Luciano Garcez
LXXVII
tua volta é desnecessária
deixas comigo este anseio pendulante
é o teu maior presente
é meu prêmio supremo
segurar com a causa indivisa da ausência
este desespero em purificar-se
até que te tornes de novo
aquilo que errava sob minha pele
com uma simplicidade residual
- porém um abraço primevo
e multiplicado na fornalha dos mil espelhos
quebrados vida afora.
o que fica perplexifica-se
em seu absurdo divino
mas esperado.
Desalunada
A lua foi extirpada
em seus ovários e luzes
por mãos escandalosas.
A lua desfigurada
fez-se de esfinge mais e mais
para as mandíbulas dos vales.
Uma lua decorativa, corroída de sulfores
sem metade de sua história.
Uma lua lenta, sem locomoção
essa lua empesteada por bolorentas cobiças
nunca mais encharcou as matas inchadas do verde apodrecido.
Não deu mais o espetáculo pagão de costume
o plenilúnio de ossatura alva e exposta.
A lua fragmentou-se: em postas de poente
em rosas de sangue azul, calvo...