Maiara E. Ribeiro Dias
Rebuliços no estômago não são necessariamente um possível encantamento por uma pessoa em especial, considerando que a cerveja social do final de semana também é capaz de provocar isso.
Não que eu não estivesse feliz. Não que eu não esteja feliz. Não que eu não goste de você.
Apenas não sou assim.
Esperei ansiosamente, como criança em véspera de Natal, que você me presenteasse com seu afeto, com sua paixão.
Ela sempre detestou mal-entendidos. Coisas mal acabadas. Se for pra ser, que seja! Mas que seja por completo. Nada de meio termo. Nunca. Ela era de extremos. Vivia a vida em corda bamba. Arame farpado e bambo. E gostava. Era o jeito dela, o que ela escolheu pra viver.
Aquilo tinha sido apenas um teste que ela ficou de recuperação, mas no final acabou conseguindo passar de ano.
Pena que histórico de relacionamentos não possuam a incrível opção "delete". Ela já cansou de "ctrl+c" + "ctrl+v".
É no detalhe que eu reparo. É no pingente do colar, não na roupa. No convocativo, não na oração. É no brilho, não apenas no olhar!
Sempre ela. Cazuza se achava exagerado porque não a conheceu. Com ela tudo tinha que ser ao extremo. Intenso. Sorria demais, chorava demais, sentia demais. Queria demais da vida. Bebia demais, falava demais. Um desses excessos lhe trouxe a atual ressaca. Martini? Sky? Não sabia. Não sabia demais. Mas não negava. Era muito autêntica, muito sincera, muito honesta. Não representava. Sabia, mas não gostava. Nem fazia. Tinha defeitos, é claro. Milhares. Mas nunca tentou negar ou se desculpar. Mas o mundo não aguenta verdades. O mundo não estava preparado para alguém como ela. Ela e toda sua bagagem emocional cheia de verdades, saudades, contradições. O mundo não a queria nem a merecia.
Ela aprendeu a superar de uma maneira mais bonita e menos dramática. Com menos lágrimas e mais tequila. E mais sorrisos e mais amigos.
Iniciam uma nova história de amor, dessas que ainda não dá para avaliar se acabará em festa de bodas ou consulta à terapeutas, mas ainda assim, bonita.
Mas não vale esquecer que tu prometeu seu coração à ela. (...) Ela acreditou, sabe? E doeu tu ter tomado ele das mãos dela como se não fosse nada. Ela superou, voltou a sorrir bonito, mas não significa que ela não se importa mais.
Tudo bem que o coração dela já adquiriu uma matéria um tanto elástica depois de tudo que já passou, mas ainda deve ser tratado com cuidado.
Existe o telefone que não toca, os amigos que se acomodam com a distância, geográfica ou não, os problemas que não se dissipam com abraços, a cegueira voluntária humana, a paixão que Platão resolveu inventar, o sentimento de bem-estar que não existe.
Por vezes, me pego fugindo. Junto minhas coisas, calço meu tênis e vou embora. Muitas vezes também esqueço de voltar.
Só pra dizer que conheço mais do mundo do que pensas e sei enxergar com outros olhos que não os meus. Só para as pessoas não desconfiarem e eu esquecer de como me sinto em relação a esse mundo torto. Só para gostar mais de mim. E de você.
Não gosto, não faço charme, compenso no drama. Mudo de humor rápido, não quero mais, chego atrasada e vou embora. mas eu volto, se for pra te fazer sorrir.
Prefiro os extremos, chegar aos limites, não tê-los, voar sem os pés no chão. Sempre tento chegar pelo meu modo e não sei ceder.