Malba Tahan
uma mulher tanto falou que seu vizinho era ladrão, que o rapaz acabou preso. Dias depois, descobriram que era inocente. O rapaz foi solto - e processou a mulher.
“Comentários não causam tanto mal”, disse ela para o juiz.
“Escreva os comentários num papel”, respondeu o juiz. “Depois pique, e jogue os pedaços no caminho de casa. Amanhã, volte para ouvir a sentença”.
A mulher obedeceu, e voltou no dia seguinte.
“Antes da sentença, terá que catar os pedaços de papel que espalhou ontem”, disse o juiz.
“Impossível”, respondeu ela. “Já não sei onde estão”.
“Da mesma maneira, um simples comentário pode destruir a honra de um homem, e depois você não tem como consertar o mal”, respondeu o juiz, condenando a mulher à prisão.
"Esqueci muitas palavras , vaguei em bosques noturnos , quebrei espelhos de cobre "
-A sombra do Arco Iris -
Acautelai-vos contra os juízos arrebatados pela paixão porque esta desfigura muitas vezes a verdade. Aquele que olha por um vidro de cor vê todos os objetos da cor desse vidro: se o vidro é vermelho, tudo lhe parece rubro; se é amarelo, tudo lhe apresenta completamente amarelado. A paixão está para nós como a cor do vidro para os olhos. Se alguém nos agrada, tudo lhe louvamos e desculpamos; se, ao contrário, nos aborrece, tudo lhe condenamos, ou interpretamos de modo desfavorável.
"-Erra, por certo,
gravemente, aquele que hesita em perdoar;
erra, entretanto, muito mais ainda aos olhos
de Deus, aquele que condena sem hesitar."
(O homem que calculava)
MAIS AVISADO É O QUE MUITO PONDERA E POUCO PROMETE!
Era uma vez um rei chamado Iadava. Um jovem chamado Sessa levou-lhe um jogo constituído por um grande tabuleiro quadrado, dividido em sessenta e quatro quadradinhos, ou casas, iguais; possuIa 32 peças, dezesseis brancas e dezesseis pretas. Este era o jogo de xadrez. Maravilhado, o Rei resolveu recompensar o jovem pelo presente e solicitou-lhe que fizesse o seu pedido de forma a recompensá-lo. O jovem respondeu-lhe: Rei poderoso! Não desejo, pelo presente que hoje vos trouxe, outra recompensa além da satisfação que pude proporcionar ao senhor. Após o inconformismo com a falta de ambição do jovem e a insistência do Rei, para que ele pedisse o que fosse, um Palácio, ouro, etc, Sessa por cortesia faz o pedido ao Rei: dar me-ei um grão de trigo pela primeira casa do tabuleiro; dois pela segunda, quatro pela terceira e assim sucessivamente até a sexagésima quarta e última casa. Feito isto, o Rei chama seus matemáticos para calcularem o total de grãos necessários para cumprir a promessa. Assim feito, os calculistas após algumas horas, trouxeram-lhe a conta: era impagável. Correspondia ao número 2 elevado a 64, e do resultado tirado 1, o que é igual a 18446744073709551615. Este número de grãos era enorme e equivalia a uma montanha maior que o Everest. O Rei pela primeira vez ficava diante da impossibilidade de cumprir a palavra dada. Sessa, como bom súdito não quis deixar aflito o seu soberano. Depois de declarar publicamente que abriria mão do pedido que fizera, dirigiu-se respeitosamente ao Rei e falou:
"Meditai, ó Rei, sobre a grande verdade que os brâmanes prudentes tantas vezes repetem: os homens mais avisados iludem-se, não só diante da aparência enganadora dos números, mas também com a falsa modéstia dos ambiciosos. Infeliz daquele que toma sobre os ombros o compromisso de uma dívida cuja grandeza não pode avaliar com a tábua de cálculo de sua própria argúcia. Mais avisado é o que muito pondera e pouco promete!
(Malba Tahan - O Homem que Calculava)
Quantos há no mundo que, preocupados em fazer o mal aos outros, esquecem o bem que poderiam fazer a si próprio.
A ciência é uma grande montanha de açúcar; dessa montanha só conseguimos retirar insignificantes pedacinhos.
A matemática põe todos os seus preciosos recursos a serviço de uma ciência que eleva a alma e engrandece o homem. Essa ciência é a astronomia.
A matemática, senhora que ensina o homem a ser simples e modesto, é a base de todas as ciências e de todas as artes.
Há uma única ciência, a matemática, a qual ninguém se pode jactar de conhecer porque suas conquistas são, por natureza, infinitas; dela toda gente fala, sobretudo os que mais a ignoram.
A ciência é uma grande montanha de açúcar; dessa montanha só conseguimos retirar insignificantes pedacinhos.
E o tapete azul-claro?
(…) trazia, em caracteres cúficos (que só Beremiz saberia decifrar e ler) alguns versos que abalaram o coração do nosso amigo calculista (…) bordados por Telassim (...).
"Eu te amo, querido. Perdoa-me o meu amor! Eu fui apanhada como um pássaro que se extraviou no caminho.
Quando o meu coração foi tocado, ele perdeu o véu e ficou ao desabrigo. Cobre-o com piedade, querido, e perdoa o meu amor!
Se não me podes amar, querido, perdoa a minha dor.
E voltarei para o meu canto e ficarei sentada no escuro.
E cobrirei com as mãos a nudez do meu recato."