Marcia Pfleger (escritora)
Astros do Momento
céu sem estrelas, noite sem lua
o enxame de vagalumes proclama
seus 15 minutos de fama
O que dá nas ruas, chérie
Fumaças de jardim
me engolem
Espirros e espirais
de pólen
Andar nas ruas
é catar alergias
ou procurar alegrias
achar acasos que permitam casos,
caso de repente, você...
Invento cenas e ando nas ruas
como num cromaqui.
Se der de cara contigo
numa floricultura
direi de cara: hello, chérie!
Só pra encarar seus olhos
de clorofila
E vou planar silenciosa,
em fotossíntese,
numa respiração de folha
E você mais irresistível
do que plástico-bolha
(pra me lembrar
o quanto eu sou
sinestésica)
E vou dar bandeira. E você dá o fora.
E já deu minha hora.
Agudíssimo
inútil consultar o tarô
ou o dentista
sempre haverá esta pinça
no riso
um Louco diante do abismo
uma broca estridente
reverberando você distante
você além do alcance
do google maps
você entre carnes e arcanos
com celular sem conexão
enquanto a dor fica intolerável
enquanto seguro suas fotos
de encontro ao coração
como eletrodos
enquanto sinto
que me arrancam os nervos
todos
Moça do brinco de pérola
talvez eu brinque de você
com suave ironia
e um cachecol no pescoço
deixe você ficar no sofá
com um violão vira-latas
desde que não roa meus sapatos
aqui é tudo pequeno, quarto
conjugado, quisera loft
numa garagem velha
não tenho paisagem marítima
da janela
mas a gente pode ver a lua
afundando num aquário