Marcos Decliê
Iguais
Somos todos iguais, mas diferentes
Animal de nome gente
Sensivelmente construímos nós.
Feitos de barro e varias misturas
Às vezes brando,
Às vezes a própria loucura
Insanos no amor e na arte
No que pertence a nós
Ou a outra parte
Somos todos iguais, mas diferentes de tudo
Exagerados, por muitas vezes mudos
Submisso ser que aprisiona a alma
Na luz da razão da nossa própria calma.
Somas a trilha sobre a qual o amor se move
Aprendendo a viver depois que se morre.
No caminho das pedras avistamos a luz
A cor da razão que a vida traduz.
Somos a chave que abre o caminho de nós mesmo escancarando as portas
dos nossos medos,
Libertando do intimo toda dor
Pra descobri que somos frutos do mesmo amor.
Marcos Decliê
Passageiros do Tempo
Somos passageiros do tempo
Amanhã voltaremos pra casa,
Caminhando sob estrelas
Reflexos de nossa jornada.
Quem sabe como caminhar, vai longe
Constrói sua própria chegada
Espalha o bem pelo bem do amor
De flor em flor,
a semente foi germinada.
O caminho da volta estar pronto
Para a nova viagem
Mas no trem do futuro
Não precisa bagagem.
Que, em nossa passagem aqui
Aprendamos a viver o amor
Para que se possa evoluir
Bordar o caminho de flor,
Doar o bem e dizer amém
Obrigado Senhor.
A cada vida uma aula nova
Passo a passo na estrada
vou seguindo a multidão.
O caminho é cheio de provas
Uma passagem para evolução,
O fruto que colheu é da videira
Que você plantou
Amargo ou doce tem o teu sabor.
Marcos Decliê
Espinho na rosa
Sem ter você sou todo pranto
Sou a voz do canto que chora
A ausência da flor
Sem ter você sou qual fevereiro
Sem Carnaval a festa acabou
Sem ter você sou chuva lá fora
Sou o passarinho que não beija flor
Sou a falta de amor
Sou a Bahia sem Alegria
palavras sem poesia
Sem ter você sou seca no chão
Sou dor cortante no coração
Sou a própria solidão
Sem ter você sou a fúria do medo
Sou ser sozinho na multidão
O desafino da canção
Sou nota sem som, música sem tom
Sou o espinho na rosa
Sou o rosa mas tenho espinho
sou um verso ruim
O inverso de mim
Sem ter você sou nada
Sou a estrada sem fim
Oração sem fé
Marcos Decliê
Fuga
Eu queria fugir para bem longe
lugar qualquer onde ninguém
me alcance
Abriria as portas do meu coração,
deixaria entrar a emoção
pintaria de azul o negrume interior
nesse dia então, eu conheceria o amor.
Eu queria fugir para bem longe.
Das coisas insanas do mundo,
do abismo profundo em que
minha alma se perdeu.
Queria fugir do medo que me atormenta
do egoísmo que lamenta a falta do EU
no refletir do espelho
Eu queria fugir para bem longe.
Da violência desesperada que mancha
a paz de sangue
Da Felicidade alucinógena que
as drogas traz
Mas, que alegria é essa
que não traz paz
Eu queria fugir mas não sei para onde.
Se tudo que me atormenta
não está lá fora, está aqui,
dentro de um ser intranquilo
que nada entendeu e se perdeu
nos seus medos profundos
Na encruzilhada do mundo do seu eu
na decrepitude social
Marcos Decliê
Disfarce
Eu rio para não mostrar
a lágrima no coração.
Canto para disfarçar a solidão.
Eu expresso o amor para não mostrar
que o meu amor não existe,
que no meu interior tudo é triste.
Eu falo dos meus sonhos
mas sei que minha realidade é esta
Novamente estou aqui tão só
no fim da festa
Eu me encanto com a vida
para não mostrar que minha vida
é um recanto de ilusão
Eu vejo pessoas se amarem
falando de paixão
mas meu destino é ser tão só,
eu e a solidão
Eu me rendo a beleza de uma flor,
Eu rio para não mostrar
que meu riso chora lágrimas de dor.
Se você me encontrar sorrindo,
Ajude-me
Bicho do mato
Bicho do mato
Criado no meio do mato eu sou
Quase não tenho leitura nenhuma
Pra saber decifrar as farsas da lei
No mato sou tal o rei da selva
Sou de pouca doçura
Quase não tenho leitura
Mas com a etérea natura
Aprendi a me harmonizar
Bicho do mato cansado de tudo,
De ver gente caída no chão
Por causa de gente que não tem coração.
No mato nois é amigo de tudo
No mato nois morre de morte morrida
No mato nois colhe mato
Para cura da ferida
Eu sou assim meio rude
Mas a minha virtude
É saber conviver pacificamente
Com a essência das coisas de Deus
Programado
Eu, Eu... Eu vi...
Eu vi minhas poesias escorrerem
Entre os dedos das mãos
Descobri no meu mundo
A inconstância do ser a vagar na razão
Movimento perdido, espírito adormecido
O desertar de um corpo
Eu, eu...
Eu era a seta
Mas não acertava o alvo
Por não estar plugado
Entre o mim e o EU
Espírito e alma, amor e calma.
Me procurei em mim
Mas eu não estava lá
Dei de cara com o vazio
De minhas angustia
Descobri que ao procurar
Nem sempre a gente
encontra o que busca.
Tudo isso é fruto do medo
Implantado em nós
Somos muitos, mas não podemos
amplificar nossa voz.
Eu, Eu...
Qual robô eu era programado
pra dizer sim ou não
Pra satisfazer você,
Mesmo que ferisse a verdade
do meu coração.
Em vez de Deus, consultamos Freud
Somos mantra do que pode
ou não pode.
Maquiagem a cobri semblantes triste
De atores tristes de um filme triste
Entre a razão e o teu amor
Se eu tivesse o dom
De cantar no mesmo tom
Te cantaria assim:
Como as flores cantam os campos
Como a voz em tom de enconto
Silenciaria o meu pranto
Se eu desafinasse de repente a melodia
Te angústia ria, pois não me aceitas
como eu sou
É como se tua estrutura
Me roubasse a fantasia.
Tua poesia me cala as palavras
E não queres ler o meu silêncio.
Sinto que tua mágica te falha
Pois não aprendeste a fazer truques
Quero que o meu coração
Pulse o teu sangue
Minha voz fala a tua voz.
Eu queria fazer desabrochar
do teu sorriso,
A essência de uma flor
Me perder entre a razão e o teu amor.
Pensamento ou Programação?
O que você pensa você acha que
É pensamento seu.
Você foi programado e ao menos
Se quer percebeu
Do que está em si, em se foi forjado
A várias mãos,
Você é construção paulatina da revolução.
Comum, comum a todos, comunismo
Você acha isso comum
Uma mentira muitas vezes contada
Nunca será verdade em lugar nenhum.
Você foi enganado
E o que tem em você
São frutos de uma programação,
Corrupção da linguagem
Dessa doutrinação
Mexeram com sua psique
E o tornaram robô repetidor
Cativo de uma ação oculta
Que nem ao menos se quer
Você percebeu,
Que o mecanismo te programou.
Num sistema de redefinição
Narrativas e propaganda
Nessa senzala ideológica
Escravizando tua opinião.
E com olhos vendados
Você segue imerso no breu,
Num imbecil coletivo
Achando que tudo é
Pensamento seu.