Mafê Probst
Eu aprendi, daquele jeito clichê mesmo, com o tempo, sentindo na pele, vivendo, amando, caindo, tropeçando, levantando que para ser feliz a gente tem que querer ser feliz. Quando a felicidade vem de dentro, não importa o caos que pulsa do lado de fora: nos tornamos inatingíveis.
Cansei de colecionar partidas.
É sempre um adeus engasgado na garganta.
Mal dá tempo de chegar
& já ensaio outra partida;
refazendo planos e contando os dias.
Vezenquando desmorona a incerteza vazia.
E viver a não-rotina me força engolir
interrogações que desconheço o nome...
Tenho buscado viver o aqui & agora. Coleciono partidas, mas não me partem mais ao meio: todo fim apresenta uma nova história. Traço trilhas por onde me chamam & busco ser o máximo que puder. Pondero pouco; vivo (de)mais. Guardei interrogações e pudores em caixas velhas, abarrotadas com outras fotos amarelas, tudo reflexo do tempo. Tanto foi e ainda é. Tanto pra ser sem apressar…
Tenho pensado muito sobre minhas escolhas.
Onde quero chegar? Quem quero ser?
De vez em quando é saudável a gente se lembrar que somos – e devemos ser – protagonistas na nossa própria novela da vida. Devemos parar para nos assistir, criticar, se emocionar e (why not?) se aplaudir. Pelas escolhas, pela coragem, pelos desafios.
A gente precisa aprender a se olhar – e se olhar com mais carinho.
Às vezes, não é uma questão de poder ou fraqueza; algumas coisas se tornam cansativas & nos forçam desistir.
Amanhã, meu bem, o tempo é só detalhe.
Porque hoje é sexta-feira e ela não precisa ter hora para acabar. Porque depois que o mundo se cala e todo mundo retorna para casa, o tempo para. Tudo estaciona e tenta se prolongar. É tempo de abrir uma garrafa de vinho, alimentar a alma com carinho e deixar o amanhã para mais tarde. Amanhã, meu bem, o tempo é só detalhe. Recheado de detalhes nossos e cheios de querer (de)mais.
Aceitar o fim dos ciclos. Tem livro que termina sem, de fato, terminar. Vezenquando algumas histórias acabam nas vírgulas,
Aprenda a me ler. Apenas leia. Gosto de me esconder nas entrelinhas, de escapar nas vírgulas, de me perder nos pontos. Eu me faço, refaço, pinto e bordo do jeito estranho e poeta que sei ser. Carrego comigo o mundo, as músicas, as lembranças de que, teimosa, não sei me desfazer e sorrio com chuva nos olhos, porque sempre tem algo pra se esconder. Maquiagem de graça essa, discreta como só o beija-flor sabe ser.
Gosto disso, dessa sensação de primeira vez que você me causa. Disso, de nunca me cansar em te olhar, de estremecer com intensidades, de sorrir tímida sempre que me desfaço e me derreter com as mesmas palavras ditas, com os mesmos detalhes vistos todos os dias, com as lembranças ainda tão frescas e sempre memoráveis antes de dormir.
[trecho de "Vamos brincar de mímica", Mafê Probst]
Eu aprendi – com o tempo, com a vida, com a terapia – que quando tudo grita do lado de dentro, nem sempre é bom deixar escapar. Às vezes a gritaria é tanta, que as palavras estão desconexas, então faz bem respirar fundo, acalmar o coração e por tudo no seu devido lugar. aqui vale a mesma premissa do ‘não ligue se estiver bêbada’: não fale se estiver um caos. A chance de se arrepender no dia seguinte é certeira, assim como a ressaca – um dia inteiro para curar o porre daquilo que foi dito.
coleciono o silêncio das meias palavras não ditas; daquilo que fica pendurado na ponta dos dedos ensaiando dizer. guardo embaixo do travesseio esse céu morno do quase; esse céu imenso do "se".
Vá em frente, menina! Se joga, se perde, se encontra, abraça o mundo! Há tantos caminhos, tantas coisas bonitas espalhadas por aí & pelos cantos. Não se pode esperar, então continua... Vai caminhando, voando & vivendo do jeito que se sentir bem, até chegar onde você quer.
Nada é o que parece. Há muito mais histórias por trás de quadros, concretos, linhas e pálpebras do que a gente imagina.
Em algum momento, entre os excessos de pertencimento, deixei de caber. Vi destoar as expectativas, assisti, lentamente, cada palavra morrer. Eu tagarelava, n’outros tempos, mil verdades em entrelinhas que me denunciavam inteira; quando me despia das vontades alheias e me enxergava nua & vulnerável; dizendo mais do que ousava sentir; sentindo mais do que arriscava ser.
Hoje se amontoa.
Vezenquando deixo escapar.
Vez em sempre tento esconder…