Lubi Prates

Encontrados 5 pensamentos de Lubi Prates

⁠ela mesma, a poesia

é despertar é despertar e enxergar além de o ou a
visão audição olfato tato paladar.
entregar-se para o sentir e perceber.
a Poesia é aprofundar-se
e procurar em si palavras
e substituí-las substituí-las substituí-las
perdê-las e insistir em
re e construir até que
perfeitamente.
e cuspir sem silêncio o que
a Poesia.
cuspir sem silêncio
e não implorar ouvintes
mas quando
seduzir e penetrar e abusar
porque a Poesia é
acariciar todo o sofrimento em
não esquecer a obrigação de
unir versos.

Lubi Prates
Coração na boca. São Paulo: Editora Patuá, 2012.
Inserida por pensador

⁠meu corpo é
meu lugar
de fala

e eu falo
com meus cabelos e
meus olhos e
meu nariz

meu corpo é
meu lugar
de fala

e eu falo
com minha raça

Lubi Prates
Um corpo negro. São Paulo: Nosotros Editorial, 2019.
Inserida por pensador

⁠ser mulher é
ser loira, olhos claros, nunca descabelar-se
é ter sangue escorrendo entre as pernas & não
[deixar que percebam mesmo que
você corra
você nade
você dance
[...]
eu descobri agora que
não sou mulher
sou negra, sou apenas uma negra.
[...]

Lubi Prates
Um corpo negro. São Paulo: Nosotros Editorial, 2019.
Inserida por pensador

⁠não foi um cruzeiro

meu nome e
minha língua

meus documentos e
minha direção

meu turbante e
minhas rezas

minha memória de
comidas e tambores

esqueci no navio
que me cruzou
o Atlântico.

Lubi Prates
Um corpo negro. São Paulo: Nosotros Editorial, 2019.
Inserida por pensador

⁠condição: imigrante

1.

desde que cheguei
um cão me segue

&

mesmo que haja quilômetros
mesmo que haja obstáculos
entre nós

sinto seu hálito quente
no meu pescoço.

desde que cheguei
um cão me segue

&

não me deixa
frequentar os lugares badalados

não me deixa
usar um dialeto diferente do que há aqui
guardei minhas gírias no fundo da mala
ele rosna.

desde que cheguei
um cão me segue

&

esse cão, eu apelidei de
imigração.

2.
um país que te rosna
uma cidade que te rosna
ruas que te rosnam:

como um cão selvagem

esqueça aquela ideia
infantil aquela lembrança
infantil

de sua mão afagando um cão
de sua mão afagando

seu próprio cão

ficou em outro país
ironicamente, porque a raiva lá
não é controlada

aqui, tampouco:

um país que te rosna
uma cidade que te rosna
ruas que te rosnam:

como um cão

: selvagem.

Lubi Prates
Um corpo negro. São Paulo: Nosotros Editorial, 2019.
Inserida por pensador