Manoel Thomaz Pereira
Amei-vos muito e muito ainda vos amo,
mãe querida, que aqui já não estais!
E quando rezo, as forças que reclamo
são tão somente para amar-vos mais.
Se eu vos invoco e a cada instante chamo,
é para ouvirdes meus saudosos ais;
quando imagem de santa vos proclamo,
é que outra o mundo não terá jamais.
De heroína e santa tendes a coroa
e estais sentada num altar de flores,
a mim sorrindo como quem perdoa.
Assim vos amo, com paixão de louco,
porque ainda alcanço que por vossas dores
o Céu não basta, todo o amor é pouco!
Eu não mais posso sopitar a lira
ante esta mágoa que o meu ser abrasa;
assim, nos versos, tudo o que me inspira
é, gota a gota, a dor que se extravasa.
Entre nós tudo está em decadência;
os homens têm o vício da baderna;
política imoral; não há decência;
egoísmo somente é que governa.
Patriotismo, hoje, é só conveniência
para vida faustosa e bem moderna.
As boates têm o culto da existência;
há repúdio do campo e da caserna.
Há caos em tudo, e já se vê que ao povo
uma descrença doentia assoma,
induzindo-o a um caminho novo.
É que, enquanto apodrece num monturo
o critério dos homens de Sodoma,
a doutrina da Rússia tem futuro.