importa é que a roda da vida girou e faz-se necessário viver e fazer-se feliz. Correr riscos faz parte do processo. Uma geração inteira de mulheres corajosas arriscou sua reputação para que se chegasse até aqui imunes aos falatórios maldosos de poucos anos atrás.
Mulher é fêmea da natureza; livre para voar e buscar o que achar melhor para o seu momento, fazer suas escolhas, trilhar sua estrada.
É preferível colidir com um muro de concreto do que não viver.

O AMOR E A PAIXÃO




“O céu está parado, não conta nenhum segredo; a estrada está parada, não leva a nenhum lugar. A areia do tempo escorre entre meus dedos. Ai que medo de amar,”
( Vinícius de Moraes)
O amor e a paixão são sentimentos sempre presentes na vida de qualquer ser humano. Ninguém vive sem amor. Ama-se uma mulher, um homem, um deus, a si mesmo, ama-se o filho, o pai, a profissão, a ausência, a flor, o desejo de amar. Ama-se na saudade, na dor, na alegria.
Por ser o amor um sentimento tão forte e envolvente sobrepondo-se à vontade, constituindo-se, inclusive, em algo assustador, sendo comparado por muitos, à própria morte. É vasta a produção literária sobre o tema, em todas as línguas. . Homens e mulheres imprimiram em palavras a expressão do seu amor e toda força arrasadora que ele possui. Capaz de levar o ser humano a cometer todos os gestos, ganhar, perder, sorrir, chorar, querer e não querer viver e morrer, vivenciar todas as contradições de que é capaz sua natureza. Como diz Oswald de Andrade, “O homem é um animal que vive entre dois grandes brinquedos: o amor onde tudo ganha e a morte onde tudo perde.” Visto assim o amor é sinônimo de vida, pois opõe-se à morte, à solidão. Amar é ganhar, crescer, evoluir. Não amar é morrer. É preciso vivenciar o amor se quisermos viver em estado de felicidade, de plenitude.
Por tudo isso o homem vive em busca do amor e tudo que mais deseja é ser desejado por outro ser humano. Todos conhecem a dor “da ferida que dói e não se sente”, já queimaram no “fogo que arde sem se ver” (Camões), “ouviram estrelas” com Olavo Bilac ou simplesmente cantaram com Zezé de Camargo e Luciano”que mexe com minha cabeça e me deixa assim”. Princípio unificador do cosmos, segundo filósofos gregos, êxtase celestial, doce tormento entre outras definições. Por ser assim tão poderoso, o sentimento do amor vem merecendo a atenção, até mesmo dos estudiosos do comportamento humano que, na tentativa de objetivá-lo, descobriram que há todo um processo hormonal ativadores dos impulsos amorosos quando alguém se encontra sob os efeitos da paixão: dopamina, norepinefrina e feniletilamina se derramam como cascatas poderosas ao longo dos nervos, espalhando-se pelo sangue, gerando reações comportamentais até mesmo perigosas. Visto assim, o amor se constitui em uma força independente e incontrolável, quase doença, loucura talvez. Que culpa têm, então, os que matam ou morrem por amor?É por ele ou pela falta dele que passa o fluxo da vida e da morte. Pobres de nós que já nascemos com a marca da trajetória impressa em nosso código genético, uma bomba capaz de nos implodir a qualquer momento. Entretanto vamos amando pela vida afora, invejando os namorados que vemos trocando afagos, abraços e beijos sem se importar com o custo de vida nem com a fome do mundo. Quem está em estado amoroso não vê, não pensa , não sente fome nem frio, o céu é sempre azul as noites todas estreladas.
Por isso é tão difícil carregar o estigma da exclusão amorosa, a humilhante condição de não-amados que os rejeitados conhecem Mas é sempre bom pensar que tudo pode se modificar em segundos, que o amor pode chegar com a rapidez e de forma surpreendente como explodiram as Torres Gêmeas. Afinal essa é uma das grandes armadilhas do amor “chegar quando menos se espera”.

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PASSAGENS SECRETAS

Quantas vezes a gente jura de pés juntos que não vai mais cometer o mesmo erro.
“Desta vez tenho certeza de que aprendi a lição”. Nunca mais vou cair nesta armadilha. Prefiro morrer. Se me virem andar em direção a este cara, por favor, me amarrem, chamem o resgate, me internem numa clínica de loucos, pois estou fora da casinha. Nem mais um segundo, terminou, não volto atrás de jeito nenhum.
Ledo engano, mocinha, amor não se mata com este tipo de veneno, nem mesmo com o veneno que o outro inoculou nas suas veias sem dó nem piedade. O amor é como aqueles monstros extraterrestres de filmes americanos; só morre quando se acha o ponto vulnerável, o calcanhar de Aquiles do bichinho feio. E nem assim dá certo, fica sempre uma fresta, uma gota de sangue, um punhado de cinzas, sementes para que o seriado continue quando o etezinho ressurge mais malvado do que nunca.
Depois que passa a sensação deixada pelo choque térmico vem a recaída. A bomba que você pensava ter desativado aparece bem ali, na sua frente mais ameaçadora do que nunca, prestes a mandar você para o espaço. Começa o filme novamente e você conhece o roteiro e o final. Sabe que vai terminar como sempre, mas a necessidade de adrenalina vence as suas resistências e você vai e corre todos os riscos outra vez .
Quem sabe desta agora dá certo? Quem sabe ele mudou, amadureceu, fez um cursinho de boas maneiras? Sapo vira príncipe, não vira? Ta lá nas histórias infantis e se não fosse verdade a vovó não teria me contado. Vó não mente, mas você já sabe que está mentindo para si mesma, mesmo assim se abriga nos braços da esperança, esquece o juramento, as lágrimas roladas, dispensa os serviços do resgate e nem se lembra que existe hospício. Cai nos braços do patife e se consome na paixão, se esvai em orgasmos alucinantes, acredita nas promessas tantas vezes descumpridas e dorme e acorda cantando, sentindo aquele alívio gostoso, mágico, aproveitando a abundância de gentilezas que começam com um bom dia amor e você correndo para o espelho para a consulta que aprendeu com a madrasta da Cinderela “espelho, espelho meu existe alguém mais feliz que eu”?
É o seu momento de trégua. A vida de muitas de nós tem disto. Relaxa e aproveita. Faça de conta que não conhece o fim da história, saboreie esse bonbom recheado de licor, sem culpas. A juíza das suas loucuras é você mesma. Não seja severa demais nem se cobre depoimentos, afinal se houver ferimentos quem vai soprar é você, senhora de sua própria tortura. Afinal seu esporte predileto sempre foi correr riscos.
Vale tentar ganhar uma medalha nem que seja de bronze.

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HELENA


Helena é linda!
Não tem olhos azuis nem cabelos encaracolados, mas tem porte de modelo. Alta, magra, elegante, encanta com simplicidade como pouca mulheres que conheço.
Mas Helena é muito mais que isso. É bela porque é doce, amável, sincera além de ter um coração de ouro e um caráter irretocável.
Helena sabe demais sobre as coisas da vida, principalmente as mais nebulosas. Suave, me alerta, me ensina a não atentar, muitas vezes contra mim mesma. Tudo com seu jeito bem-humorado de ser. Tranqüila e otimista sempre, sabe de utopia e solidão. Pés no chão, fantasia não é com ela. Não fala da vida alheia, olha as pessoas pelo lado melhor. Solidária a ponto de deixar a gente meio sem jeito.
Helena é assim. É linda porque se chama Helena como a de Tróia, como as de Manoel Carlos e como tantas que povoam o imaginário da gente. Todas as Helenas são assim, cantadas em prosa e verso e pelos homens também.
A que conheço tem sobre si as nuvens, ama o mar e o vento que ele traz.
Hoje sou um pouco dela e ela um pouco minha. Aprendemos juntas uma parte importante da lição que Deus nos dá para fazermos em casa. Perto dela fiquei mais forte, mais segura e menos sozinha. Nela posso confiar, contar meus sonhos mais secretos e falar de namorados, como se tivéssemos quinze anos. Assim ficou combinado, mesmo que nunca tenhamos dito isso uma a outra.
O coração tem muitos canais onde se escondem muitos segredos. Com Helena segurando minha mão encontrei a saída de meus becos disfarçados. Com ela não preciso me fingir de inteligente nem parecer tola. Posso ser eu mesma, reclamar do vento que ela adora, pedir que abaixe o volume da televisão, reclamar que ela esbarrou na saleira e que salgou a comida. Ela não vai se importar. Vai me chamar de chata e dar uma boa risada.
Lúcida o tempo todo, sabe o suficiente para manter-se tranqüila e isso faz uma enorme diferença.
Quando voltei para minha terra não me despedi de Helena.
Nunca vou me despedir dessa amada-amiga. Trouxe Helena comigo e comigo ficará para sempre. Lembro dela todos os dias com saudade e gratidão por tudo que, mesmo estando longe, ainda faz por mim.
Mas confesso meu amor incondicional por Helena e quando estou sozinha sinto uma vontade imensa de conversar com ela, até porque só ela consegue me fazer ouvir

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Na saudade o coração da gente se rompe, quando alguma coisa fora de nós bate com força e libera as lembranças, como esta chuva que hoje teima em cair provocando sensação de frio e de abandono.

DESOLAÇÃO


Muitos são os motivos que levam à desolação. Se começarmos a pensar sobre o assunto, com certeza perdemos o sono e na manhã seguinte estaremos muito mais desolados.
Mas que diabo de coisa é esta? Uma tristeza misturada com desesperança, com generosas pitadas de decepção.
Pior, desolação é mais do que tudo isto junto. É uma sensação de fim de caminho, de pré-morte. Com ela vem o desânimo, o desamor e tudo desvirtua. A vida perde o foco, a graça já não tem graça, o mundo agora é branco e preto.
A desolação é a consciência de que o tempo passou e fomos excluídos de viver o futuro. Só sobra o hoje, um resto de vida que se chama presente e que amanhã já será passado. É chegada a hora de contabilizar as perdas e os ganhos. Perdemos o desejo, a paixão e o entusiasmo. Fogo baixo, lembranças em alta. “Como era bom antigamente”, hoje as coisas não são mais como eram, dizem os desolados. Foi-se o tempo que fio de bigode era documento, galinha se buscava no terreiro, correndo atrás até pegar a mais gorda. E o fogão de lenha, então. Que delícia poder nadar no rio. Ao invés de pontes havia barcos. A gente namorava, hoje os jovens ficam, mas que coisa é essa se ninguém fica de verdade?
Melhor seria contabilizar os ganhos, por mais difícil que possa ser a tarefa. A vida vivida é ganho sobre a morte prematura. Sempre que penso nisto lembro de quem nem teve a chance de viver. Morreu antes.
Que lindas são as histórias que os mais velhos têm guardadas na memória e podem contar aos mais jovens. São testemunhas oculares. Viram a vida acontecer, foram abençoados com filhos e netos. De nada adianta se queixar que não podem mais dançar porque as pernas não agüentam. Dance do mesmo jeito, devagar, no ritmo de seu tempo.
Desistir de continuar buscando felicidade é condenar-se à depressão, é ingratidão com quem lhe deu a vida, é condenação.
É muito desolador ver pessoas tão lindas assim, desoladas.

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Domingos de verão
Naquele verão houve entre nós uma cumplicidade feita de poucas palavras. Éramos um turbilhão de hormônios a se procurarem meio que atrapalhados pelo barulho das águas do rio que , ali bem perto , se oferecia como alívio a quase dor que nossos jovens corpos sentiam, pela necessidade de se misturarem , impulsionados pela paixão a caro custo contida.
O lugar, menos que uma aldeia, guardava o cheiro do mato, o ar perfumado pelo odor das espigas maduras vindas do milharal do outro lado da estrada. O som dos insetos de verão, o bicho que canta nas pitangueiras, tudo fazia parte de um cenário mágico, definitivo naquela hora. Parecia que tudo era pra sempre. As árvores não sairiam nunca dali, o rio manteria o leito cantando entre as pedras. Definitivamente pela vida afora.
Mal sabíamos nós que este era apenas o prólogo de uma quase triste história e que nós a escreveríamos com a dor que os inocentes desconhecem. Apenas sabíamos que estávamos vivos. Tínhamos a sensação de eternidade . Em nem um momento pensamos na possibilidade da morte. Por que, se tudo ao nosso redor era vida, pulsava e respirava? Morrer é coisa para quem é velho. Juventude e eternidade se confundiam obedecendo às nossas emoções.
Havia silêncio no universo. Harmonia na natureza quase selvagem daquele domingo de verão. Posso ouvir o canto das cigarras, a timidez das nossas mãos teimando em se tocar pela ponta dos dedos. Belos e férteis, tudo parecia nos pertencer. Não tínhamos passado e o futuro não nos preocupava. Tudo era suave e a vida era aquele momento. Nada mais.
Amor feito de inocência, de curiosidade, de desejo contido, de promessas que nem sequer foram feitas, sem posse, sem nada tirar , sem nada pedir. Apenas amor , inocente, cálido e sem culpas, feito de palavras tímidas a caro custo proferidas , sem nenhuma pressa.
Não sabíamos que a destruição existia. Sem começo, parecendo sem fim. Por isso imortal, sem cronologia, Um amor perfeito. Só a inocência pode ser perfeita. Éramos seres quase angelicais.
Compartilhamos felicidade sem saber que era nossa chance de conhecer o amor verdadeiro, que brota da alma da gente com a naturalidade com que cantam as cigarras nas tardes quentes de verão.
Bastava a escadinha modesta de madeira cheia de nós que sentávamos para conversar. Conversas repassadas de timidez e sem nenhuma malícia. Nosso maior pecado foi um beijo roubado numa destas tardes. Valeu uma semana sem dormir curtindo aquele gosto doce de amor e pecado . Havíamos transgredido as regras .
A pergunta do que seria o depois bailava na minha cabeça e me amedrontava pensar que um dia faríamos coisas , outras coisas que eu não tinha nem como imaginar quais eram
Mas ficou só nisso. O amor ficou apenas na memória, mas numa memória que existe dentro do mais profundo sentimento, naquela parte do coração da gente onde os tesouros são escondidos.
São lembranças que não concordam em se misturar as profanas e amargas que vêm depois. Elas são puras e sagradas e como tal devem ser guardadas como relíquias que são.
Assim eu te guardei. E por anos a fio te conservo, intacto, acreditando que um amor como este é para sempre, intocável, imaculado, para ser vivido até a eternidade .
Só te recrimino por teres ido embora sem me dizer nada. E por nunca mais teres voltado, senão nos meus sonhos , aqueles que acontecem sempre nas noites de domingo, nas noites de verão

A CRUELDADE DE SER MULHER


Volto ao tema da "crueldade" por me parecer inesgotável.
Qualquer coisa pode, em determinado momento, ser cruel.Mulher é sujeito e objeto de muita crueldade.
É cruel ser bonita, ser jovem, inteligente, regada a hormônios, feromônios, progesteronada e anfetaminada. Portadora saudável da vida e da fertilidade
Nada de errado nisso. É a fase da juventude, das paixões desenfreadas , da alegria e dos sonhos. É quando parecemos eternos. Tudo podemos e tudo queremos,
afinal pensamos que a velhice nunca nos atingirá, como se fôssemos vacinados contra ela. É coisa da vovó. Ela que se vire, problema dela e de quem é velho.
Que crueldade, não com os mais velhos porque esses já estão noutra. É com aquele corpinho perfeito, uns mais bonitos outros menos, mas todos no melhor da hora.
O tempo, o velho e impiedoso "senhor da razão" passa e traz com ele os efeitos da lei da gravidade, das nefastas exposições ao sol em busca daquela corzinha de pecado,
a gravidez de quase todas, as noites mal-dormidas, a dupla jornada de trabalho e outras mazelas que só às mulheres são impostas.
Fazer o quê? Algumas, cuja situação financeira permite, vão a busca das cirurgias plásticas e acomodam litros de silicone em bundas caídas e seios murchos e dá-lhe "botox",
dentes implantados, tinturas nos cabelos e por aí vai. São tantos os recursos que o mercado oferece. É a indústria da juventude eterna, tão amplamente sonhada. Melhor ainda se juntar-se a isto longas e penosas caminhadas, de prefarência usando tênis redutor de impacto e belas malhas de preço bem alto.Dietas, academias, massagens, muitos cremes. Tudo junto pode tirar um punhado de anos do visual. Permite até o uso daquele “baby look" da filha e daquele "jeans" apertadinho .Parecem irmãs, muitos elogiam.E o ego?Vai bem obrigada.
Pareço despeitada dizendo essas coisas, mas confesso que já fiz um pouco disso e só não fiz mais porque o dinheiro não deixou. Hoje me pertgunto se vale a pena tanto investimento e tanto sacrifício.
Vejo todos os dias mulheres que não reconheço. Até colegas de escola, sempre inesquecíveis, passam por mim sem que eu junte o rosto de hoje ao do tempo do colégio. A cara é outra, dentuça, lábios grossos, repuxadas, parecendo um "Fusquinha" reformado. Muitas até bem bonitas, mas se terem conseguido quase nada do que foi no modelo original.Sorriso, então, parece que foi modificado com grampeador.
A velhice é inevitável. Só não envelhece quem morre antes. A frase é popular e não é minha, mas nem por isso deixa de ser verdadeira. Envelhecemos porque vivemos e se vivemos temos que arcar com as consequências. Não precisamos ir para o ferro velho, isso seria injusto demais com as mulheres mais velhas. Há muitas formas de se encarar a idade com altivez e dignidade, com estilo próprio, cuidando da saúde da beleza madura que vemos estampada no rosto de tantas por aí. Cabelos bem tratados (cabelos é determinante), dentes brancos, unhas feitas, de preferência mais curtas (unhas tipo garras comprometem qualquer visual). Ser elegante, ostentar a sabedoria que o tempo nos dá, vale mais do que ser gostosa. Elegante podemos ser enquanto vivermos, mas permanecer gostosa fica muito difícil e cruel para não dizer ridículo
Bom que temos escolha, já que da crueldade de envelhecer ninguém escapa. Ser sujeito de sua própria história e não meros objetos de consumo comercial e de homens carecas , barrigudos e culturalmente
convencidos que a eles foi dado e reservado o direito as mais belas e jovens fêmeas da natureza, meros objetos de prazer , permutáveis , passíveis de serem trocadas por um modelo mais novo .
Hoje é domingo e a saudade da minha vó me assaltou. Vontade de comer a comidinha que ela fazia, de deitar no colo carinhoso e acariciar aqueles cabelinhos que sempre conheci brancos e presos na nuca.
Um pote de amor e sabedoria que me foi dado como exemplo de vida. Acho que vou querer envelhecer assim sendo um doce vovozinha de colo macio e fala mansa. Mas será que a mídia vai deixar?
Mas toda essa nostalgia são conversas de domingo....

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EU COMIGO MESMA



Estou começando a me acostumar comigo mesma.
Acho que já não sei mais viver sem mim. Falo comigo em voz alta, me repreendo quando penso que o que fiz não foi tão certo assim, respondo minhas próprias perguntas, concordo e discordo com a outra, que sou eu. Ou será que é maluquice o que eu faço?
Não vivo sozinha, mas moro sozinha, talvez pela primeira vez na minha vida, porque agora isso esteja me parecendo uma coisa definitiva, embora saiba que para sempre é tempo demais.
Quando entro no meu apartamentinho de solteira, sinto meu cheiro no ar e gosto dele. Meus chinelinhos estão lá, de prontidão, esperando meus pés cansados das caminhadas do dia e do sapato apertado. Alívio! Meu computador exibindo como pano de fundo a minha fotografia, me recebendo com aquele sorriso aliviado, me dizendo “oi”, que bom que você chegou. Como foi seu dia? Há, e a minha cama, sem uma dobrinha, tudo no lugar. Decido o que vou fazer: navego na internet ou assisto televisão? Também tenho aquele livrinho que está pela metade, o café com pão novinho que trouxe da padaria da esquina. Lembro dos meus amores e penso em ligar, mas é cedo ainda. Papo no telefone é melhor mais tarde quando já se pode dar boa-noite. É, tenho amores e sei onde eles estão. Logo ali ao alcance da minha saudade. Só preciso saber se está tudo bem, dizer que os amo e que hoje minhas pernas não doeram, que eu acho que vai esfriar e que se agasalhem no dia seguinte antes de saírem de casa.
Ando pela sala e lembro que esqueci da molhar minhas plantas. Nunca tive muito talento para cuidar delas, mas estou me esforçando. Fiz uma espécie de cronograma de rega segunda, quarta e sexta. Já assimilei como compromisso de rotina e, por enquanto está funcionando. Em troca elas me brindam com oxigênio mais puro e embelezam o ambiente. Depois eu, meu café passado na hora como eu gosto, a novela, meus e-mails. Eu comigo mesma, solitude sem solidão.
Que bom! Estou me acostumando a viver com essa pessoa que eu nem sabia que existia a um tempo atrás. Não tem ninguém para tirar meus óculos quando adormeço no sofá, mas também não há ninguém para me dizer que ronco nem para me pedir bife com batata frita justo na hora da novela ou de telejornal ou que está sufocando com a fumaça do meu cigarro e que eu vou morrer de câncer no pulmão.
Há como é bom acordar pela manhã e não precisar correr para o banheiro, desamassar a cara e esconder aquele cabelo de quem parece ter passado a noite na ventania, não ver roupa espalhada pelo chão, vaso cheio de xixi além de não ter que suportar o mau-humor de ninguém.
Delícia das delícias. Conviver comigo mesma é repartir com essa chata que habita em mim as poucas coisas que conquistei. .É bom conviver com quem a gente sabe o que pensa, que não nos enche a paciência e isso só se consegue quando se mora sozinho. Egoísmo, individualismo, ranzinice? Pode ser, mas é uma alternativa para se ter um pouco mais de paz e sossego. Não se precisa abrir mão da família, dos amigos e até de um romance, mas quando se chega na fase do repouso, quando cessa a adrenalina e já se cometeu todos os desatinos a que se tem direito, pode-se tirar proveito da mansidão e do aconchego da nossa própria companhia, desse momento sereno, sem as ansiedades desnecessárias e desgastantes. Pura conquista. Difícil, mas possível.
Entretanto há que se ter cuidado. Nunca se sabe quando seremos atacados pelo vírus da solidão. Ele não desiste de nos fazer voltar a sermos caçadores de emoções perigosas.

Inserida por deusadasaguas7

CONFESSO QUE ESTOU COM RAIVA


De repente um alarme dispara dentro de você, como aqueles contra ladrões que a maioria dos carros possui. Alguém está lhe roubando, sua paz interior foi abalada e o alarme dispara; é hora de se defender e seu instinto de conservação entra em ação.
O sentimento é de muita raiva. Fomos atacadas e feridas naqueles sentimentos mais profundos, no fundo da alma onde guardamos nossas verdades, nossos anseios e nossos medos. Vem o descontrole, os pensamentos ficam confusos e o coração parece querer saltar pela boca.
A raiva é mais ou menos isso. Uma síndrome quase patológica que abala de vez nosso emocional e se reflete, muitas vezes, nas reações físicas. E sentir-se mal é só o começo. O pior que a monstrinha vem acompanhada de irritação, sede de vingança e uma cólera que deixaria um pit-bull com vergonha.

Mas quem vai ficar com vergonha é a gente mesma e não vai demorar muito, afinal mulher educada, equilibrada não tem direito de ficar com essa raiva toda só porque foi vítima de uma frágil mentirinha. Perder o equilíbrio se até libriana você é? Mas perdeu. E ficou simplesmente furiosa, detestavelmente irada, abalada e com todas as baterias voltadas para o seu agressor.
Ninguém tomou vacina contra este tipo de raiva e não tem imunidade contra ela. Vai ter que elaborar este sentimento incapacitante e negativo. Abalada recolhe-se para não dar vexame perante as pessoas com as quais convive. Afinal, descontrole emocional não fica bem numa mulher madura, independente e que se impõe pela serenidade e sofre em ver sua imagem arranhada por perder a razão.
Ninguém está livre de sentir-se assim em um dado momento da vida. Todos os sentimentos humanos existem dentro da gente e, muitas vezes, precisa muito pouco para que eles aflorem e provoquem uma avalanche derrubando as comportas que os detém. É normal perder-se as estribeiras quando nos sentimos traídas e enganadas. Todo mundo , em um dado momento passa por isto. O ego, poderoso como é, potencializa o sentimento de orgulho ferido. Por isto é que sentimos raiva, pela vergonha de nos deixarmos iludir e enganar, como se nossa fosse a culpa, assumimos um erro que na maioria das vezes não colaboramos para que acontecesse.
É hora de baixar a adrenalina, fazer o caminho de volta à calma, respirar fundo e até exercitar um perdãozinho básico. Dizer a si mesma “essa raiva não me pertence”, já é um bom começo para livrar-se dela. Permanecer magoada, furiosa e humilhada, pensar que se é uma idiota de carteirinha é exagero que só faz mal. Raiva tem prazo de validade e vai passar.Em si mesma não é uma coisa nem boa nem má. É apenas a maneira que nossos sentimentos encontram para livrar-se da dor que causa um latrocínio amoroso, de uma ingratidão ou de uma injustiça.
Se for preciso chorar vamos às lágrimas, se gritar alivia a raiva, que se grite bem alto. Se a solução for devolver à fonte faça um belo pacote de presente e mande entregar ao seu agressor, mas tome as precauções necessárias, não vale “pagar mico”. Vingancinha branca até pode, mas não deixe que evolua para um sentimento mais forte de ódio ou rancor. Isto só faria sofrer mais. Dizer as si mesma “não gosto de estar me sentindo assim”, olhar-se no espelho e conferir com sua própria imagem seus sentimentos, colocar-se nos trilhos e seguir em frente. Passou.
É, meninas, acho que andei lendo muitos livros de auto-ajuda, mas como sentir raiva é coisa por demais humana não tem mal nenhum a gente refletir sobre isto.
Pensando bem, também solucionamos nossas pendências afetivas e redimimos nossas emoções negativas quando as encaramos, corajosamente

AMOR E A PAIXÃO




“O céu está parado, não conta nenhum segredo; a estrada está parada, não leva a nenhum lugar. A areia do tempo escorre entre meus dedos. Ai que medo de amar,”
( Vinícius de Moraes)
O amor e a paixão são sentimentos sempre presentes na vida de qualquer ser humano. Ninguém vive sem amor. Ama-se uma mulher, um homem, um deus, a si mesmo, ama-se o filho, o pai, a profissão, a ausência, a flor, o desejo de amar. Ama-se na saudade, na dor, na alegria.
Por ser o amor um sentimento tão forte e envolvente sobrepondo-se à vontade, constituindo-se, inclusive, em algo assustador, sendo comparado por muitos, à própria morte. É vasta a produção literária sobre o tema, em todas as línguas. . Homens e mulheres imprimiram em palavras a expressão do seu amor e toda força arrasadora que ele possui. Capaz de levar o ser humano a cometer todos os gestos, ganhar, perder, sorrir, chorar, querer e não querer viver e morrer, vivenciar todas as contradições de que é capaz sua natureza. Como diz Oswald de Andrade, “O homem é um animal que vive entre dois grandes brinquedos: o amor onde tudo ganha e a morte onde tudo perde.” Visto assim o amor é sinônimo de vida, pois opõe-se à morte, à solidão. Amar é ganhar, crescer, evoluir. Não amar é morrer. É preciso vivenciar o amor se quisermos viver em estado de felicidade, de plenitude.
Por tudo isso o homem vive em busca do amor e tudo que mais deseja é ser desejado por outro ser humano. Todos conhecem a dor “da ferida que dói e não se sente”, já queimaram no “fogo que arde sem se ver” (Camões), “ouviram estrelas” com Olavo Bilac ou simplesmente cantaram com Zezé de Camargo e Luciano”que mexe com minha cabeça e me deixa assim”. Princípio unificador do cosmos, segundo filósofos gregos, êxtase celestial, doce tormento entre outras definições. Por ser assim tão poderoso, o sentimento do amor vem merecendo a atenção, até mesmo dos estudiosos do comportamento humano que, na tentativa de objetivá-lo, descobriram que há todo um processo hormonal ativadores dos impulsos amorosos quando alguém se encontra sob os efeitos da paixão: dopamina, norepinefrina e feniletilamina se derramam como cascatas poderosas ao longo dos nervos, espalhando-se pelo sangue, gerando reações comportamentais até mesmo perigosas. Visto assim, o amor se constitui em uma força independente e incontrolável, quase doença, loucura talvez. Que culpa têm, então, os que matam ou morrem por amor?É por ele ou pela falta dele que passa o fluxo da vida e da morte. Pobres de nós que já nascemos com a marca da trajetória impressa em nosso código genético, uma bomba capaz de nos implodir a qualquer momento. Entretanto vamos amando pela vida afora, invejando os namorados que vemos trocando afagos, abraços e beijos sem se importar com o custo de vida nem com a fome do mundo. Quem está em estado amoroso não vê, não pensa , não sente fome nem frio, o céu é sempre azul as noites todas estreladas.
Por isso é tão difícil carregar o estigma da exclusão amorosa, a humilhante condição de não-amados que os rejeitados conhecem Mas é sempre bom pensar que tudo pode se modificar em segundos, que o amor pode chegar com a rapidez e de forma surpreendente como explodiram as Torres Gêmeas. Afinal essa é uma das grandes armadilhas do amor “chegar quando menos se espera”.

A CRUELDADE DE SER MULHER


Volto ao tema da "crueldade" por me parecer inesgotável.
Qualquer coisa pode, em determinado momento, ser cruel.Mulher é sujeito e objeto de muita crueldade.
É cruel ser bonita, ser jovem, inteligente, regada a hormônios, feromônios, progesteronada e anfetaminada. Portadora saudável da vida e da fertilidade
Nada de errado nisso. É a fase da juventude, das paixões desenfreadas , da alegria e dos sonhos. É quando parecemos eternos. Tudo podemos e tudo queremos,
afinal pensamos que a velhice nunca nos atingirá, como se fôssemos vacinados contra ela. É coisa da vovó. Ela que se vire, problema dela e de quem é velho.
Que crueldade, não com os mais velhos porque esses já estão noutra. É com aquele corpinho perfeito, uns mais bonitos outros menos, mas todos no melhor da hora.
O tempo, o velho e impiedoso "senhor da razão" passa e traz com ele os efeitos da lei da gravidade, das nefastas exposições ao sol em busca daquela corzinha de pecado,
a gravidez de quase todas, as noites mal-dormidas, a dupla jornada de trabalho e outras mazelas que só às mulheres são impostas.
Fazer o quê? Algumas, cuja situação financeira permite, vão a busca das cirurgias plásticas e acomodam litros de silicone em bundas caídas e seios murchos e dá-lhe "botox",
dentes implantados, tinturas nos cabelos e por aí vai. São tantos os recursos que o mercado oferece. É a indústria da juventude eterna, tão amplamente sonhada. Melhor ainda se juntar-se a isto longas e penosas caminhadas, de prefarência usando tênis redutor de impacto e belas malhas de preço bem alto.Dietas, academias, massagens, muitos cremes. Tudo junto pode tirar um punhado de anos do visual. Permite até o uso daquele “baby look" da filha e daquele "jeans" apertadinho .Parecem irmãs, muitos elogiam.E o ego?Vai bem obrigada.
Pareço despeitada dizendo essas coisas, mas confesso que já fiz um pouco disso e só não fiz mais porque o dinheiro não deixou. Hoje me pertgunto se vale a pena tanto investimento e tanto sacrifício.
Vejo todos os dias mulheres que não reconheço. Até colegas de escola, sempre inesquecíveis, passam por mim sem que eu junte o rosto de hoje ao do tempo do colégio. A cara é outra, dentuça, lábios grossos, repuxadas, parecendo um "Fusquinha" reformado. Muitas até bem bonitas, mas se terem conseguido quase nada do que foi no modelo original.Sorriso, então, parece que foi modificado com grampeador.
A velhice é inevitável. Só não envelhece quem morre antes. A frase é popular e não é minha, mas nem por isso deixa de ser verdadeira. Envelhecemos porque vivemos e se vivemos temos que arcar com as consequências. Não precisamos ir para o ferro velho, isso seria injusto demais com as mulheres mais velhas. Há muitas formas de se encarar a idade com altivez e dignidade, com estilo próprio, cuidando da saúde da beleza madura que vemos estampada no rosto de tantas por aí. Cabelos bem tratados (cabelos é determinante), dentes brancos, unhas feitas, de preferência mais curtas (unhas tipo garras comprometem qualquer visual). Ser elegante, ostentar a sabedoria que o tempo nos dá, vale mais do que ser gostosa. Elegante podemos ser enquanto vivermos, mas permanecer gostosa fica muito difícil e cruel para não dizer ridículo
Bom que temos escolha, já que da crueldade de envelhecer ninguém escapa. Ser sujeito de sua própria história e não meros objetos de consumo comercial e de homens carecas , barrigudos e culturalmente
convencidos que a eles foi dado e reservado o direito as mais belas e jovens fêmeas da natureza, meros objetos de prazer , permutáveis , passíveis de serem trocadas por um modelo mais novo .
Hoje é domingo e a saudade da minha vó me assaltou. Vontade de comer a comidinha que ela fazia, de deitar no colo carinhoso e acariciar aqueles cabelinhos que sempre conheci brancos e presos na nuca.
Um pote de amor e sabedoria que me foi dado como exemplo de vida. Acho que vou querer envelhecer assim sendo um doce vovozinha de colo macio e fala mansa. Mas será que a mídia vai deixar?

Conversas de domingo
Uma coisa é o que se é, outra é o que os outros pensam que somos e outra é o pensamos que somos . Isso dá a dimensão da complexidade humana.
Conhecer-se é uma tarefa muito complicada. Para muitos até impossível, pois demanda em se estar aberto à visão dos nossos próprios defeitos,
coisas que não gostamos de admitir , principalmente diante dos outros , mas também para nós
mesmos. Nossa tendência é sermos complacentes com nossos defeitos e ver nossas qualidades em primeiro lugar. Isso nos torna vulneráveis. Somos educados para o certo e o errado e aí a flexibilidade é mínima .Aquilo que nos ensinam desde a infância é a mala pesada que carregamos pela vida afora. Chega a hora que o peso torna-se insuportável e precisamos aliviar a bagagem , senão como viver?
Poucas são as pessoas que conseguem buscar dentro de si a coragem suficiente para aliviar esse peso, transformado com o tempo em culpas e medos, dois perigosos acompanhantes que nos perseguem por toda vida. Quanto mais culpas mais medos. É o terror instalado nas pessoas impedindo-as de viver suas experiências, de usufruir de seu direito à liberdade e consequentemente de serem felizes;
Foi assim comigo e acredito ser com todo mundo.
Tive que aprender a diminuir a carga da minha mala. Muitas vezes me desfiz de peças que mais tarde percebi que faziam falta, mas só restava perguntar a mim mesma em que ponto do caminho eu as havia jogado fora e em que lugar estariam hoje e, se as encontrasse, qual seria o estrago que o tempo fizera nelas.. Melhor seguir adiante e tentar acertar. Eu disse "tentar”, pois é isso que se faz. É muito difícil ter –se certeza do caminho a seguir , da escolha melhor a ser feita em dado momento.
Há quem diga "que a vida é simples como um copo d'água" mas os conceitos que a educação nos impõe não nos permitem essa simplicidade toda. Acabamos por nos enredar na teia que primeiro nos é imposta e depois nós mesmos a reforçamos, com receio da opinião dos outros a nosso respeito. Uma das primeiras lições que nos ministram é a da subserviência , como se nossa sobrevivência dependesse do que pensam ou deixaram de pensar sobre nós. Livrar-se disto é onde reside a diferença que fará com que o resultado se altere mesmo que a longo prazo. E assim a vida vai se desenrolando.
O tempo passa , as marcas que ele deixa em nosso rosto aumentam, a mala até já não nos parece mais tão pesada.Mesmo que nossas forças já não tenham o vigor da juventude ,agora temos o suporte que vem da sabedoria , da vida curtida .Já não nos preocupa tanto a opinião alheia e tudo fica meio que parecendo ter sido em vão..
Mas é assim que é .Uma trajetória que nos torna pessoas melhores.Não há involução, afirmam os estudiosos. Não há como escapar das lições da vida., e neste processo de aprendizagem contínua é que formulamos os conceitos acerca de nós mesmos.Cada um de nós pensa algumas coisas de si, muitas vezes inconfessáveis. Temos medo de admitir quem somos perante o outro. Evoluir é também despir-se sem medo e sem culpa, é dizer a si mesmo que se conhece , que se percebe, que se admira e se admite. Nem melhor nem pior que seu vizinho de estrada, mas como alguém que soube a hora certa de jogar fora o que mais pesava na sua mala.

Inserida por deusadasaguas7

Ninguém pode possuir sem destruir! Nada te dei, nada te tirei.Queria a tua alma imortal. Me perdi na finitude do tempo num amor sem tempo. Foi sem começo, sem fim. Ficou na memória, imaculado, sempre vivo, sempre novo. Hoje pinga dos meus olhos como gota de orvalho na madrugada.

Sempre que passa mais um ano fica um pouco menor a distância entre o teu partir e o meu chegar.

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Há quem diga que as histórias de amor têm que ser tristes; eu acho que basta que sejam verdadeiras.

Será a Terra um planeta imperfeito demais para não abrigar um amor perfeito?

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Amar é compartilhar felicidade. Somos tão felizes eu e tu dentro do mesmo coração-o meu.

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Eu teria gostado de descansar contigo à sombra dos igarapés perto do arroio. Terámos trocado beijos suados e ficaríamos arranhados pelos espinhos das rosetas . Seria para ti minha primeira gota de sangue.Se eu pudesse reescreveria nossa história.

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Não posso te perdoar porque foste embora sem me dizer nada.

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Nunca soube dos teus defeitos nem das tuas qualidades; não nos traímos, não nos contamos mentiras, não nos maltratamos.E tudo ficou sem ser vivido.

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Sobrevivi a todos os meus sonhos desfeitos. Apenas deixei que fluisse em mim a certeza do teu amor.

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A travessia da vida oferece momentos de amor que são oásis de felicidade.

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