Luciana Mara Ribeiro
Insigne
A rosa se encheu de vontade e de beleza
E foi encontrar o olhar do meu amado
Fez-se flor de primor de pecado
Firmando-se no encanto que lhe dera a natureza.
Diante do olhar fecundo, verde de veludo,
A própria rosa se sentiu pequena
Sem ciúmes, confesso tive pena
Da pequena rosa a enfrentar o tudo.
Humildemente ela voltou a terra,
Como um lutador vencido em guerra
Foi esconder-se nas encostas.
A figura do meu bem, porém, surgia
Contemplando outra rosa que se abria
Feito luz num jardim de flores mortas.
O Bem e o Mal
A imagem dele é qualquer coisa linda
A figura magistral de um deus em fúria
A beleza austera de um anjo de lamúria
Obra de arte que nem sequer existe ainda.
O beijo dele tem qualquer coisa que inflama
Que de repente vem e arrebata
Mas que pouco a pouco mata
Com uma força sobre-humana.
Como é que pode existir tanta harmonia
Na junção das trevas com a luz do dia
E nas águas do Bem banhando o Mal?
Como é que pode haver naquele rosto frio
Nada além de um coração vazio
E o rude poder de um deus mortal?
Gaivota
Gaivota, trazida pelo vento,
Corta o ar envolta em brumas.
De tão leve aninha as plumas
E faz o mar unir-se ao firmamento.
Lança-se em vão no infinito,
Envolve-nos em sua dança.
Exibe-se com graça e avança
Ruflando as asas de um modo tão bonito
E da janela observo tudo a volta
Mas o que mais me encanta é a gaivota
No seu vôo alto e fiel.
Pássaro de brancura alva
Feito um brilho de estrela d’alva
A desenhar pela manhã a flor do céu.