Luiz Sommerville Junior
Chorei, porque amar é sentir que o teu tecido é costurado
pela beleza grandiosa do universo.
Poema Amor Imortal - Incondicional
Se eu estou surdo qual Beethoven
de joelhos imploro-te : perdoa-me !
porque sem ouvir-te
sou menos que um grão de areia numa praia sem crianças brincando ...
Amor Imortal - Incondicional
Távola de Estrelas
A minha carne é feita de livros...
de histórias da carochinha
vividas no vapor da boca
que no adeus da aurora
cobriam de magia
o tormento do meu travesseiro
Távola de Estrelas - A Minha Carne é Feita de Livros
A minha carne é feita de livros...
encaixados à força da régua e do carimbo
do "tens que aprender a lição!"
enquanto lá fora...
a saia primaveril que vestia os meus sonhos
me inundava de interjeições...
Távola de Estrelas - A Minha crane é Feita de livros
A Minha Carne É Feita De Livros
A minha carne é feita de livros...
de histórias da carochinha
vividas no vapor da boca
que no adeus da aurora
cobriam de magia
o tormento do meu travesseiro
A minha carne é feita de livros...
encaixados à força da régua e do carimbo
do "tens que aprender a lição!"
enquanto lá fora...
a saia primaveril que vestia os meus sonhos
me inundava de interjeições...
A minha carne é feita de livros...
e rogo a quem os abriu
o milagre de jamais os fechar...
Távola de Estrelas
Talvez ainda não haja anzóis
para pescar sonhos ! ...
Távola de Estrelas - Poema "Fisherman´s Blues"
Pescador de Azuis - "Fisherman´s Blues"
Agarro-me
aos dias mortos que de mim se vão
dormindo sobre a túnica gratinada
das estradas rasgadas d´água
é nos recifes
que a melodia dos corais
se entrega à ópera dos búzios
Ah ! Hei de despertar
levitando no azul
e submergir no golfo das traineiras !
marinheiros e pescadores coreografam
uma frase salgada :
- Que peixe tão desajeitado !
talvez ainda não haja anzóis
para pescar sonhos ! ...
Távola de Estrelas
Quero que os meus versos
sejam humildes
como humilde foi o meu nascer:
cinco letras gritando
na boca da minha mãe
cinco letras sorrindo
nos olhos do meu pai
Távola de Estrelas - Poema Barquinhos de papel
Barquinhos De Papel
Quero que os meus versos
sejam humildes
como humilde foi o meu nascer:
cinco letras gritando
na boca da minha mãe
cinco letras sorrindo
nos olhos do meu pai
Quero que os meus versos
sejam humildes:
cinco letras entranhadas
no corpo da minha amada
Cinco letras vivendo
no meu filho eternizadas
Sim!
Quero que os meus versos
sejam humildes :
cinco letras apagadas
pela terra que as guardará
E... a chuva impertinente
a levar os barquinhos de papel
no tempo
de quem (não) me viu
Fonte: Távola de Estrelas
A vida não acontece
vai acontecendo
e quando no fim
se for , escorrendo ...
eu não serei eu
mas sim o poema que nasceu
morrendo ...
Fonte: Poema masterplan - Távola de estrelas
Para Onde Vai a Alma ?
Mãe
vi-te ainda há pouco
e eras menina
apesar de todos os teus anos
não sei
porque razão a imagem
congelou
no momento
em que a tua voz soou
e agora que te vejo
com o peso duma indecifrável idade
ele - o caminho
ela - a vida
fundem-se
e sei , percebo neste instante,
que essa fusão
gera o tempo
em que a única coisa que fica
é a imagem congelada
desligada da voz
e por mais que eu olhe
a menina que vi ainda há pouco
tenho medo de olhar...
(para onde vai a alma
quando a luz queima a nascente ?...)
Fonte: Távola de Estrelas
Entre o norte e o sul
ao centro da rosa-dos-ventos
há um coração que é direcção das tuas escolhas
e no qual a questão
- para onde vai a morte quando a alma é vida ?
[Távola De Estrelas] A Voz Do Pai - Para Onde Vai a Morte
Doíam-me os poemas
nas suas páginas em combustão
alastrava a raiva dum fogo posto
Para o qual não havia água
Que o abrandasse
Lacrimejava-me o olhar
De tanto verso incendiário
- Quem é que via o meu sangue a arder ?
E se me perguntares:
qual a razão desse impulso ardente
Dir-te-ei:
-Nunca soube em que ponto cardeal
O poema se cruza com a sua estrela ! ...
[Távola De Estrelas] Index - Eu Canto O Poema Mudo
O pai tinha um sonho. O filho tinha uma certeza:- o sonho do pai. Um dia o pai morreu, mas a certeza do filho não.
Távola de Estrelas - Imortal
É tão difícil
- Ó música que impiedosamente me castiga!
Escrever conceituando o silêncio
Sua brancura é demasiada
Sua negrura tão excessiva
- asfixiante ! –
Que a surdez
Inviabiliza a boca
- Ó beijo atmosférico que me rejeitas ! ... –
Fechando-a
Na mente que busca em vão
A anestesia
Para a palavra ferida
Távola de Estrelas - Inaudível
Ontem
na tentativa d´adormecer
resolvi contar as estrelas do céu ...
três milhões setecentos e ...
... adormeci
nunca o ontem
foi tão infinito !...
[Távola De Estrelas] Estrelas
Ajusto meu paletó , enfeito-o !
com as flores tombadas , (ó minha querida avó !)
varridas pela fúria negra dos vendavais
de ti quando me sais pelas queimadas , almas !
na areia dos arrozais estendidos
nos olhos afogados que sufocados são vozes
das lágrimas !
Onde guardo o assobio desafinado
deste tão frágil fio , quebrado !
que é de frio ...
a soluçar pelas noites das bocas amarradas , dormindo !
acordadas ao lado do silêncio , sepultado !
E agora , que mais bela não poderia ser , a lapela !
os gritos que costuraram nela , acendem
acendem ...
uma vela ...
[Távola De Estrelas] Açucenas de Pedra
Se para ser poeta
Bastasse ser
Sem escrever
Sem escrever ...
(Mas toda e qualquer morada
Só é legível na vida do destinatário)
[Távola De Estrelas] Remetente
Ainda Os Escorpiões … O brinde que ergueste , ó querido irmão ! anda a tilintar , nas taças do mar , qual gaivota a esbarrar no mastro do barco que na baía paralisou para admirar o teu braço a levantar ! esse mar , a juntar , tantas Terras dos céus onde nossas vidas andam a navegar .. navegar … flutuar ? um brinde às nossas cores amadas “ao vinho e à cachaça” de todas as estradas que(nos)conduzem ao coração do Homem em ascenção aos desígnios insondáveis de tudo o que (já) não vemos mais mas sabemos , enquanto vida temos são como a mais bela canção impossíveis de agarrar , hinos nos ouvidos a falar todas as almas ao tempo por onde o vento não se cansa de assobiar todas as Construções , todas as Noites Que (nos) Eram e Levaram … Todos as Mensagens , poemas Número Vinte dançando nos lençóis que um dia foram testemunhas do escrever na carne os sonhos do corpo que arde Ó irmão ! “Se esta rua , se esta rua fosse minha eu mandava , eu mandava ladrilhar … com pedrinhas de brilhante” o chão ! dos poetas que se riem dos poetas que só sabem chorar ! todos os poetas que em TI te fizeram o verbo sonhar ! o lirismo derramado sobre a mesa ou o sangue escorrendo como vinho no dedilhar da guitarra que eu te daria , do violão em que tu , às costas , me transportarias , cerejeira nas nossas mãos encarnadas qual o desenho acima do real da menina que Génesis enunciou nas somas das lindas vareiras nas noitadas à varanda deliciadas com nosso eternizar todas as madrugadas ou onde renasce o Cais Do sodré , à nascente do Rio ! ou mais a Norte do que ao Sul , onde o Horizonte é mais Belo e o Porto é mais seguro ! nas vielas que faladas na una Língua são becos irmão que és as cinco Quinas das Vinte e sete estrelas , Serenata Ao Luar De Coimbra , Coisas Nossas pra encaixilhar no Beco Das Garrafas nas avenidas , num qualquer viajar “Um brinde ao dia 18, ao dia 20″ Novembro desta “Manhã De Carnaval” Novembro deste “Povo Que Cantas No Rio” Pés na terra a caminhar na epístola de São Paulo Braços no ar a casar com as noivas de Santo António “Os copos embriagados de vinho, vozes em cantoria, resto de noite.” qual lanterna a alumiar os olhos do fado a lacrimejar … do samba dançado no ar … “um brinde! ao novembro dos escorpiões vagamundos.” enquanto … nas mochilas a guardar para dar “A Vaca De Fogo” e “Pra Não Dizer Que Não Falei De Flores” os abraços e os beijos , a vibrar … a vibrar !
[Távola De Estrelas] FELIZ ANIVERSÁRIO...MEU ESCORPIÃO !!!!
Um padre e um freudiano fogem de mim
não querem,temem, guardar o segredo
deste meu murmúrio
desta terra queimada
onde se consomem em lume furioso
as minhas cinzas...
[Távola De Estrelas] Incompleto
Houve um tempo
em que as palavras
eram minhas...
- não, não eram minhas ,
eram tuas
da tua amiga
da tua irmã
ou até talvez
do teu pai
movimentavam-se
em círculo
como se fossem uma roda
qual bailado
de corpos em perfeita harmonia
e
éramos imensuravelmente felizes
porque
ou tu falavas
ou tu , amavelmente , sentavas-te
e escutavas...
[Távola De Estrelas] Estrangeiro
Só os grandes sonhos
chegam ao céu
os mais pequeninos
ficam-se pela Terra
para que a Humanidade
seja feliz.
[Távola De Estrelas] Da Felicidade
Meu amor
e se
amanhã
acordarmos
ao som
celestial
da bomba
atómica ? ! …
[Távola De Estrelas] Memória de Quieta Inquietação
A primeira palavra
é choro
pranto abraçando o respirar
Ou será luz ?
a última palavra
é silêncio
quietude provocando temporais
ou será escuridão?