Luciaurea
Cada movimento-forma, na dança do ventre, é interpretado diferentemente por cada praticante, mediante o significado arquetípico que o mesma assume no interior feminino.
“Ensinar” a dançar é como “ensinar” uma nova maneira de enxergar o movimento, uma nova maneira de senti-lo e uma nova maneira de escutar música. Você pode “imitar” os exemplos, mas se não aprender a vê-los, senti-los (vivenciá-los) e ouvi-los, jamais será o suficiente para dançar com a alma.
Nem sempre a dança é um "dom" nato. Pode ser um “dom” adquirido. Tecendo um paralelo entre a comparação de Betty Edwards (autora de "Desenhando com o Lado Direito do Cérebro"), em relação a uma pessoa que é capaz de escrever legivelmente em maiúsculas ser amplamente hábil para desenhar bem, eu ouso dizer que se você pode se movimentar normalmente, você também pode aprender a dançar. E a dançar bem.
Aprender a dançar é aprender a processar informações visuais, auditivas e cinestésicas, diferentemente da maneira como você normalmente as processa.
Tecendo um segundo paralelo sobre a capacidade de desenhar e a capacidade de dançar, pode-se dizer que, a capacidade de realizar uma mudança, no estado cerebral, em uma direção que mostre um diferente modo de perceber, ver, sentir, se mover, pode levar uma pessoa a dançar melhor. O desenhista artista, não desenha com as mãos, mas com os olhos. Ele vê as coisas de uma maneira diferente. Se uma pessoa consegue acessar este estado mental, em que a percepção se torna mais apurada, com certeza ela será bem sucedida.
Na dança ocorre o mesmo. Se uma pessoa consegue entrar na mesma freqüência da percepção sensorial, cerebral e intuitiva, de uma grande bailarina, ela pode, perfeitamente dançar tão bem quanto, pois a aprendizagem do movimento passa a ser, além de um treino motor, uma percepção interior. A bailarina não dança com o corpo. Dança com a percepção que tem dos elementos que compõem a dança.
Todos nós nascemos artistas. Todas as crianças são artistas, mas o grande desafio é continuar sendo ao crescer.
Eu não tenho muros. Sempre que encontro um que construí sem perceber eu destruo. Minha mente adora posicionar-se ao ar livre. Confio nos meus atributos naturais e no meu sistema imunológico emocional.
Quem procura proteção reverencia o útero da terra e ali é acolhida sempre que necessita.
Se pararmos para pensar na possibilidade de que o ambíguo pode ser estimulante como tática de aprendizado, ensino e convivência, nós teremos a permissão, sem qualquer culpa na consciência, de desistir das respostas corretas, porque teremos o prazer de mostrar soluções mais criativas, tanto na dança quanto no relacionamento ético-profissional – e com esta nova postura nos sentiremos mais seguras para não espiar a vida alheia, tampouco denegrir a imagem do trabalho de outra colega.
O fato de dançarmos em um show e obtermos opiniões divergentes não deveria nos abalar já que escolhemos nos sentir tão à vontade com nossos corpos. Mas será que estamos mesmo à vontade? Será que não estamos participando de um dogma industrial e político?
Símbolos sexuais nos impelem a desejarmos uma sensualidade que não é a nossa verdadeira. Inconscientemente, carregamos uma dose de autocrítica que nos impede de amarmos nossos corpos como eles são e de nos soltarmos na dança.
Quem disse que não somos símbolos sexuais da maneira como somos?
Se separamos a mente do corpo não produzimos saúde. Estar acima do peso é uma questão de saúde. Estar abaixo dele também.
Quando separamos corpo de mente, perdemos nossas raízes. É impossível dançar para um público mostrando algo que nós mesmas não valorizamos: nossos corpos. Se interiormente não confiamos em nossos corpos, muito provavelmente atrairemos atitudes hostis do público, porque este perceberá que não estamos confortáveis em nos mostrar – e principalmente, mostrar o que sabemos.
O que produz beleza enquanto dançamos é a maneira como nos sentimos. A beleza que transmitimos enquanto dançamos não vem só do nosso corpo, mas do espírito que veste o corpo, da aura da atuação, de dentro da bailarina.
QUANDO DANÇAMOS COM PRAZER O QUE IMPORTA É A MANEIRA COMO USAMOS O CORPO.
Seja você o seu referencial. Construa o seu padrão. Seu nome é sua marca. Se você se respeita, seu nome será respeitado e você estará plantando a semente do reconhecimento com muita tranquilidade, sem estar investindo em neurose sobre ela.
Toda semente plantada em solo fértil e regularmente regada sempre dá bons frutos. O solo não está fora, mas dentro de você. Toda semeadura começa da mente para o coração – e toda colheita parte do coração para o mundo.
Vale a pena mudar o filtro que você usa para se perceber, passanado a se contemplar de uma forma mais saudável, porque as pessoas têm a tendência de retribuir nosso bem estar com mais bem estar. E nada é mais prazeroso do que saber que nosso amor pela dança proporciona alegria e alimenta a quem nos assiste!