Marcella Prado
Diga que estou pagando o preço por fingir que minha vida voltou ao normal, e que agora tenho que chorar, reclamar sozinha e escrever para me acalmar. Lembre o coração dele que ainda o amo, que ainda sei cada detalhe, que conheço os gostos, os medos e algumas vontades antigas
Diga também que quero voltar pra onde o conheci, mas que ando com medo, com muito receio desse choque passado-presente
Chove, chove. Tempo nublado, inverno recém começou e ainda não vi o meu amor. Ainda não sei como ele está. Não sei se ainda gosta de comer arroz com gotas de limão, se ainda adora chocolate com cachaça, se prefere o calor. O tempo passa, se arrasta e me leva. As estações se vão, se apressam e tentam deixá-lo para trás.
Sinto saudades dos detalhes. Sinto falta do cheiro amendoado, da fragrância do perfume, que misturado à tua química tornava-se único, diferente.
Ainda consigo me lembrar porque te amei. Você se lembra também? Te amei primeiro pelo sorriso, pela capacidade de resolver tudo tão facilmente, pelo teu jeito de correr, pela tua maneira de untar a forma, pela expressão caída, pelo andar maroto, pela tua felicidade transparente.
Vivemos em mundos tão diferentes que não é mais possível pensar em ‘nós’. Agora sou ‘eu’ e ‘você’, ‘eu’ e ‘aquele lá’, ‘eu’ e aquele-que-não-deve-ser-lembrado’
Acho que na verdade estou ainda amando o amor, aquele que senti contigo, que está morto e que insisto em ressuscitar – por prazer, por tortura, por fraqueza.
Devo amar aquela felicidade que senti ao teu lado, estou apaixonada pelo que não retorna mais, pelo ausente, pelo que foi e não mais será.
Se faço um, não faço outro. Se bebo, não estudo. Se estudo, não bebo. Nunca tenho equilíbrio. Se amo, amo demais. Amo até querer morrer. Se odeio sinto raiva, tanto ódio que quase espumo. Na minha vida não existe meio termo. Só eu que sou meia e incompleta.
Eu sinto como se eu tivesse um rombo gigantesco e em carne-viva na região do meu coração. Ás vezes eu esfrego, cubro, ponho um casaco pra ver se me esquento e me acalmo, mas o frio vem de dentro, começa pela parte mais baixa do meu estômago e invade minhas paredes abdominais.
Se você tinha que sair por 5 minutos, eu sentia saudades. Se estávamos de noite à toa eu te convidada para jogar damas – nunca ganhei uma partida de ti, se lembra?
E de que me importa a quantia gasta? Nada importa. Teu sorriso foi mais compensador que qualquer moeda.