Lorena Portela
Eu quero ser livre para viver. Eu quero ter paz com o que me trouxe até aqui. Eu quero me libertar dos fantasmas que me fizeram companhia até hoje. Quero seguir a minha própria estrada, em frente, apesar do mal que me fizeram e do mal que eu causei. Eu deixo aqui os meus traumas, deixo aqui as minhas dores, deixo aqui as minhas culpas e quero viver a minha história. Eu quero tomar parte da minha felicidade.
Quantas mortes uma mulher já enfrentou para continuar viva? O quanto de dor uma mulher é capaz de suportar e se manter de pé?
E nem posso ser a tua cura. Entendes isso? Tu não podes te ancorar em mim para fazer essa busca. Esse caminho é teu, e vais ter de fazer isso por tua conta. Não acho que estás pronta para um relacionamento, se não contigo mesma, por enquanto.
Eu sou inteira para o que eu posso ser. Eu mereço toda a felicidade que a vida me trouxer e que eu construir. E eu estou no meu caminho para tudo isso.
Atravessei um deserto nestes últimos dias. Meu corpo não aguentou, minha cabeça ainda dói, ainda sinto sede, mas estou do outro lado. Cheguei. Ainda não sei o que fazer daqui pra frente, desconheço este lugar em que me encontro agora, mas estou descobrindo. Quero descobrir. Preciso descobrir.
Eu gosto de pensar que estamos vivendo, eu e tu, uma coisa que não é definida no conceito nem do espaço nem do tempo,
Todas as decisões que tomei na vida me trouxeram aqui. Tudo que vou ser daqui por diante vai ter isso comigo e os pequenos acontecimentos decorrentes disso determinarão outras coisas em outros momentos. E, mesmo quando não estivermos aqui, isso já existiu e uma existência é inteira, absoluta, irrevogável. Tudo que existiu não inexiste nunca mais.
Entendi que nem sempre consolar é eficiente, que tem o tempo de apenas chorar junto.
Tem um momento em que você passa a não questionar mais a dor, porque a dor é tudo que você conhece. Já se familiarizou, conhece os trejeitos e, embora desconheça os limites, a dor já não assusta tanto assim.
Eu me sentia tão feliz que achava errado. A felicidade me invadia de um jeito tão bruto e tão selvagem que doía, e eu pensava que não merecia sentir aquilo.