Mairany Cristina Machado
Às vezes eu me atento,
No auge do meu alento:
"Quero um futuro!"
Mas logo tudo fica turvo,
Escurece-se o céu, a esperança, a alma...
Às vezes gostaria de ser de marte,
Ir pra vênus, procurar acalanto na lua
Esquecer da vida dura e das lembranças obscuras.
A mesma esquisitice de sempre:
Alegre, porém, melancólica,
Triste, porém, feliz.
Um mistério exacerbado de sentimentos,
Sentidos turvos.
Eu sou o patinho feio do mundo,
O patinho feio mais bonito do qual já se ouviu falar,
E audaciosa
E modesta.
Escrevo isto sem rir!
Conto piadas que não surte efeito algum em mim,
Mas, faz surtar quem as ouve.
Pode ser que eu seja uma psicopata amante da luz,
Da boa,
A qual não enaltece mal, só promove o bem alheio e retém a escuridão para si.
Fumada, bebida e comida,
Eu sou tudo e nada!
Só estouro com moderação e pondero com demasias.
Gosto dos ruídos produzidos pelos flagelos do coração.
O mundo se opôs.
Eles viam semelhanças entre si. Havia uma comunidade significativa para eles, mas, não era bastante relevante para convencer quem os cercava.
Ele despertou num berço de ouro, enquanto ela cresceu na senzala sórdida da pobreza.
Ele frequentava os cárceres quistos por nobres e ricos. Ela vivia no mundo da lua.
Ele degustava bons vinhos, sabendo distinguir o valor de cada um. Ela se embriagava com líquidos baratos.
Ele pensava em tudo, racionava emoções, expunha só o que lhe parecia de certo bom senso. Ela era adepta da loucura e agia pelos impulsos do coração.
Ele aprendia algo novo todos os dias, falava sobre qualquer assunto, tinha embasamentos circunstanciais e científicos para tudo. Ela queria despir-se do conhecimento que adquirira, queria ser livre da pressão que lhe era imposta para que acumulasse informações.
Contudo, com tantas diferenças expostas e escancaradas, eles se assemelhavam, principalmente, na afeição um pelo outro e aquilo lhes parecia bastar.
Todavia, o mundo venceu. O mundo era mais forte. O mundo se opôs!
Ele pensava em tudo, racionava emoções, expunha só o que lhe parecia de certo bom senso. Ela era adepta da loucura e agia pelos impulsos do coração.
Não sabe o que dizer.
O coração queima e acelera, os olhos estão lubrificados por um choro que não cessa,
a emoção faz os pelos dos braços e das pernas arribarem, no entanto, a boca nada diz,
som algum sai de lá. A verdade é que o silêncio, ainda que nada atrativo desde aqui, agora está apelativo e dominante.
Beira a insanidade.
Contorce-se, movimenta o corpo estranha e incontrolavelmente de maneira brusca, como se não detivesse poderio sobre si. Espasmos súbitos e ligeiros!
Fita os olhos no vão de qualquer ponto. Com desfoque de ideias, não pisca nem consegue manter-se consiente por alguns segundos.
Tem derradeiras lembranças confusas e alusões sobre o porvir, porém, sem conclusões.
Parece ser uma overdose expontânea, cuja a causa ainda é desconhecida, indefinida.
Tanto conhecimento adquirido obscurece-se de repente, esvai-se, adormece nos atilhos cerebrais.
Fequentes são os sintomas descritos acima. Beira a insanidade.
Talvez não seja assim tão preocupante...
Talvez seja um dom desprover-se da lucidez.
Diz a mãe em forma de deus e Deus por intermédio dela:
Cuidarei de você!
Vou cuidar do seu jeito a cada gesto.
Vou ensiná-la a dançar, a cantar, a ler, a escrever.
Vou abraçá-la quando se sentir sozinha.
Vou ouvi-la quando tiver algo a dizer.
Vou protegê-la quando sentir medo.
Vou enxugar suas lágrimas quando estiver chorando e acolher seu pranto como meu também.
Serei seu ombro amigo, sua conselheira, sua alma gêmea, sua professora particular, sua guia... Enfim, serei sua e somente sua!
Diz a mãe em forma de deus e Deus por intermédio dela.
Sozinha, desnuda, livre do exibicionismo, da proposta ideal de ser e estar perfeita o tempo todo, a tristeza a corrompia. Tinha medo da solidão, das relações rasas. Sofria de amores, chorava de saudades, ansiava por mudança, por um milagre, por atenção e afeto. A insatisfação era predominante. Queria viver da coragem que possuía, queria experimentar novos sabores, a plenitude do vigor do novo, reencontrar e conhecer pessoas.
São frases sem norte, sem sentido, vindas de uma mente confusa e reclusa, de uma alma ferida e cansada daqui.
Saúdo a quem tem o poder mudar semblantes, de inspirar poesia, de extirpar preocupações, de acalmar pensamentos, de partilhar a luz que o guia, de exercer o bem com espontaneidade, sem ter a obrigação nem sequer a intenção de fazê-lo.
Não sente o corpo,
Perdeu os sentidos.
Incapaz de desvencilhar-se da proposta da própria mente,
Está fora de si!
Sentirem-se desconfortáveis, desalinhados, desajustados aos padrões que lhes são impostos, não é sinal de fraqueza, mas de que mudar é preciso, ainda que, a princípio, cause dor, e que o que impera é a vontade de alcançar paz.
Envelheci o suficiente para entender que quem tem paz na vida, independentemente de como se obtém, tem tudo.