Luiz Flávio Gomes
O medo é um sentimento natural. Dizem que se nossos ancestrais não tivessem sido medrosos, hoje provavelmente não existiríamos. Foi por medo que eles inventaram mil estratégias para se esquivarem das catástrofes, da fome, do isolamento, da ignorância. O medo tem seu lado positivo, mas não pode chegar ao extremo de nos imobilizar. O medo pode roubar a nossa liberdade assim como nossa espontaneidade. Quantos talentos foram derrotados pelo medo. Você pode se transformar no seu próprio cativeiro quando se subjuga indiscriminadamente ao medo. O medo pode nos escravizar, pode coibir sermos o que somos, desenvolver o que podemos desenvolver, criar o que podemos criar. Saramago nos ensinou que não devemos ser prisioneiros dos nossos medos, que não devemos nos entregar à obscuridade, que não devemos sucumbir aos embates que a vida nos apresenta. Nesse sentido, foi um guerreiro destemido.
Fausto, personagem de Goethe, disse: “Isso [chegar aos corações alheios] você não vai conseguir, apesar do seu ardente desejo, se você não sente o que declama [ou proclama]; se isso não vem do fundo da sua alma e com encanto muito poderoso e fundado você não convence os corações do auditório (...) você pode até conquistar a admiração das crianças e dos macacos, se esse é o seu gosto, mas nunca fará seu coração chegar aos corações dos outros se isso não sai do fundo do seu coração”. Saramago falava e escrevia coisas com convicção e coração. Podemos não concordar com várias das suas teses, com sua narrativa muitas vezes exageradamente detalhista, mas não se pode negar o seu valor, o seu estilo, porque tudo foi escrito com muita humanidade (e muito coração). Enfrentou polêmicas homéricas em razão das suas convicções, mas levou-as até o final. “O homem é o que ele acredita” (Anton Tchecov, russo, dramaturgo).
Os grandes e famosos artistas, os esportistas notáveis, os empreendedores de sucesso ou mesmo os aprovados em provas difíceis possuem muita coisa em comum: uma delas, sem sombra de dúvida, reside no esforço diferenciado. “Falhar em se preparar é se preparar para falhar” (Benjamim Franklin, americano, cientista, político e filósofo). Gente de sucesso exuberante não é inimiga da disciplina nem tampouco amiga do talento caótico. Mozart morreu muito jovem e aos dezenove anos já era um sucesso. Mas nessa altura ele já tinha cerca de quinze anos de trabalho duro e persistente (visto que começou a tocar e compor, por influência do pai, aos cinco anos de idade). Uma constatação importante: não basta só se esforçar. É preciso fazer benfeito o que deve ser feito. De outro lado, tudo deve ser feito do “jeito direito” (Nizan Guanaes). Nada de indisciplina, nada de desorganização, nada de improvisação. Para você alcançar o mundo do sucesso a fórmula mais garantida é a perseverança nos seus ideais, mas com ordem, com método, com planejamento. Recordemos: “Planejamento de longo prazo não lida com decisões futuras, mas com o futuro de decisões presentes” (Peter Drucker, austríaco, escritor e consultor de negócios).
O filósofo espanhol Jaime Balmes (citado por Faya Viesca) não atribuía o sucesso das pessoas à sorte, à inteligência, à formação escolar ou à sua posição social, sim, à “cabeça de hielo (fria), ao coração de fogo (quente) e à mão de ferro”, que significa luta, perseverança, aspiração ardente de vencer, esforço fora do comum, vontade firme de triunfar, anseio inabalável e resoluto de se superar, em síntese, vivo e forte desejo de superação. Isso é o que realmente faz a diferença na nossa vida. Cabeça fria, por seu turno, significa cabeça que calcula, que planeja, que projeta o empreendimento ou a ação, que decide na hora certa, que fixa objetivos atingíveis, metas realistas etc. Coração quente (coração “de fuego”), por último, significa emoção, motivação, empolgação, entusiasmo, ter ganas de êxito, esperança, ter desejo profundo de fazer, de criar, de desenvolver, em síntese, de empreender. Triunfa, em suma, como dizia Critilo (El criticón, de B. Gracián), o que deseja ardentemente e o que se esforça de maneira perseverante com vontade resoluta e firme.
Quando o relacionamento está legal,
ficar junto é lua de mel,
Quando o relacionamento está mal ,
ficar junto é cemitério.
Luiz Flávio Gomes