Mailon de Lara Vaz
Eu li um tempo atrás, quando o Dalai Lama era mais jovem, ele estava se encontrando com um grupo de ocidentais e eles estavam falando sobre a falta de auto-estima, e ele simplesmente não conseguia entender isso, o que era aquilo. E eles tentaram explicar isso, e então ele deu uma volta no grupo e perguntou a todos: “você tem isso?” E a maioria das pessoas disse: “Sim”. [E o Dalai Lama disse:] “Oh, muito estranho, auto- estima".
Agora a espécie humana é a única espécie no planeta, claro, que tem um relacionamento consigo mesma. Onde [quando] você tem um relacionamento consigo mesmo - isso é normal. Mas o gato não tem um relacionamento consigo mesmo. Ou o pássaro não tem um relacionamento consigo mesmo. Ou a árvore não. Assim, pássaros, gatos, árvores, macacos, flores, nenhum deles tem problema com a auto-estima. E mesmo o gato mais feio não teria problema com a auto-estima. Não criou um secundário, um "eu da imagem" - mente criada. E uma vez que isso é criado, anda com você, ao seu lado ou atrás de você, ou onde quer que esteja. Você sempre anda com uma imagem mental de "eu" e você tem um relacionamento com isso. E muitas vezes você não gosta do que vê. Esse "eu-imagem"
Quando nos conhecemos apenas por meio do conteúdo, também pensamos que sabemos o que é bom ou ruim para nós mesmos.
Discriminamos os acontecimentos entre os que são "bons para nós" e aqueles
que são "maus". Essa é uma percepção fragmentada da unicidade da vida na
qual tudo está interligado, em que cada acontecimento tem seu lugar e sua
função dentro da totalidade. Contudo, a totalidade é mais do que a aparência
superficial das coisas, mais do que a soma total das suas partes, mais do que
qualquer coisa que nossa vida e o mundo contêm.
Por trás da sucessão de acontecimentos algumas vezes aparentemente
aleatórios ou até mesmo caóticos da nossa vida, assim como do mundo,
acontece de maneira oculta o desenrolar de uma ordem e de um propósito
superiores. Há um ditado zen que expressa isso de forma maravilhosa: "A
neve cai, cada floco no lugar adequado." Nunca seremos capazes de
compreender essa ordem superior pensando nela porque tudo o que
pensamos é conteúdo. No entanto, ela emana da dimensão sem forma da consciência, da inteligência universal. Ainda assim, podemos vislumbrá-la.
Mais do que isso, somos capazes de ficar alinhados com ela, ou seja, de atuarmos como participantes conscientes do desenvolvimento desse propósito superior.