Luiza Caetano
"À FLOR DA PELE"
Vens breve
como a brisa
quase sempre
à flor do tempo.
Ficas-me no entanto
indelevelmente
à flor da pele...
como pétala de Outono
num gesto de adeus!
ou
um som diáfano
musicado pelo vento!
Vens breve
como os dedos da noite
abandonadamente.
LuizaCaetano
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"ALMAS GÉMEAS"
Tal qual dois espíritos
se encontram e se perdem
na volatidade dos dias,
Dois espíritos
necessitados
do oxigénio do sonho
para reinventarem a vida,
Dois rios
que se encontram
na confluência dos mares
explodindo as marés,
Dois rios,
duas estrelas
ou dois vulcões
que se cruzam
se abraçam
ou se anulam
lutando contra
o inexorável limite
dos limites.
LuizaCaetano
"UM AMOR COM AMOR"
Quero
uma casa sem portas,
Um espaço sem vento!
Um amor com amor!
Quero,
Um rumor de água
por perto,
iluminando o teu corpo
aberto como um barco.
Quero
um cais ou um porto
onde as gaivotas
se percam
e
as andorinhas
secretamente
nos avisem
que a Primavera chegou.
Vinhas
com as mãos a abarrotar
de estrelas
e eu te esperava
com o orvalho da noite
e o alvorecer das rosas
…urgentemente
Música
em altar de templo pagão
reza aos deuses
os quais
como majestades
de pedra
Jazem esquecidos
e sem emoção...
Deixa-me um sinal
pressentido
entre o vácuo e o manto!
ou o mar!
ou o vento!
ou as velas do meu barco
parado algures
no inevitável
porto das esperas...
Neste íntimo torpor
em que tudo parece ser,
a vida se esbate
num fingimento de existir
Tudo de belo á nossa volta
é poalha de sonho ou ilusão...
Lá fora a água corre
descalça
em avenidas molhadas
ultrapassando as margens
despedaçando as pontes
Destruindo os rios
que pouco a pouco
me ligavam ao cais
Já nem sei se foi o cais
que partiu,
ou se fui eu
quem dele fugiu...
Cheiram
a terra molhada
as manhãs bordadas
com dedos de chuva
e a sangue
de papoilas
degoladas pelo vento