Luciano Spagnol - Poeta mineiro do cerrado
Legado
Os poemas sempre ficam
São guardamos na emoção
Quem escreve os ratificam
No entendimento do coração
Quem os lê se transformam
E viram parte da narração...
(27 DE FEVEREIRO)
Dia e mês que levo os anos
Nas costas, cada vez maior
Sem fronteira e sem planos
Nos males e sonhos o suor
Levo com cuidado esta data
Num rígido e reto itinerário
Afinal não é ouro nem prata
Mas é especial no calendário
Nunca posso dar um até mais
Pois veloz já é naturalmente
Triste é ficar sentado neste cais
E sempre deixo um posposto pendente
Pois ficar mais velho, são fatos anuais
E ser lerdo, retarda receber o presente
Parabéns!
Parabéns queria lhe mandar
Procurei...
Palavras rebuscadas pra enfeitar
No dicionário, no vocabulário
Nada foi suficiente para te igualar
Queria ser pioneiro, certeiro
Na mensagem
Ser diferente, presente
Amigo
Do meu coração falar contigo
Trazer abraços verdadeiros
Te presentear
Com o brilho das estrelas
Com a paz da noite de luar
Com expressões nunca faladas
Nem pronunciadas...
Vendo que é só ilusão
Não tendo como fugir do chavão
Tudo que for dito
Alguém já disse primeiro
Vou cair no popular
Palavras mesmas
E lhe desejar:
- saúde
- realizações
- harmonia
E muita, muita alegria,
no seu novo itinerário...
Feliz Aniversário!
Hoje é dia de seu Aniversário
Sonhos, fantasias são intenções da realização
Então sonhe com a quimera do coração
Com a força que tem o amor
Goze da alegria do presente que é viver
Sorria mais, ame mais, tenha mais prazer
No olhar amigo, no abraço fraterno
Que mais este aniversário,
seja em suas lembranças eterno
Junto com que lhe é caro,
aquelas na cumplicidade refréns
PARABÉNS!
Feliz Aniversário!
Uai sô! Cumé que ocê tá?
Vim pra ti desejá
Filiz Niversário!
Arreda tudim de ruim dôcê
Com trem bão nosóio
Amo, saúde no seu vivê
Felicidade purdimais...
Parabéns para você!
Com jeito mineiro de ser...
Hoje, o olhar materno da Santíssima Virgem Maria voltou-se para você
Que você sinta neste olhar a certeza da proteção carinhosa, e constante da Mãe de Deus, de todos nós...
Que está proteção lhe acompanhe por todo este novo ano que se inicia
Que não nos deixe sós...
Que o Divino Salvador, fonte de todo o bem, torne o seu dia repleto de harmonia, amor e felicidade...
Na fé operário!
FELIZ ANIVERSÁRIO!
Pedaços
Parte de mim tem medo
Parte coragem no enredo
Da vida, pois quero arte
Na alma em total parte
Se da fala eu faço grito
Do silêncio eu faço rito
Palavras, poesia, frase
Ora calado, ora quase
Nos meus falantes pedaços
Sonante é o amor, os abraços
Pedaços que contudo acredito
Todos juntos num só infinito
Pra estes sonhos em devaneios
Peço desculpados aos alheios
São apenas pedaços de emoção
Expelidos do poético coração
Ambição está, fatiada em pedaços
Nunca em nó, e sim suaves laços
Distante, perto, chegada ou partida
Os pedaços juntados são guarida
Sou parte dos pedaços num todo
Que tento transformar em denodo
De anseios e de boas lembranças
E nestes pedaços pouco fui usanças
Pedaço de mim é poesia
Escritas em pedaços de vigor ou melancolia
Pedaço de mim é paixão
Nos pedaços do afeto onde sempre fiz alusão
Pedaço de mim é dor
Antagonizada nos pedaços da alma em louvor
Sou pedaços, parte, um todo no amor
Poeta e rosas
Sane os arranhões dos espinhos
Das rosas belas do bem viver
Não as ponha em vasos quartinhos
Ousando natureza morta pra escrever
Redija afeto, grafe alegria, a que recria
Que vem da lira e faz recomeçar
Decore e redecore, até ter a sua via
Apague, volte no iniciar
Cada arranjo é romaria
Cada pequenez, renove, renovar
Faz da teu vazante poesia
E verá o teu coração poetar
Nunca sejas peia
Rosas são para se apreciar
O amor colmeia
A vida a superar
Coisas de amor
O amor nunca cala
Pode haver carquilhas
Pode haver muita fala
Ter poucas maravilhas
Ou ser pompa e gala
Amor é feito solene
Na alma tem escala
Ao coração infrene
Aos românticos poesia
Ao tempo indene
Faz juras de alegria
Amor ao amado, perene
Um amor não se adia
Vive-se!
No presente
Fiel e ardente
Verdadeiramente
Não são apenas versos
Poetando a sintonia de meu coração
Em ritmo de olhares e singelos gestos
Sem pretensão, a não ser minha emoção
Nas reticência, não são apenas versos
Em cada rima, em cada trova
Momentos de pura demonstração
Em formas de pensamento, prova
Que não são apenas versos, paixão
Se o poema grifa lágrima no reverso
Da ausência de seu sorriso, nos dias
O sentir também não é apenas verso
São presentes de ter-te aqui, alegrias
Nunca é tarde para poder lhe expressar
Que o que sinto vai além do universo
Trais amor, companhia, sede de beijar
A toda hora... E não é apenas verso
Sendo assim fica e vem pro meu lado
Ponha os afetos na alma submersos
Faz do meu sorriso no seu calado
Pois aqui não são apenas versos
(É o amor em verso alado...)
Luciano Spagnol
Mãos...
Precisamos das mãos que laboram
Das que tem essência e não choram
Das que venham esculpir a esperança
Das que não se mancham de vingança
Precisamos de mãos postas para liberdade
De mãos que não se esquecem da dignidade
De mãos abertas contemplando em oração
De mãos que erram, mas procuram solução
Precisamos das mãos que amam e labutam
Das que na vida ao irmão amigo escutam
Das que abram as portas da compreensão
Das que fecham pro preconceito no coração
Precisamos de mãos que cavem o recomeço
De mãos que escrevem histórias de apreço
De mãos que falem a linguagem da emoção
De mãos que gozem da dádiva da criação
Precisamos das mãos com capacidade de cura
Das que tragam luz ao dissabor da amargura
Das que redirecionam os caminhos em vão
Das que digam sim aos encontros com o não
Precisamos das mãos, de mãos... Em louvor
E que nos conduzam ao Criador
Luciano Spagnol
Bem me quer, mal me quer
Bem me quer, tenho aqui o meu cantinho
Mal me quer, ao dormir preciso de carinho
Bem me quer, de amizades não tenho fome
Mal me quer, não sei escrever teu nome
Bem me quer, paternidade é com meu cachorro
Mal me quer, na solidão eu peço socorro
Bem me quer, divido a opinião comigo mesmo
Mal me quer, a partilha permanece a esmo
Bem me quer, amo, a tudo e todos, sou feliz
Mal me quer, tudo é tão rápido, por um triz
Bem me quer, como é bom apreciar o amanhecer
Mal me quer, a cada dia veloz é o envelhecer
Bem me quer, sei mastigar a vida de solitário
Mal me quer, não tenho ninguém no itinerário...
Bem me quer...
Luciano Spagnol
Soneto de um solitário
Permanece como réu, imoto
a respiração sem equação
em silêncio o ego e emoção
como em oração fiel devoto
O lamento que acolhido na mão
chora suor do quesito remoto
a lágrima se imerge num arroto
dos soluços surdos do coração
Como centro de tudo, a solidão
que desorienta e se faz ignoto
o olhar, largado na escuridão
Seja breve e renovado broto
que renasça após a oblação
o abraço que se fez semoto
(traga convívio pro ermitão)
Luciano Spagnol
Madurar
Os adultos não sabem que não são crianças
Vivem reclamando, chorando por suas mães
Não perceberam na vida as totais mudanças
Clamam por suas ingenuidades perdidas sãs
Os adultos querem ser meninos e meninas
Eternamente...
Deitar no colo e permanecerem traquinas
Eternamente...
Querem não ter dever e nunca terem rotinas
Eternamente...
Os adultos esquecem que um dia tem que dobrar as esquinas
Da vida, madurar
Eternamente...
Luciano Spagnol
Morte e vida
A vida está sempre de partida
A morte de início e ressureição
Dia a dia se morre na descida
Do tempo, em sua contramão
E nesta poética de folha seca
Que o vento leva além do olhar
Um pouco do tudo será soneca
E nada a quem não soube amar
Quando eu for, está gaveta estreita
Estreito estará o caminho do perdão
Por mim rezem ladainhas bem feita
Para a direita do Pai o meu coração
Se a partida ainda não chegou a vez
E só tenho a data de minha chegada
De fevereiro a fevereiro é o meu mês
Feliz vivo, sem a morte na vida privada
(Entre a vida e a morte prefiro ser cortês!)
Luciano Spagnol
singular
no caminho singular
fui plural
tentando me encontrar
entre o bem e o mal
na variante
do acaso
calmaria e vendaval
ao longo prazo
nunca fui total
no lusco fusco
sou igual
o afeto que busco
fui silêncio e barulho
probabilidade
e neste embrulho
deserto e diversidade
de prosa e verso
realidade
de um comum universo
plural ou singular
existiu amizade
e pude saber o que é amar
só o amor nos faz eternidade!
Luciano Spagnol
dorido
a lágrima exibi
o silêncio, é palavra, ato
o revés, bisturi
que corta de fato
teu sentido, teu tato
a emoção contamina
perfura a razão
nos olhos neblina
sofreguidão
na despedida
no gemido
na partida
no laço corrompido
na magoa proferida
no desejo proibido
na luta vencida
o não no pedido
sem amor
é dorido
nunca acolhedor...
do perdão devedor
Luciano Spagnol
Avessos
Em cada verso dispo os avessos
Do espírito da emoção a uivar
Dos rastros dos seus processos
Num precioso momento impar
Que saem e onde expresso
E que não me deixam calar
Cada verso chorado, por vir
É a minha forma de rezar
Pois a convicção é para se sentir
E a alma quer se manifestar
Loucuras?
Fazem parte de o meu poetar
Ali me escondo, minhas venturas
Digo meus fados sem oprimir
Cato pareceria aos versos solitários
Assim as fantasias podem fluir
E eu ter o meu fértil relicário
Pois dele dependo, e ele de mim
Efeitos que decifram meu diário
Do meu complexo eu sem fim
Sim ou não, um novo itinerário
Que me faz ir além, e assim
Nos avessos o sentimento é o cenário
E o amor meu estopim.
Luciano Spagnol
Fogão de lenha
Ah! O velho fogão de lenha
O fogo estalando o graveto
Panelas empretejada e prenha
Exalando seu tempero secreto
Só saudade, razão quem o tenha
Na fornada os biscoitos de goma
D. Celina. Quem duvidar, que venha
Provar, do pão de queijo, puro aroma
Velho fogão, assim, faz sua resenha
Envolta os causos e mexericos soma
Ao café no bule, que na alma embrenha
Só tu pode e guarda em seu fogo lento
O poetar que meus versos ordenha
Lembranças de um tempo de contento
És tu velho e bravo fogão de lenha!
Luciano Spagnol
saudade de amor
a saudade não nos engana
sua chegada
faminta e soberana
só trás dores gigantes
no vinho carraspana
amantes mais que antes
achamorrados
indesejados
carente
e assim, sofrente
de dentes cerrados
não mais que de repente
já de olhos vergados
mira o mundo à frente
e se põe novamente enamorado
e nesta ciranda de querer e opor
num coração sulcado
se tem a saudade de amor
Luciano Spagnol
Farnel
A existência é um caracol
De curvas e lombadas
Tem o breu da lua e o brilho do sol
Sobe e desce e algumas paradas
E nestes altos e baixos
Deparamos com nossas caminhadas
Altivos e cabisbaixos
Tentando superar as escadas
O que não se pode perder no cordel
Neste emaranhado fio da meada
É de ter genuíno amor no farnel
Luciano Spagnol
noite
a sinfonia da noite
cai sobre o cerrado
a alma neste açoite
é retiro amordaçado
é silêncio em seresta
a solidão num gorjeado
e a quimera numa fresta
a noite cerrando o cerrado
Luciano Spagnol
Hesitas
Quando é, dormindo, será dia?
Quando é, noite, serei recordação?
Eu alma, a minha alma, fria
Alheio o pulsar do coração
Não sei, nada sei desta arrelia
Ou se despertarei da escuridão
Onde terá sol, ou terá só magia
E se assim, acordado, serei são
Planeja o tempo, o fado em parceria
Passará a dúvida, serei oração
E nesta angústia que me agonia
Serei curiosidade sem revelação
E na velocidade vem a vida, ironia
Descendo as ladeiras da vitalidade
Inspirando hesitas na minha poesia
De uma única certeza, um dia. Sem ser brevidade!
Luciano Spagnol