Lu Ramos (Simplesmente Lulu)
Mais tarde ele se fora. Agradecera carinhosamente pela noite. Ainda conversaram um pouco. Nenhum plano foi feito. Uma vaga promessa de mostrar o quadro em que ele andava trabalhando atualmente, promessa que sinceramente ela não levara a sério, apesar de se sentir tentada. Provavelmente alguns meses se passariam até a saudade voltar a incomodá-lo. Se é que isso aconteceria. Ela estava tranquila. Sabia que ele era assim. Pertencia ao mundo. E ao mundo voltou. Deixou com ela somente seu cheiro docemente entranhado no travesseiro, que naquele momento lhe entorpecia o juizo e fazia com que ela quisesse esse homem um pouco mais. Mais uma vez? Não sei. Quem sabe do tempo e das mentes encantadas?
Tento fazer o que eu gosto. E o que mais gosto é de cuidar de pessoas.
Fiz isso com ele e ele foi receptivo, sem armaduras, sem máscaras.
Fiz sabendo que era só por um dia. E mesmo que não seja, pra mim foi.
Pode não rolar mais, então vivi o momento. Mesmo sem paixão, foi com, sei lá... química ou física, nem sei mais...
É assim que a gente vai viver... Até que um dia alguém vai rabiscar o desenho que a gente deseja no vidro esfumaçado do box do banheiro.
E aí quem sabe... A vida faça sentido de novo.
Posso estar sendo poética. Mas é assim que me sinto.
Preciso acreditar... Para não desistir dessa vida.
Tenho medo de algumas coisas
Coisas que não admito
Nem para mim mesma
Coisas que nunca direi em voz alta
Você é uma delas...
Quero tua pele
Imperfeita
Com suas marcas
Marcas que ficarão para sempre na minha
Sempre
Indefinível
Sempre
Irreversível
A vida nos reserva surpresas todos os dias.
Descanse.
Feche seus olhos.
Fique em silêncio.
É no silêncio que ouvimos a voz do destino.
Acalme seu coração.
Respire fundo.
E repita quantas vezes forem necessárias:
Eu mereço ser feliz!
As palavras tem poder sobre o destino.
Você acredita nisso?
Tudo bem, o destino independe da fé.
Mas a fé torna tudo mais fácil.
Aplaina os caminhos que te trarão até mim...
Move as montanhas que me separam de você.
Basta eu me calar...
E deixar que a vida recomece... agora!
Olhos nos olhos. Pele na pele. Mais uma vez o vai e vem de emoções que se repete qual roda gigante de um parque que visitamos desde a infância. Cenas já conhecidas.
Mas que venha então a continuidade. E que chegue logo o fim. Que o sofrimento tire férias e dali a pouco volte pra cá... aqui bem dentro de mim.
Não olhou para trás. A cabeça baixa. Os ombros caídos. A face imóvel. Com passos firmes continuou sua caminhada rumo ao hoje. Ontem já não existia. O amanhã nunca existiu, assim como ela daquele momento em diante.
A pergunta que te proponho não é por que amamos, e sim quantos somos capazes de amar nessa vida tão cheia de mistérios e prazeres inomináveis. Essa sim é uma pergunta cruel.
Você saiu pela porta, e acompanhei teus passos dali, parada, imóvel, estática, até você sumir completamente do meu campo de visão. De novo me veio aquela vontade de sair correndo atrás de você e pedir para ficar, mas só se fosse para sempre.
Enquanto escrevo e penso na nossa conversa há pouco, os homens do prédio ao lado já chegaram ao primeiro andar. As mulheres se foram e nem percebi. O carros continuam furiosos. O jogo acabou. A campainha não tocou.Continuo esperando. Será que você vem?