Marcos Fabrício Lopes da Silva
Aprende sofrer quem vive / Aprende ser forte quem sofre/ Sábio é quem não perde o pique/ Diante do vai e vem da sorte
AMIGO É MORADA
Amigo é a morada que nos abriga
Amigo é a mola quando estamos sem chão
Amigo é a janela para arejar nossa casa
Amigo sopra o olho para espantar o cisco que atrapalha a visão
Amigo anima festa quando estamos de luto
Amigo oferece ouvido de graça para ligações a cobrar
Amigo é o passarinho que lembra que a gente sabe voar
Amigo tem boca santa para proteger a nossa existência
Amigo é a surpresa mais esperada da vida
Amigo me esquenta com beijos e abraços
Amigo conta piada e põe a gente no meio dela pra história ficar mais engraçada
Amigo é o nosso grande testador
Amigo tem papo reto
Amigo é o nosso relações íntimas
Amigo divide o copo para os dois molharem a palavra
Amigo rasga o verbo se o ato é ruim
Amigo fala o que a gente precisa ouvir
Amigo deixa de passar a mão na cabeça para não levar embora o nosso juízo
Amigo conhece bem as nossas virtudes
Amigo recicla os nossos defeitos
Amigo é bom de conversa e de silêncio
Amigo dá muito mais toques do que explicações
Amigo conhece de dentro quem é você por dentro
QUERO FAZER AMOR
quero fazer amor
como a manteiga passada no pão dos famintos
quero fazer amor
como a chave que abre a porta dos desesperados
quero fazer amor
como o feijão que põe graça no arroz da feira
quero fazer amor
como o telefone ocupado com a sua inesperada ligação
quero fazer amor
como o parto normal dos nossos sonhos bêbados
quero fazer amor
como pular de amarelinha de uma perna só e de mãos dadas
quero fazer amor
como cão e gato entre os ratos
quero fazer amor
como a brisa anunciando a brasa
quero fazer amor
como o meio-fio está por um fio para ser reformado
quero fazer amor
como o azul da cor do mar despacha o azul do viagra
quero fazer amor
como o fantasma da ópera que resolve sambar na sapucaí
quero fazer amor
como as impressões digitais que se despedem dos dedos
quero fazer amor
como um gole de café me faz xícara
quero fazer amor
como a declaração borrada de batom e medo
quero fazer amor
como a mama me assanha e me ossanha
quero fazer amor
como a bola cheia de tanto zero a zero
quero fazer amor
como a guerra e a paz que tomam conta do formigueiro
quero fazer amor
como o galo que não dá as ordens no terreiro
quero fazer amor
como a fusão de tudo na função do nada
QUEM
quem leva vantagem
acaba saindo perdendo
quem cedo madruga
sempre acha que acorda tarde
quem dá lição de moral
é reprovado no exame de consciência
quem bate o martelo
se esquece que um dia foi prego
quem ganha no grito
perde a chance do grande debate
quem fala demais
escuta de menos
quem fecha os ouvidos
não sabe abrir a boca
quem chora de barriga cheia
não sabe o que é sorrir de panela vazia
quem é metido à besta
nunca é o bastante
quem molha as raízes
manda a seca pastar
quem filosofa com os espinhos
sente o perfume de todas as rosas
GULA DE VIDA
Nossa gula de vida
dispensa a ração da morte
pois deseja como cardápio
um banquete de esperança
Nossa gula de vida
dispensa egoísmo e solidão
pois deseja como cardápio
paz de espírito e comunhão
Nossa gula de vida
dispensa brutalidade
pois deseja como cardápio
educação e sensibilidade
Nossa gula de vida
dispensa pontapés e bate-boca
pois deseja como cardápio
cafuné e beijo na boca
JUSTIÇA CERTA
P/ Taty
Bater o martelo
faz doer a cabeça do prego
Na lábia legal constituída
por códigos de sabedoria
conciliação entre as partes
para a alegria do inteiro
Sem essa de vigiar e punir
Na tribuna do zelar e compreender
fazer direito
compreendendo o esquerdo do mundo
* Marcos Fabrício
TRIGONOMENTIRA
Ontem Quadrado paquerou Triângulo
Percebeu que Hipotenusa saiu do Raio
Cateto falou mais alto
Quadrado saiu pela Tangente
Redondamente enganado
Triângulo ficou na água de côco a ver Caymmi
brasil caindo sete
e levantando oito
um vexame para a eternidade
não é perder pra alemanha
mas tomar goleada
todos os dias
da aquelamanha
AMADA
Você conhece todos os meus segredos
Você compreende o meu mais profundo escuro
Você pega na minha mão,
para não atravessar a rua sem olhar para os lados.
Você fica comigo debaixo da cama até o medo passar.
Você sabe da minha potência,
ainda que eu me ache impotente.
Você usa sua língua para me dar diversas lições de amor:
o beijo é um trem gostoso pra danar...
Você acha a minha loucura abençoada
e a minha curiosidade fundamental
Você me colheu como uma flor à beira de um precipício
Você se disfarçou de cega para me tirar da caverna
Você brinca com o meu fogo sem medo de se queimar
Você derreteu o maior dos meus gelos: a timidez
Você quer sempre se esquentar no meu corpo-cobertor
Você esfria os meus ânimos com a brisa da sua calma
Você joga comigo uma espécie de xadrez sem xeque-mate
Você me ama na cama, na fama, na lama...
Você é mais você comigo
e eu sou mais eu com você