Marcella Virzi
Gosto de vida com poesia, gente que retorna telefonema, Whirling Dervishes, flerte, me perder no meu próprio riso, música que não entendo, roupas que conversam, livros dos quais não me canso e, me cansar de tanto trabalhar. Gentilezas. Experimentar. Gosto de ser curiosa e escrever cartas. Gosto de dizer sim e obrigada. Gosto de papo cabeça, gente profunda e maluco beleza. E de impulsos, paixões, ficar na cama. "Room service". Gosto de ter segredos que se escondem nos meus lábios, e mistérios, desafios. Gosto de cerejas bem doces e oportunidades. Ouvir histórias, lendas e, batalhas épicas entre o bem e o mal. Certos sons e seus tons. Filmes. Fotos, abraços, tinta, teatro. Fogueiras. O mar. Gosto de imaginar. E escolher. Olhar dentro dos olhos de alguém. Física quântica, praia vazia. Gosto de compreender, do dom de ver, e de cílios que parecem vassouras. Gritar na montanha russa, filosofar e me sentir amada. As vezes ser olhada outras ignorada. Eu gosto de economizar água e de latim. E buscar a beleza em cada horror que me comove, eu gosto. E degraus que sobem ao desconhecido, jazz. Bibliotecas.Tambores tibetanos e dos sentidos das palavras. Gosto de saber que o Martin Luther King existiu. Gosto de solidão, caos e gente. Crianças sorrindo. Abu Simbel, luz de velas. Chopp gelado. Gosto de me apaixonar, acreditar, tentar, falar e ouvir. E falar mais um pouco, sozinha. Acordar. Eu gosto do céu. Gosto de aprender logo depois de errar. Gosto de como pétala, abrir, e depois fechar.
Quando ouço uma frase com a expressão ”como se não houvesse amanhã”, dita com ironia, questiono. Afinal, é loucura viver assim?
Há de fato um confortável amanhã? Impossível saber o que me reserva o “daqui a um minuto”. Uma das minha poucas convicções é que cada instante é sagrado.
A gente se força a acreditar que existe algum tipo de segurança na repetição, mas todos os esforços da experiência humana não conseguiram prever nada além de probabilidades.
Nada na história do pensamento, da expressão, religião ou mesmo da ciência se aproximou de entender o inexorável. Não há conforto aí! Tanto vale abandonar o conhecido e tentar o diferente.
A vida, nesse exato momento, é nossa única certeza.
Os acontecimentos parecem convidar a espremer de cada minuto o prazer da experiência de existir.
Eu não sei o que vai acontecer “depois”, mas mesmo surrada pelas meus medos e machucada pelos leões de todo dia, eu escolho acreditar na vida e na importância vital do meu papel social na verdade absoluta de que haverá um amanhã para alguém, mesmo que não seja eu.