Marcelo Ronconi
O cidadão expõe uma imagem de um jovem sangrando por ter sido espancado por policiais... Em seguida expõe uma de Mussolini destroçado e celebra. É claro que falamos de um inocente que apanhou e de um tirano que foi massacrado, mas é de se pensar até onde isso procede, é coerente. Nossas pulsões de morte podem ser completamente anuladas, talvez em meditações em lugares ermos, tal como monges budistas o fazem, ou isso é impossível, e sempre teremos de canalizá-las para as escórias, os flagelos, da nossa espécie? Pensando de modo honesto, talvez o ódio esteja em todos nós tal como o perfume em algumas flores.
Foi terrível, reconheço, mas a borrasca passou e agora estou à beira-mar olhando para o oceano revolto que me sacudiu até poucos minutos atrás.
Crise de ansiedade repentina, semelhante à famosa síndrome do pânico, é um fenômeno impressionante. Quando dura mais de meia hora, sua tristeza e suas neuras com a própria saúde chegam a galope, e a falta de ar vem só para coroar seu desespero.
Li, refleti e escrevi tanto sobre a morte que quando alguém fala para mim da "alegria de se ter Deus no coração" eu costumo pensar: "O termo técnico para isso é 'prolapso da válvula mitral'".
Há quem ainda se surpreenda com quem rasga o próprio dinheiro ao enriquecer pastores e a Igreja através dos apelidados "dízimos", mas esse espanto surge com qual fundamento? Aquele que prostitui a própria alma (consciência) para uma ideologia é capaz de mastigar moedas caso o líder do seu rebanho assim ordenar.
Em 2013 ainda ter gente levando a sério a figura de Jesus como "filho de Deus", e não tão-só como um homem que se rebelou e foi abatido, é demais pra mim...
Um atormentado quando tem um dia pacífico até se estranha a ponto de sentir saudade da sombra que dia a dia o acompanha.
Engraçado mesmo é ver figura comunista ansiando por fuzilamentos quando "estourar a revolução" e no entanto dizer que é contra a pena de morte e que o Estado jamais deveria ter o direito de eliminar uma vida.
Quando o sofrimento vem
Irrompe nos convencendo de sua eternidade.
E numa tarde fria, sem mais,
O tempo o destrona, e eis a felicidade.
Dos filósofos pessimistas que mais leio nenhum viveu para ver as bombas nucleares, nem as de hidrogênio, e ainda que soubessem dos grandes massacres do passado, nunca puderam estudar o tétrico Holocausto. É por isso que respeito tanto estes verdadeiros profetas.
Caminho diariamente com um bloco de anotações no bolso e uma caneta. Enquanto distraio de mim mesmo nesse processo terapêutico, anoto o que me transborda do que costumamos alcunhar como "alma".
Feministas fervorosas são tão interessantes quanto fanáticos religiosos: quando morrem não fazem falta para ninguém.
Quem a sério coloca na mesma balança um ser humano e uma ratazana precisa de tratamentos psiquiátricos.
Gosto de ver gente com piedade por pernilongos, gente perdendo o dia porque viu um rato atropelado, gente que nos quer forçar a crer que o abate de um boi, com uma pistola de ar, equivale ao fuzilamento de um bebê. Eu gosto destes tipos cada vez mais comuns. É quando eu discordo rindo, e se gargalho assim não é por escárnio, mas por saber que posso sim estar mal, mas demente ainda não.
Enquanto vejo ateus otimistas (?) dando para si razões de acreditar na "humanidade" eu por minha deixa conduzo os corajosos ao niilismo mais desesperador. Meu trabalho: carregar caixões.
Quando se toma conhecimento dos desarranjos de todas as coisas não existe ideal que permaneça incólume.
"O Brasil é um país que apesar de laico, é religioso". Traduz-se com precisão: "O Brasil é um país sério no papel, mas com um povo irritantemente ignorante".