Márcia Tiburi
Aquela bondade que, na verdade, acoberta uma maldade sem igual. A bondade entre aspas, que causa efeitos maléficos e que não se responsabiliza pelo que faz. Efeitos em cujo fundo se pode perguntar se não reside algo de muito maligno na forma de uma ideia ou princípio que é pregado contra o outro mascarando-se de ser a seu favor.
Diz Marcia Tiburi:
“Sem pensamento não há diálogo possível nem emancipação em nível algum. Se não houver limites para a idiotice, resta isolar-se e estocar alimentos”.
“Se levarmos em conta que falar qualquer coisa está muito fácil, que falamos em excesso e falamos coisas desnecessárias, um novo consumismo emerge entre nós, o consumismo da linguagem. O problema é que ele produz, como qualquer consumismo, muito lixo. E o problema de qualquer lixo é que ele não retorna à natureza como se nada tivesse acontecido. Ele altera profundamente nossas vidas em um sentido físico e mental. O que se come, o que se vê, o que se ouve, numa palavra, o que se introjeta, vira corpo, se torna existência”.
... um vazio repleto de falas prontas.
Não é um vazio silencioso,
espaço aberto para buscar o outro,
o inusitado, o surpreendente.
Mas sim um vazio barulhento,
abarrotado de clichês,
de frases repetidas e repetitivas,
usadas para se proteger do pensamento. Os lugares-comuns,
neste caso específico a constante invocação de Deus e de leis bíblicas, são usados como um escudo contra a reflexão. Todo o esforço é empreendido para não existir qualquer chance de pensamento, ainda que um bem pequenino.
O motivo pelo qual amamos é inversamente proporcional ao porque odiamos. No primeiro caso construímos, no segundo, destruímos.
Por trás do ato de definir está a tentativa de dominar o que é estranho e assim, transformando-o em algo familiar, eliminar ou controlar sua estranheza.
A complexidade do ato de escutar está em que, por meio da escuta, entro em outros processos de conhecimento. Torno-me outra pessoa.
O fascismo é o lado terrorista do capitalismo, ele incita o ódio para exorcizar o medo.
Todo limite é uma experiência que se formula na relação com o outro. Entre mim e o outro há sempre um espaço imponderável. Neste vazio entre eu e tu, a melhor coisa a ser colocada é o respeito. Se o limite é a experiência que permite saber até onde se pode chegar e, com sorte, a protetora dor de saber aonde não se deve ir, o respeito é a única de todas as experiências que não pode ter limite.