Luiz Fernando Alves (Ziron)
Permutação de Opostos
(O matemático e a artista)
Ele era um matemático reconhecido
Difícil achar um livro que não tenha lido
Ela pintava quadros no fundo do quintal
Sua música ambiente era o canto de um pardal
Ele tinha medo de ser amado
achava que tudo deveria ser calculado
Ela tinha medo de não amar
Ou que amasse e não conseguisse expressar
O evento mais magnífico para ela era o brilho da aurora
Já para ele eram teorias esboçadas outrora
Quando ele a olhava, ela sentia todas as cores sumindo
E quando ela o olhava, ele sentia a lógica o traindo
Era um mar de oposições, e aquele casal estava submerso
Aconteceu algo que ecoou em todo o resto do universo
Todos aqueles números encontraram todas aquelas formas
a artista estava cega e o matemático não seguia mais normas
Como uma paródia escrita pelo mais louco comediante
os lábios tocaram, seus corpos soltaram um pulso flamejante
a troca de elementos simétricos criou a perfeição
E todos pensaram: Os opostos não se encontram em vão
Senhorita sem rosto
Quem é você que me procura?
Será você a minha verdadeira cura
Ou uma imensidão de sonhos irreais
que causam a ausência de minha paz?
Por que me busca tanto?
Sempre comigo, em qualquer canto.
Os passos que dou são a sua estrada
e tudo que sei sobre ti é nada
O mais estranho é não te conhecer,
Diga-me: Quem é você?
Não sei como se chama e desconheço sua aparência
Mas sei que deveríamos nos ver com certa frequência
Surge uma gota cada vez que sinto sua falta,
Sinto o mar de minhas incertezas em maré alta.
Se a senhorita sem rosto não vier, eu me afogo.
Por favor, me encontre logo...
Convite para Solidão
Mais uma noite e eu me vou.
Me deito numa cama sendo eu, demasiadamente eu.
Indiscritivelmente eu. Mas o que sou?
Andarilho contemplativo, que se sente unico em vão.
Só me entrego verdadeiramente em tua companhia, solidão.
Despedaça-me e mostre-me a mim mesmo
Para que assim eu possa ver além do que quero que vejam em mim
Abre-me e busca nessa alma cansada a esperança de não ser mais um.
Faz de meu corpo uma sala de estar, e seja bem vinda. Solidão.
Quero ser só, só teu anfitrião.
Me esprema e guarde de mim toda a essência.
Jantaremos essa noite meus sentimentos, e nos embriagaremos com minha existência.
Cada dia mais me canso da sociedade.
Vivo hoje apenas para não morrer de saudade.
Saudadade de ti. Solidão.
Dança comigo eterna donzela
Cheia de melancolia e ainda tão bela
Ouve comigo essa orquestra de minhas confusões
Que toca o mais belo de todos os sons:
O som vazio da solidão.
Por último, deite comigo
E seja minha
Só minha
Sozinha
Solidão.
Transbordando-me em sol
O sol da manhã dilacera meu espírito
Me questiono recebendo a luz do dia
Se eu devo achar isso bonito
ou se devo derreter em poesia
Opito pela segunda opção
E aqui estou
Sou um poeta em evolução
Mentira, não sei o que sou
Nem poeta mais eu consigo ser
Vomito qualquer coisa em um papel
E mexendo nesse vomito pude ver
Se abrirem as portas do céu
Agora sou o cúmulo do absurdo
Um incêndio debaixo d'água
Uma orquestra para surdos
Uma paixão sem mágoa
Parque aquático no deserto
Algo desconhecido por mente sã
Navegando nos mares do incerto
Me achei, como estrela da manhã
E o ambiente se mantém iluminado
Mesmo após eu fechar a cortina
Posso deixar assim afirmado
Que sou o sol que me ilumina