Lupus Blanck
Desfez-se o nó que nos atava, sentou-se a poeira da estrada. E o enredo que cantou a nossa vida conturbada, virou bossa nova inacabada. Cada um seguiu então a sua canção;desafinada, desatinada, ou não. E com ou sem ritmo, cada qual com seus arranjos e inspirações, continuamos no palco até o fim do show.
Agora relaxe e sorria ou
chore e cale-se, porque inevitavelmente
comeremos os frutos de nosso próprio pomar.
Entre os casais mais espiritualizados:
o carinho e a confiança,
a dedicação e o entendimento mútuos,
permanecem muito acima da união física.
Logo espreguisei,
me beijei, me acordei..
Hoje?? - travesseiro??
Dona vazia, chafariz pia,
algum solteiro..
Tô profundo! Bolso moribundo,
virei vagabundo, sou trecheiro.
Amante?? - cachaça,
bebi amada de estrada,
financiei a sargeta...
Vício.O que podemos esperar de jovens e crianças encaminhados na decadência crônica desse mal social ignorado?
Não sou mais que ignorante na arte do ódio...Se a vida é arte que ela desate esse nó entre eu e mim mesmo.
Os poetas da costa sul
anônimos, inquietos
não estão mais em terra.
Esperaram tanto as sereias
nas pontas das dunas
à beira mar...
E a cada lestada
um poeta a maré levava
pra junto de sua amada.
O amor e o ódio,
pra onde vai a seta?
A seta do teu querer?
Escudos não há na tua jornada,
tampouco esquivarás as balas cruzadas.
Os teus pés seguirão pra que banda?
Por acaso alguma herança?
Até que cansa e desmancha o teu sonhar.
E como entender a partida?
Ou, como impedir a chegada?
Mas qual a receita que cala a dor?
Qual a canção que traga os corações de volta?
-de volta pra casa?
... meras palavras sem nexo nem importancia,
inúteis?
Frases confusas, rimas dissonantes.
"História sem pé nem cabeça", sem título, sem roteiro.
Um curta infinito, figuras de linguagem primárias.
Poemas rotos e anônimos, e alheios...
( meras palavras de coração e alma).
Um poema pra dois na proporção pequena.
A justa medida cabível como uma xicara de arroz.
Neutra perda de momentos e sonhos mergulhados:
- gratidão dos alcançados pela graça recebida à seu tempo.
É até inconcebível! de tão invisível ser...
E por ser tão pequeno feito grão de arroz sensível
a medida é bem cabível pra quem escreveu ou ler.
Maria beleza ruiva
Maria ruiva maluca
sem tempo ruim
sem miséria na birosca
tem moral na quebrada
furunfa umas peça irada
dança até a madrugada
e tizóra vacilão
Ripizona de carteira
brinco, colar, pulseira
e o de sempre pra tirar uma bobeira...
O som que ele toca me toca na alma
Espelho da lua, toca da lula
Destino imprevisto da foca
Maria da toca nas marolas das Campanhas...
Veleiros nativos escoltados por golfinhos
e a velha rendeira a beira mar
em sua banqueta ponteando o tempo...
Encontre-me junto ao mar a tua espera
consumido pela falta
que me causa a solidão
que me abraça.
Esqueça-me junto ao mar a te olvidar
consumido pelos átrios
dessa solidão que me adota.
Eu tenho fome,
fome de multidão,
de lágrimas de felicidade.
Eu tenho uma fome louca
de coisas que você pensa
que eu não seria capaz de digerir.
Coisas que talvez alguém se julgue incapaz.
A minha fome ainda que coma não saciaria tão frouxo.
A minha fome, por fim, devorar-se-a a si própria...