LJ Nhantumbo
Do núcleo interno quase no inferno
Revelação de dentro para fora do hipocentro
Fonte da verdade onde nada se censura
Falo com liberdade o que outrem murmura
Voz activa e alta, permissão não me falta
Políticos escondem quando esta voz exalta
Escondem os filhos, quando puxo o gatilho
Calei o tambor e fiz da maçaroca o milho
Infiltrei-me no sistema, desvendei esquemas
Razão dos vossos problemas são os meus poemas
Oculto a cara, sou alérgicas as algemas
A informação é clara e eu mostro as gemas
Com suas falas nulas, não me abalas
Nem me calas se tentas a balas
Relatório no escritório e dizes que ralas
O povo na miséria e tu em festas de galas?
Sou uma arma de ataque, mestre de combate
Digo muito em pouco tempo considerem-me arte
Censuram-me a escrita, não a voz
Escrevo no singular e também escrevo por vós
Inimigo do político, polémico por ser crítico
Censurado pelos media, por ser explícito
RAP Alternativo e muito verídico
Não sou o maior estilo, sou o mais analítico
«Verbum pro Verbo» feitura compilada por mim
«Palavra Por Palavra» traduzida do latim
Críticas explícitas, do início ao fim
Reflecção lógico-racional, sou mesmo assim
Distribuição gratuita mas o verso não é em vão
Acredita gastei guita nesta compilação
De forma rimática entrego a verdade a nação
Agora cabe a vós, não só com a voz
Apoiar a revolução.
És tu que tiras-me o sono
Molhas-me com o líquido morno
Por ti, punha a mão no forno
Tu não tens dono tens filhos em seu trono
És tu que atravessas mares, em todos os lugares
Conquistas para amares
Propagas-te pelos ares como bombas nucleares
Ignoras olhares e conforto dos lares
Com a verdade andas aos pares
Malícia vares, tocas em bares
Em auriculares, seguidores tens milhares
És resistente, como os pilares
És tu o inimigo dos políticos
Pelos temas críticos e verídicos
Causas e efeitos deixas explícitos
Em curto tempo expões
Problemas em poemas rítmicos
És tu criação da mentalidade negra
Aceitamos-te não, precisamos de uma adaga
Em termos de raça, sua visão é cega
Branco, Negro até Amarelo tu não negas
Foste fragmentada ao passar do tempo
Ganhaste ramificações «bounce» por exemplo
Discípulos que fazem do estúdio seu templo
E os que usam-te como profissão, cairão com o tempo
És tu razão da minha metamorfose
Uma mente e um espírito no corpo simbiose
Tu bem sabes que abuso da dose
Se fosses droga morreria de overdose
Tornaste-me marujo neste mar de letras
Metaforizaste os remos em canetas
Provérbios e aventuras anoto em sebentas
Não precisas de cadernetas aqui não há tretas
És mal interpretado, não és culpado
O teu afilhado é que tem-te marginalizado
Empenhado no pódio e no trocado
E outros preocupado em deixar o pessoal informado
Tu cá em África és considerado vício
Em América, és como ofício
Mas continuas uma arma desde o início
Sabes o que fazer no momento propício
És tu o dedo na ferida, do político e sua política enfraquecida
Forneces ao pessoal o que censuram no jornal
És a reflexão lógico-racional em nível mundial.
Nunca deixei de gritar por não ser escutado
Nunca desisti por não estar acompanhado
Nunca mudei a escrita por não ser compreendido
Nunca em meus escritos citei um verso ouvido
Nunca pensei em lucrar com o RAP que faço
Nunca falarei mal de alguém para ganhar espaço
Nunca falei bobagens para versos rimarem
Nunca farei música para miúdas dançarem
Nunca lamentei da vida sem antes trabalhar
Nunca deixei de sonhar em arquitetar
Nunca propositei erros por ser imperfeito
Nunca consciente mostrei o meu defeito
Nunca por falta de guita arranquei carteira
Nunca por sofrer «bulling» abandonei a carteira
Nunca por falta de ideias escrevo besteira
Nunca a minha Mãe sofreu com a minha asneira
Nunca saí á rua para criar um inimigo
Nunca deixei-me influenciar por um amigo
Nunca para ser acarinhado divulguei meu segredo
Nunca do trabalho tive medo, sempre acordo cedo
Nunca a minha realidade escondi com mentiras
Nunca dei nem darei sangue a miúdas vampiras
Nunca levantei mão a nenhum adulto
Nunca por ser miúdo agi como um puto
Nunca respeitei a cara de quem me fala pelas costas
Nunca rompi amizades por partilhar ideias opostas
Nunca tatuarei o nome de uma mulher em minha pele
Nunca dirigi-me mal inspirado com a caneta no papel
Nunca procurei mentir para ganhar a razão
Nunca quem elogiou-me apertou-me a mão
Nunca irei a palhota pedir uma mansão
Nunca me faltará pão tenho profissões na mão.
Eu sou a charada por poucos decifrada
Por vós amada por todos desejada
A cara encriptada, coroa do reino fantochada
Por todos disputada, por todos procurada
O dilema a malícia a felicidade fictícia
A corrupção do polícia a censura da notícia
Matéria palpável desejada em abundância
Mal inevitável o prólogo da ganância
Sou o pseudónimo do ser anónimo
Corpo de lúcifer é meu sinónimo
Fui a razão da fúria de cristo
Sou desde então o advogado do ministro
Sou a razão das solidárias ajudas
Fui a razão dos chicotes dos tugas
Sou a causa da fama do judas
Sou e serei o ser que tu não mudas.
Sou a máscara do vosso baile
O tecido do vosso xaile
O defeito insuperável pela qualidade
Plumas no leito que trazem infelicidade
Eu sou o mal mas por ti necessário
Ser decimal, sinal vital binário
Na minha ausência a presença do precário
Na abundante existência o sorriso do proprietário
Sou debatido na igreja, no ministério
No político partido no Vaticano em mistério
Sou o vício do ambicioso sem critério
Ser maligno que ninguém leva a sério
O meu pacto com o homem só vai até o cemitério
Quando vivo garanto-lhe um império
Sou o incentivo das maldades do hemisfério
Motivo do debate bélico no Iraque.
Demónios disfarçados como soldados sem fardos
Servos de satanás enganando os mais fracos
Refugiam-se em casas desapropriadas e fazem de retiro
Alguns estão entre nós na cidade é a IURD que me refiro
Manipular os crentes é o seu princípio
Dízimos e ofertas mas não vemos nenhum benefício
Enganador passa-se por pastor, faz parecer o seu ofício
É o sotaque brasileiro que retira-vos o dinheiro
Televisões, rádios e jornais
Essa praga está no mundo inteiro
Palhotas distantes da cidade é o retiro do feiticeiro
Projectam maldades que destroem comunidades
Como prova disso, os desastres naturais e as calamidades
O diabo ensinou ao homem a fabricar potentes armas
Bombas nucleares que destroem o mundo nas calmas
Os demónios estão nos nerónios dos Homens e em suas palmas
As mais inocentes vítimas são retiradas as almas.
As primeiras guerras foram pelas porções de terras
Agora o Petróleo e os minérios é o que querem deveras
Em Moçambique compram riquezas por quireras
Se não conseguem o que querem, tornam-se ferras
O planeta terra foi o escolhido entre as nove esferas
O satanás pratica maldade nas partes mais vísceras
A autodestruição da espécie chega nas suas vésperas
Se é que não sabias haverá a segundo vinda do messias
Guardemos ao nosso senhor salvador as nossas bias
A nenhum outro deus por nada se alias
Para a sua salvação opta por adequadas vias
Não ignore a palavra do senhor é a salvação se não sabias
Sei sem certeza que nada disto está ligado a ninharias
Mudem o pensamento
Os versículos bíblicos não são fantasias.
Não sei por onde começar há tanto por dizer
Mas sei o que dizer doa á quem doer
Nascemos para viver há quem vive para sofrer
Nascemos sem nada ter e morremos sem o obter
Moçambique independente relíquia portuguesa
Digo isso pelos imóveis e afirmo com certeza
Dizem que o estrangeiro veio para ajudar
Mais se fores a notar, alguns vêm nos usar
Não tenho receio em dizer a dura realidade
Os medias, que censure-me a vontade
Mas o povo necessita da verdade
E os governantes?
Uma mudança de mentalidade
O partido no poder pratica a cleptomania
E o Moçambicano só manifesta a miopia
Isso afecta a economia que resulta a atrofia
Políticos são iguais com visão de megalomania
Aliados fazem-nos passar por humilhação
Maltratando brutalmente a nossa população
Com seus cães policiais comandados por oficiais
Testam a sua raiva em imigrantes nacionais
Animais irracionais, cegos em rituais
Sucessos nas finanças fazem (pactos espirituais)
Seus filhos são sacrificados por meticais
Sua vida não anda pela obra dos seus ancestrais
Chegas a pensar que apodreceste os nerónios
A igreja que frequentas só aumentam-te demónios
Aquele que estudou tem um salário magro
Há quem caneta não pegou e tem um bom cargo
Colegas malquerentes cobiçam a tua cadeira
Vão a palhota e acabam com a sua careira
Até o auxiliar de limpeza quer chefiar a empresa
Disputa de cargos é frequente nesta relíquia portuguesa.
Uns dizem Moçambique é Maputo
Maputo é a zona industrial
Por isso que a energia sai do centro para a capital
Tal hidroelétrica parece ser sul-Africana, por quê?
Não é usufruída em toda tribo Moçambicana
«Chonga Maputo» boa iniciativa do governo
Mas é só para os prédios nunca chegam no nosso terreno
Tanta desordem súbita todos os dias
Emprego, trabalhos inacessíveis estão todas as vias
Indianos chegam ao país montam tabacarias
Lojas de quinquilharias, parques e mercearias
Vendem suas bijutarias e outras mercadorias
Nós na nossa terra servimo-los por quireras
País liberto das guerras não das garras das feras
Estrangeiros na Arquitetura e nós na Agricultura
Isto é uma loucura mentalmente uma tortura
A vida é dura e não dura diga-me, qual é a cura?
Negócio ou religião, dê a sua visão
Uns defendem o segundo por sofrerem neste mundo
Outros no primeiro pelo sotaque brasileiro
Pela obsessão no dinheiro e estarem no mundo inteiro
Como o sexo e a droga, como a praga que roga
Profanando a falsidade em sua obra
Nos bolsos levam tudo e nada sobra
Corpo humano com o espírito da cobra
Perante ao seu rebanho são teólogos
Falsos diálogos, fazem-nos de monólogos
Senhores cobradores, angariadores de valores
Burladores, manipuladores
Pastores impostores
Estudaram a economia e auditoria
Aprenderam filosofia aprofundaram a cleptomania
Passaram por curandeiro investiram em tecnologia
Por baixo do nevoeiro manipulam a maioria
O crente é o cordeiro sacrificado todo o dia
Janeiro á Janeiro, pobre mais pobre que melancolia
Portas abertas para mais sacrifícios
Dízimos e ofertas mas não vemos benefícios
Partilhas o salário do suor do seu ofício
Acorda seu otário este é o momento propício
Consulta o oráculo, ATM em pleno cenáculo
Que espetáculo até científicas para o cálculo.
O bem soa, o mal voa, a verdade vem a tona
Isso me fez escrever e despertou-me a mona
De ano em ano, demostram o lado profano
Não precisam de um pano para enganar o Moçambicano
Omnipresentes são através dos medias
Tornou-se fácil manipular uma Lídia
Tudo nítido como o vidro cristalino
Mas há quem ainda crê neste falso ensino
Pastor sem outro ofício tem um vasto gado bovino
E tu achas que é um milagre do senhor divino?
Essas são as profecias da bíblia que não lês
Lê apocalipse, o que está escrito agora vês
Acredita António, a terra virou um pandemónio
Compartilha o património, livra-te do demónio
Disto estou certo; lúcifer actua por perto
Ele não é esperto, teu olho é que não está aberto
Cada um vê mal ou bem conforme os olhos que têm
Desta religião também admito, fui refém
Eles cobram, roubam e dizem: Amém
Será que este é o caminho para chegar ao além?
Lentamente o arrebatamento vem
Os que acreditaram vão a nova Jerusalém
A farsa do exorcismo abençoa da desgraça
Televisões e rádios até no centro da praça
Templos, cenáculos são as capas da farsa
Aqui tens a verdade propaga é de graça.
Geração da viragem da música sem mensagem
Jovens cantam bobagem em ganham imagem
Gera do artista que atingir o pódio
Impossível com tantos conflitos e ódio
Gera que fez o Hip Hop ganhar ramificações
«Underground» é a raiz do resto são só versões
Gera do PC, celular e telenovelas
Dos vândalos que não ficam nas celas
Gera do jovem que estuda embriagado
Do mulato que desfila de carro alugado
Dos musculosos com os populosos «six packs»
Que por semana com essas mamanas marcam «packs»
Gera dos putos que têm vícios
Largam os estudos e não arranjam ofícios
Da bebida forte, como o «whisky» asiático
Que degrada o organismo e põe o cérebro estático.
Gera da miúda que a curtição se entrega
Basta teres um carro, o sexo ela não nega
Da mulher que diz: não há amor sem dinheiro
Pensamento interesseiro
Por isso tem mais de um parceiro
Gera da criança que gera outra criança
Sonhos viram cinza e morre a esperança
Recordam o preservativo depois do acto
Gravidez ou SIDA, tarde para desfazer o pacto
Gera que reflecte quando vive as consequências
Da prostituída devida há más influências
Dos Pais que não assumem seus filhos
Abandonam a mulher grávida e seguem seus trilhos
Gera do cota que no final do mês some
Curte em bares enquanto a família passa fome
Daquele cota que tem uma catorzinha maluca
Motivo para chamar a esposa de velha caduca.
Gera que demonstra carência de conhecimento
A mesma que habita nesta tribo de cimento
Que ao invés de reunirem-se nos Ministérios
Marcham sem panfletos a cometer erros sérios
Gera que vem a capital a busca de oportunidades
Pobre nortenho é enganado pelas publicidades
Sem escola acaba como segurança
Decepção de quem viajou com esperança
Gera dos estudantes que abandonam a «School»
E acabam nas minas da África do sul
Por acreditarem nas aparências acabam na ratoeira
E são maltratados do outro lado da fronteira.
Dói acordar sem nada para fazer
Assistir televisão até a vista doer
Dormir, de madrugada e de tarde
Ir a igreja só para pedir consolo ao padre
Dói deambular com um canivete no bolso
De esquina em beco, em busca do almoço
Andar inseguro por medo da bófia
E por falta de condições perderes a sua sócia
Dói nascer, viver e morrer pobre
Usar joias apenas de cobre
Na rua, chamarem-te desgraçado
E apenas em festas, comeres frango assado
Dói ser vítima de «Bowling» na escola
Pela deficiência ou carência de mola
Dói estar na porta da igreja a pedir esmola
E para cativar os crentes ter que tocar viola.
Dói em seu país ser humilhado
Usado e abusado metaforicamente, pisado
Por um estrangeiro que escravizou-nos no passado
E por outros que tomam-nos o país ao bocado
Dói ser condenado sem ser o culpado
Incondicionado a um bom advogado
E só depois de considerado réu malogrado
É que a justiça descobre que foste injustiçado
Dói ver incompetentes em cargos de competentes
Competentes desempregados por não terem costas quentes
Uns sem ensino básico mas são tesoureiros
E os universitários como seus faxineiros
Dói ver um adolescente consumidor de droga
Com dezasseis anos dar um neto a sua sogra
Dói ver um jovem com pensamento imaturo
Que abandona os estudos e arrepende-se no futuro.
Dói arrendar uma casa recebendo salário mínimo
Pagar as despesas e dez por cento para o dízimo
Rezar, em um luxuoso santuário
E sua casa não ter se quer um armário
Dói nascer e crescer com o Pai ausente
Mãe desempregada e dependente
Sem dinheiro para uma faculdade privada
Juntar-se aos milhares disputando uma vaga
Dói nascer pra viver e estar a sofrer
Crescer sem nada ter e morrer sem o obter
Fazer um curso, não conseguir trabalho
Formar-se em um ramo e saltar para outro galho
Dói ver um jovem com distúrbios mentais
Invocado da palhota à mando dos seus Pais
Pais que fazem esses rituais para agradar os ancestrais
Com a finalidade de angariar certos meticais.
Sabias que é estupidez ignorar quem te chama
Sabias que o amor hoje em dia não têm chama
Sabias que o homem só quer o corpo da dama
Sabias que a mulher no homem só quer a grana?
Sabias a perfeição é fruto da calma
Sabias que a infelicidade da celebridade é a grana
Sabias que o homem peca fazendo sexo com a palma
Sabias que a fé pode salvar a sua alma?
Sabias que a guerra é sempre intencional
Sabias que o vício pode ser fatal
Sabias que o natal não é uma data celestial
Sabias que a bíblia é um alimento espiritual?
Sabias que Moçambique é mais que a capital
Sabias que nossa riqueza não é só cultural
Sabias que é uma dádiva a capacidade intelectual
Sabias que o limite é uma barreira mental?
Sabias que à IURD é um quartel de impostores
Sabias que os pastores são burladores
Sabias que eles também são cobradores
Sabias que no Cenáculo tem ATM nos corredores?
Sabias que cá há muitos investidores
Sabias que eles são meros exploradores
Sabias que os Políticos são prometedores
Sabias que a campanha é um ritual de enganadores?
Sabias que os Pais são mais que educadores
Sabias que os livros são mais que televisores?
Sabias que certos negros acham-se inferiores
Sabias que muitos brancos julgam-se superiores?
Sabias que América só causa dores
Sabias que a idolatria nos torna pecadores?
Sabias que o indício das eleições são os contentores?
Sabias que L.J. tem reflexos observadores?
Das paredes orgânicas da minha progenitora
Tanta coisa se passou, minha memória não ignora
Quatro quilos e duzentos gramas quando cheguei cá fora
Bebé saudável e passei pela incubadora
Noventa e quatro é o ano, Agosto se não me engano
Hospital Central de Maputo, parto cesariana
Mãe crente, de uma família carente
Dono do feto ausente, conheci o amor materno somente
Filho único educado a respeitar não pelos bens
Respeitas-me, respeito-te, não pelo que tens
Brincava na rua das sete às dezassete
Com os amigos, descalços, sem camisete
Luta punho a punho, não havia canivete
Conversas cara a cara, não tínhamos internet
Ao anoitecer, telejornal, novela e cama
Mata-bicho pão com «badjia» raramente havia Rama
Cresci a jogar tétulas, não tinha Super-Mário
Carrinhos de arrame, sem bolo no aniversário
Fiz um rolamento, chamaram-me engenhoca
Bilhares de papelão, minha imaginação era louca
Época de férias metia o pé até a praia
Nunca sozinho sempre com amigos da mesma laia
Nando e Hipólito, Lima, Acácio e Caló
Companheiros de infância nunca estivemos só
Fazíamos casinhas, brincando de Papá e Mamã
Todos disputávamos para o papel de Papá
Diferente de uns, nunca fui a creche
Aprendi sozinho a não mexer o que não se mexe
O vício pelo dinheiro não bateu a minha porta
Mas a necessidade sim, o motivo pouco importa
Comecei a vender sucatas ao pé do cinema «Charlote»
Semanalmente tinha que conseguir outro lote
A rua foi a escola, meus amigos os meus docentes
Meus familiares próximos também estiveram presentes
Na construção da personalidade e na minha educação
Palavras não bastam, agradeço-vos de coração
Por cada lição dada com dedicação
Por cada punição a cada má acção
Por cada correcção, por cada «sim» e «não»
E por tudo que não posso dizer nesta ocasião.
Primeiro me inspirei depois parei e pensei
Sentei e analisei, imaginei e anotei
Apresentei o que citei, cantei e gravei
Não falhei pois ensaiei, bem sei pois decorrei
Não plagiei criei, não cabulei, me preparei
MTA se intitulei e ao público me revelei
Se exagerei não notei, se errei melhorarei
Escorreguei e me levantei, não parei, abrandei
Não terminei pausei, um ano teorizei
Superei e retornei, trabalhos mostrei
Abandonos presenciei, desesperos notei
De grupos me divorciei, Hip Hop a sério levei.
Estúdios dispensei, no quanto improvisei
Com micro e fones que comprei e Samplitudde que baixei
«Mixtaps» compilei, lancei e divulguei
Rádio não precisei, TV nunca pisei
A escrita me viciei, a crítica me dediquei
Esquema rimático abracei e por inteiro me entreguei
Igual a mim procurei e nunca encontrei
Individualismo apostei e minha carga puxei
De desafios participei, fui derrotado e derrotei
Em locais onde passei, aprendi e assimilei
Sempre falei tudo que investiguei
E tudo que apoiei, sem abusar a lei.
Conforto, qualidade de vida, todos desejamos
Metas traçamos e nem todos alcançamos
Cobiça e inveja pelo caminho cultivamos
Tornámo-nos mundanos em busca do que sonhamos
Todos querem mandar ninguém quer ser ordenado
Cursam curtos cursos por um ordenado
E os sonhos de infância empoeirados no passado
Trocados pela ganância e um pensamento quadrado
Na busca excessiva pela riqueza material
Pelo poder universal, é o princípio do mal
Megalomania e Cleptomania são os rituais actuais
Quem diria que um dia se tornaríamos animais
Guiados por instintos de sempre querer mais
Insanos, famintos, profanos e irracionais
O ódio, o Amor, já nada se difere
A mão que ajuda-te é a mesma que te fere.
Lamentamos o que não temos, desperdiçamos o que temos
Dedicamos a nossa vida em alcançar ambos extremos
E no final da partida nenhum dos dois obtemos
Erros alheios cometemos, não aprendemos, não crescemos
Gastamos tanto tempo em penoso trabalho
Sem se apercebermos que o retorno é só sualho
Queremos criar, inventar configurar a natureza
E não conseguimos alcançar o vigésimo de sua beleza
Não existimos para criar, a natureza deu-nos o útil
Construímos, destruímos, vivemos neste ciclo fútil
E pouco evoluímos como seres pensantes
Nunca se redimimos e continuamos ignorantes
Teorias e teoremas sobre a criação do universo
E os pequenos dilemas mantém o homem submerso
Num mar em turbulência pela própria ignorância
Estamos anos-luz de distância para alcançar a bonança.
Ideais de um mundo perfeito já foram escritas
Descritas por artistas, cientistas e pacifistas
Muitos são os egoístas, poucos são os activistas
Que figuram nas listas em defesa de causas humanistas
O homem ainda sonha em mudar a humanidade
Mas não consegue nem a sua personalidade
Em seu imaginário altera a rotação da esfera
Mas por muito que queira, é só uma quimera
Sua preocupação é o crescimento económico
(A maior ambição?) projecto nano tecnológico
Para aplicação na criação do arsenal atómico
Até parece uma ficção mas nada disto é utópico.
(O hoje é atemporal a pugna imaterial
Cordial e abismal, expressa de forma musical
Sentimento universal para todo o ser natural
Sensato e racional, o escopo é espiritual)
Desejo a todos amigos e aos conhecidos
Novos, antigos, presentes e desaparecidos
Que cultivem o amor plantado com sabedoria
Isentem-se da dor, respirem a euforia
Iniciem os planos projectados há anos
Não temam os danos, aprendemos quando erramos
Somos todos humanos sujeitos a enganos
Mas sempre petiscamos quando experimentamos
O inimigo anda a solta a espera da sua queda
Sem razão de revolta atira-te a pedra
Ignore-o, continue o caminho é para frente
Se o tempo não recua, escolha sabiamente.
Quantas vezes tentaste sair do buraco?
Situações enfrentaste da vida sem taco
Punhos não cessaste quando estiveste no vácuo
Por melhoras esperaste e o tempo fez-te caco
Plantaste esperança, colheste desilusões
Nunca viveste a bonança só dilemas sem soluções
Rogaste ao «todo poderoso» bênção no trabalho
Pelo corpo poroso brotaste suor no soalho
Nunca foste preguiçoso em nenhuma actividade
Teu esforço penoso não trouxe-te felicidade
Embora virtuoso e dotado de sanidade
És muito orgulho para vender a dignidade
Uns sobem ao pódio, tu cavas a sua cova
Na pugna da vida, só levas sova
Até desperta-te ódio e percebes que é uma ova
E de cabeça erguida anseias uma posição nova.
Nesta longa-metragem, prossigo em viagem
Nas costas a bagagem em direcção a margem
Nadando contra a maré, puxando a ancoragem
Não vejo ninguém, tudo parece miragem
Amigos cantam vaias encaro como bobagem
São homens com saias que não têm coragem
Ignoro-os e prossigo, confiante na aragem
Sei que aos poucos consigo, a Fé, é minha vantagem
Eis aqui a mensagem se és da minha geração
Deixa de escutar música e ver televisão
Não acata a opinião pública eles não têm noção
Que cada pessoa é única nesta imensidão
Desapega-te do aparelho e da má socialização
Não sejas fedelho aposte em maturação
Oiça o mais velho e siga um ancião
Isto não é um conselho são dizeres de motivação.
Tenho metade da idade de um adulto de meia-idade
Vivo no centro da cidade, no seio da maldade
Estudo na universidade, digo com dignidade
Frequento com regularidade participo de toda actividade
Fiz algumas amizades com colegas de carteira
Cultivei afinidades assim mesmo na brincadeira
Com diferentes realidades e a mesma financeira
Potenciais capacidades adormecidas na carteira
Na minha comunidade a situação é igual
Integrados na sociedade construindo o capital
Conformados pela mediocridade imposta pela Moral
E é trocada a sagacidade pelo maldito metical
A nossa honestidade é compensada pela pobreza
E os iníquos de verdade beneficiados pela riqueza
Onde está a tal divindade que criou a natureza?
Abandonou a humanidade e deixou-nos na incerteza
Eu não perdi a sanidade, não se juntei aos ateus
Retorqui com seriedade a existência de um deus
E como não é novidade, nem os cristãos e judeus
Mostraram plausibilidade e apedrejaram-me como Galileu
Com esta agressividade dei basta a religião
Passei a tomar responsabilidade de toda a acção
Hoje recorro a criatividade para auto-superação
Enfrentando dificuldades sem recorrer a oração.
Sei que a malícia é o bem que beneficia o mal
O mau é alguém que cogita o tal
O Homem é o ser que se diz racional
Mas é difícil perceber se esse dizer é geral
Somos feitos de defeitos, perfeitos imperfeitos
Somos todos sujeitos ao engano nos feitos
Sujeitos insatisfeitos, seres malfeitos
Parasitas já eleitos pelos nossos eitos
Somos a tal criação a imagem do criador
Será que merece veneração no seio de tanta dor?
A minha é que não, fartei-me deste impostor
Sem nenhuma compaixão, incapaz de exprimir amor
Anos e anos cegado pelo senso comum
Todos meus planos, não interveio em nenhum
Inúmeros humanos submetidos ao jejum
São os mesmos manos que caem um a um
Sem razão ou motivo nascido nesta desgraça
Como homem nocivo estrangulado pela própria raça
Digo: deus não está vivo, se está, é uma farsa
Sendo mais pejorativo nunca existiu Arca de aliança
Na Arquibancada Céptica que há tempos critiquei
Mas a cada dialética repenso o que falei
Não me leves a mal irmão se te decepcionei
Mas o Pai celestial morreu e eu o enterrei.
Quem sou realmente para criticar o outro ente?
Julgar suas acções e rotular a sua mente
Dizer o que fazer, como deve proceder
Aconselhar a escolher, o que plantar, o que colher
Sou um Teórico aprendiz do discípulo sem mestre
Acredito no que ele diz e visto o que ele veste
Sentimentos superficiais robotizados por sua escrita
Acções artificias consoante o que ele acredita
Tenho preguiça em pensar, em reflectir até no espelho
Fico horas a meditar em frente a um aparelho
Música suave a tocar, «scroll» do rato a rodar
Dicionário para consultar e água para hidratar
Conheço a vida na teoria, na visão do escritor
Como viver com alegria, como amenizar a dor
Sei os passos para o sucesso, as etapas e o processo
Sei teorias em excesso, da criação do universo
Conceitos do amor e ódio, da paixão, da obsessão
Do caminho ao pódio, à primeira classificação
Técnicas de expressão vocal perante uma multidão
Da linguagem corporal de um bom anfitrião
Muita coisa sei que aprendi do livro
Mas nada pratiquei pois da fobia não me livro
Apenas li e memorizei para ser activo nas conversas
No princípio se empolguei, até lia as pressas
Agora eis-me aqui com teorias na cabeça
Pareço um manequim que não age mas pensa
A vida é mesmo assim (Sempre falta-te uma peça)
Não é diferente para mim, estamos juntos nessa.
Diferente de poucos, igual a muitos
Concordo com os outros em vários assuntos
Ente activo na prática, arrisco, por vezes petisco
Mentalidade eufórica (se respiro, logo existo)
Confesso que odeio folhear até uma revista
Livros pouco leio, cansam-me logo a vista
Sou vulgar, sou normal, sou anti-perfecionista
Mas o meu maior mal é ser um seguidista
Sou objecto de monopólio sem opinião formalizada
Como poços de petróleo (sou uma alma explorada)
Até que ando informado, embora não seja nada
O que me deixa preocupado é ter a vida automatizada
Apesar das minhas acções reflectirem as decisões
Fruto de reflexões, ainda colho desilusões
São estas situações que servem-me de licções
E despertam-me visões para ver a três dimensões
Eu insisto e persisto em tudo que cismo
Sem resultados não desisto, meu «ísmo» é o «Continuísmo»
Passivo a leitura, prático sem metodologia
Com garras e bravura enfrento a luta dia-a-dia
Não tenho cabeça dura, só não sou de teoria
Vivo a vida dura e supero-a sem anestesia
Pode até parecer loucura mas é a minha filosofia
(Da cama à sepultura, serei meu próprio guia)
Não será a literatura do Oriente, do Ocidente
Nem a sua cultura que fará a minha mente
Embora pareça miniatura perante a essa gente
Minha autonomia e envergadura
É que tornam-me excelente.
Olá velho amigo, como tem passado?
O mesmo comigo mas o dobro deste lado
Quero falar consigo tudo que me tem frustrado
Há tempos que não consigo, de hoje não passo calado
Já há muito tempo que corremos ao vento
É chegado o momento do nosso rompimento
O tempo que durou, passou muito lento
E tudo que ficou foi só, dor e lamento
Fartei-me de si e da nossa convivência
Quase tudo que perdi deve-se a sua existência
Se continuares aqui, partimos para violência
Hoje expresso-me assim porque perdi a paciência
Tu és má companhia, sem nenhuma virtude
Antes que vires fobia e eu me desiluda
Hoje é o dia em que tomei atitude
De escrever em poesia o quanto me prejudicas a saúde
Apoderaste-me devagar, como qualquer vício
Me fizeste acreditar em um mundo fictício
Ilusão e decepção, conheci desde o início
Quando o nosso laço de união se mostrou vitalício
A nossa triste relação isenta de cumplicidade
Tatuada no coração com uma suave agressividade
Deu origem a solidão e uma porção de insanidade
Mergulhei nesta escuridão com uma longa vitalidade.
Ambos somos crescidos com ideais desenvolvidos
Os meus mais passivos e os seus compulsivos
Enxerga-te caca, somos polos repulsivos
Tchau, «bye» e tatá, sem tratados ponderativos
Foi quando criança que ficamos conhecidos
Ainda na lembrança carrego feitos mal sucedidos
Comos os passos de dança, há tempos adormecidos
Arrancaste-me a confiança para vivermos escondidos
No rosto a confiança e o receio na mente
No dedo a aliança, no pescoço a corrente
No sonho a abastança mas a mão é dormente
E todo pendular na balança, causas tu, praticamente
Preciso de espaço, liberdade de agir
E um verdadeiro abraço para nunca desistir
Nem se for um pedaço é muito para progredir
Pouco a pouco, passo a passo, em mim deixarás de existir
Essa promessa te faço pois sei que vou conseguir
Romper de vez este laço que tanto tentas impedir
Ciente que o tempo é escasso e o final está por vir
Quebrarei até o aço se estiver a interferir
Ciente que não estou só quando vou dormir
Caem-me lágrimas de dó ainda ao se despir
Cubro-me com dominó e começo a reflectir
(Será que ato o nó?) tenho medo de decidir.
Onde estão os meus amigos quando eu preciso?
Quem são os meus amigos que até hoje não visualizo?
(São os novos ou antigos?), estou ainda indeciso
Não são os mortos nem os vivos (que fique o aviso)
Este monólogo não é recente e já me assombra o juízo
Quando olho-me atentamente, já virei um narciso
Embora descontente consigo soltar um riso
Vivo assim indiferente e apartado da «ISO»
Estou frustrado, zangado e sinto-me abandonado
No chão fui lançado, pisado e humilhado
Excluído, ignorado, sem motivo apartado
Quase sempre isolado, no ermo refugiado
O que fiz de errado? Por que sou desprezado?
Sei que serei mal interpretado pelo que tenho falado
Então, que fique explicado por que estou revoltado
(Males tenho enfrentado sem ninguém do meu lado)
Tudo que faço não presta, para vocês sou um falhado
Toda malta me detesta e na rua sou apontado
Tratado como a besta, de todo mal sou culpado
Mas se olhas a minha testa
Não há nenhum número marcado
Escrevo assim e assado, de como estou inspirado
Escrevo hoje estressado e amanhã mais relaxado
Escrevo o quanto sou odiado e o quanto posso ser amado
Mas escrevo preocupado se serei devidamente captado.
Não sou um chorão em busca de consolo
Se achas-me um bebezão, és mesmo um tolo
Isto sai-me do coração, digo-te, não enrolo
Estende então a sua mão, dá-me então o seu colo
É simples amigão, será que é pedir de mais?
Quero acreditar que não, sejamos cordiais
Estou sozinho na escuridão onde os demónios são reais
Afundo nesta podridão, deambulando em espirais
Conheço bem a solidão, já explorei todas vantagens
Hoje acabou a diversão, preciso de novas viagens
Sair do meu quarto, contemplar novas paisagens
Ouvir novos sons, escutar novas mensagens
Mas sozinho já não, necessito de um companheiro
Dispenso a multidão, procuro o verdadeiro
Os poucos que virão, que venham por inteiro
Está é a condição para atarmos o laço derradeiro
No Inverno, no Verão, no Outono, na Primavera
Em qualquer estação, estarei a sua espera
Serei o seu guião, seu escudo contra a quimera
E espero de si irmão que remuneres da mesma maneira
Termina assim este monólogo que inicia com uma questão
Os meus amigos quem são, os verdadeiros onde estão?
Será que aparecerão e os falsos se afastarão?
Ou nem se quer saberão por desconhecerem esta Compilação.
Eu sou um, ser humano comum
Nascido em um ano, em um parto cesariana
Obra sem um plano, fruto de um engano
Sou apenas um humano e por destino Africano
Vestido e alimentado apesar de ser um dano
Criado e educado por um casal Moçambicano
Onde a Mãe é maltratada por um marido insano
E ele é humilhado pelo patrão tirano
Mas meu Pai se esforçava pelo meu futuro
Enquanto a Mãe chorava naquele quarto escuro
Eu apenas observava que ser adulto é duro
Nada que vivi almejava por muito que fosse burro
Todos anos matriculava em uma classe diferente
Nunca reprovava era simplesmente inteligente
Não copiava, sabia naturalmente
Dedicava-se, encarava os estudos seriamente
Do pouco que tinha, da carência dos parentes
Firme se mantinha, até mostrava os dentes
Morávamos numa casinha, daquelas indecentes
Sala, sanitário, cozinha e quartos insuficientes
De bens materiais sempre fomos carentes
O amor dos meus Pais valia mais que mil presentes
Nunca pedi demais, apenas que fossem pacientes
Com os sonhos triviais que pareciam indiferentes.
Mas o tempo provou que a luta não foi em vão
O escuro apagou-se no findar da tribulação
Meu Pai alegrou-se e saltitou de emoção
A Mãe abraçou-me e chamou-me; Campeão
É assim que acontece, quando o sonho não esmorece
O espírito se enaltece e a força aparece
E quando o medo padece o caminho livre, logo vê-se
E tudo que você merece, com o tempo te pertence
Difícil é acreditar, é mais fácil imaginar
Não sou eu a afirmar, apenas estou a contar
O que muitos estão a vivenciar, outros por começar
Sem motivos para continuar, desistem de tentar
Qual a razão de respirar, beber e se alimentar?
Se não for para se esforçar, por uma causa lutar
Ficar aí a lamentar de nada te vai adiantar
Irmão tenta se animar que o mundo está a girar
Viver não é sonhar põe-te já a acordar
Com este modo de pensar não vais a nenhum lugar
Não sou quem vai ditar como deves-te comportar
A escolha é peculiar e o tempo está a passar
A vida é um mar, vive quem sabe nadar
Morrer é se afogar, apoia-te em algo para boiar
E se a vida for um pomar, devemos sempre cuidar
Constantemente regar para nunca deixar murchar.
Liberdade, liberdade, sinónimo de euforia
Acompanhada da responsabilidade, segundo a Filosofia
Liberdade é na verdade ingrediente da alegria
E todo ser com sanidade almeja ter algum dia
As escolhas que tomamos, caminhos que escolhemos
O curso que cursamos, o emprego que gostamos
A mulher que amamos, os filhos que educamos
E tudo pelo qual lutamos, sem liberdade a imaginamos
Tenho liberdade de viver a vida que me pertence
Liberdade de escolher aquilo que me apetece
Nascer, viver, morrer, depois não se sabe o que acontece
Então, deixem-me correr antes que o tempo me ultrapasse
Vocês adultos têm medo de nos ver a falhar
E começam ainda cedo a tentar nos acorrentar
Por isso mostro-vos o dedo, não refiro-me ao polegar
Vossa actuação é um enredo que não quero participar
Errar é humano, eu não sou um Avatar
Se hoje me engano, amanhã vou superar
Esconderem-me atrás do pano, de nada irá adiantar
Terei sempre um plano que me vai libertar
Se não confias em mim, quem é então o culpado?
Eu aponto a si por seres meu encarregado
Tudo aquilo que vivi foi fruto de um aprendizado
Do que vi, do que ouvi, na casa em que fui criado.
Assim a ofensa é dupla se me chamas mal-educado
Mas o problema não é a culpa para eu me ter revoltado
É a falta de desculpa que me mantém aprisionado
E a protecção que não faculta distinguir, o certo do errado
Os sonhos que eu tenho para o meu futuro
Batalho com empenho, sozinho eu aturo
Não recebo a vossa ajuda tão pouco a confiança
Mas isso nada muda, realizarei os sonhos de infância
Tudo que não tiveram quando crianças
Reconheço que me deram, desde a educação às finanças
E o que não puderam ser profissionalmente
Em mim elegeram como se eu fosse indigente
Os Pais têm o direito dos filhos educar
Não de esticar o peito para os intimidar
Tenho o dever e respeito de algumas coisas aceitar
O que nunca aceito é um preceito sem revidar
Uma coisa mais concreta é a escolha da religião
Qual a mais correcta, qual a melhor opção?
Fizeram-me acreditar que a certa é a vossa, mas não
É tudo uma treta escolho viver pela razão
E se um dia a queda encontrar-me no caminho
À direita, à esquerda ou no meio, sozinho
Não culparei a pedra, não culparei o destino
Assumirei a perda por muito que pareça tolinho.
Meu Pai biológico fugiu quando eu nasci
Minha Mãe criou-me com todo amor que mereci
Na casa dos meus avós, local em que cresci
No bairro da Mafalala que até hoje vivo aqui
Tudo aquilo que sei e tudo que aprendi
Dou graças a eles e amizades que colhi
E não a um deus que nunca se quer o vi
Que diz que me ama e que morreu por mim
Santa ignorância isso não faz sentido
Pare com essa arrogância não sejas fingido
Durante sua infância eras um ser temido
Ficavas todo comido quando fosses desobedecido
Matavas quem quer que fosse, sem dó nem piedade
Velhos, mulheres, até menores de idade
Não tinhas limites ao praticar crueldade
Desculpa lá, és mesmo uma divindade?
Falas sempre de amor naquele livro seu
Mas só patrocinas a dor, ainda exiges o meu
Respeito a si senhor, não, estou feliz como ateu
Folgo aos domingos e saio para beber «maheu»
Criaste-me do nada sem a minha permissão
Com liberdade de escolha como sinal de compaixão
Sou feito à sua imagem mas censuras-me a razão
Por que me deste então? Responda-me a questão
Sei que não podes do momento, tens de ouvir uma oração
Anotar um juramento, escutar outra confissão
Assistir ao sofrimento do mendigo deitado no chão
Que dorme ao relento cobrindo papelão
Por que permites o mal, se és «todo-poderoso»?
Se não acabas com o diabo é porque és medroso
E não me venhas com a falácia que seu pensar é misterioso
Acabe com essas tretas e prove que és manhoso.
Crias regras, absurdas de compadecer
Se és único ser supremo, não há lógica no seu proceder
Cá entre nós, diga-me o que estava a acontecer?
Quando criaste o Homem, estavas a um passo de enlouquecer?
Qualquer um ficaria, eu não te vou julgar
Sozinho no vasto universo, sem ninguém para conversar
Sei que é insuportável mas tu devias superar
Enfrentar seus problemas e tentar se acalmar
E não se rebelar pôr-se nervoso a criar
Um mundo para governar, um homem para te adorar
Dia e noite te louvar, de joelhos a implorar
Por um mundo novo sem o mal para atormentar
Egoísta, estúpido, egocêntrico, arrogante
Invejoso, maldoso, orgulhoso, ignorante
Malicioso, impiedoso, ser supremo principiante
De «todo-poderoso» não passas de um amante.
Tudo que falaste, tudo que escreveste
Todo ódio que demostraste com os crimes que cometeste
Não passavam de um teste (foi a resposta que me deste)
Eu não te devo nada pois, foi tudo que me deste
Se queres ser louvado procure outro burro
Que anda atrás da luz como se estivesse no escuro
Amizade e amor seguro, por hoje é o que procuro
Se não podes ajudar suma, que já não o aturo
E avise suas ovelhas que este carneiro virou lobo
Não me abordem na rua, não me façam de bobo
Não me deem folhetos, revistas nem amuletos
E não me falem de um deus que incentiva incestos
Para mim basta, estou indiferente a tudo
Acordo, carrego a pasta, vou a busca do meu canudo
A fome em África é vasta por um motivo absurdo
Para mim já basta rezar a um ser mudo.
Pai-nosso que estás no céu, o que fazes por aí?
Vem a nós o seu reino no Iraque, no Haiti
Seja feita a sua vontade tanto no céu como aqui
Livrai-nos do «malamém» e do fanatismo por si.
Um dia acordei e do nada existia
De seguida chorei, respiro desde esse dia
De onde cheguei? Da barriga, foi o que ouvia
Na época acreditei, negar não podia
Cresci convicto da existência de um ser divino
Que criou o céu, a terra e o líquido cristalino
E teve um filho que a transformou em vinho
Este foi o ensino me transmitido desde menino
Até que um dia despertei de repente
Eu não sabia até então recentemente
Que percorria por um trilho cegamente
E tudo que eu via foi criado pela mente
Mas como poderia ter percebido anteriormente
Desta cegueira se via sempre o sol nascente?
E como poderia convencer o outro ente
Que fomos manipulados desde o ventre?
Assim fiquei, percorro por um caminho diferente
Dos meus parentes e de amigos principalmente
Olhado de lado por pensar diferente
Abandonado, deixado, isolado de toda gente
Fazer o quê? Se não seguir em frente
Adaptar-me a vida de um jovem descrente
Aproveitar às horas que perdia semanalmente
Na igreja, quatro horas especificamente.
Levantando do chão como José Saramago
Dei costas a religião com um semblante amargo
Anuncio a revolução a este combate armado
Munido da Razão, tenho ateísmo como aliado
Dogmatismo e cristianismo é tudo igual
Catolicismo, islamismo, et cetera e tal
Mas quem sou eu para criticar afinal?
Um neo-ateu, que leu e acha-se intelectual?
Não, acho que não, deixo isso ao vosso critério
Rezem ao vosso deus para que desvende o mistério
E espero, que seja antes da minha ida o cemitério
Porque o tempo é escasso e eu levo a sério
Deus pode isso, deus pode aquilo
Deus pode tudo e comunica-se em sigilo
Deus não faz o mal, permite o cancro do mamilo
A SIDA, Pesticida, sofrimento no asilo
Morte nos hospitais, desastres naturais
Crimes paranormais, corrupção nos tribunais
Saque de dinheiro em edifícios paroquiais
Em igrejas, que mais parecem centro comerciais
Pauso por aqui, a lista seria interminável
De futilidades, de um ser abominável
Sinceramente falando, que currículo desagradável
O mais engraçado, é que alguém o acha amável
Só mesmo rindo, calado e assistindo
Aproveitar o dia lindo, vendo o céu se abrindo
A vida são dois dias, nascer depois morrer
Outros são utopias nunca irão acontecer.
Pessoas quietas têm mentes barrulhentas
Pensamentos rápidos, com palavras lentas
Por fora são flácidas, por dentro violentas
Até prova do contrário não são rabugentas
Discordam das ideias que vão contra seus ideais
Não são manipuláveis como as pessoas normais
E apesar de acreditarem que viemos de animais
São meigos e simpáticos para com os demais
Ignorados, destratados, representam a minoria
Os super-dotados, a maioria com miopia
Conhecedores devotados no cultivo da sabedoria
Observam calados a vossa hipocrisia
Autores de teorias, trovadores de poesias
Maestros de sinfonias, destros em filosofias
Conversadores versáteis pela bagagem de conhecimento
Quando olham uma parede, veem além do cimento.
Com a «caixa do pensamento» decifram as equações
Que se encontram ao vento, em sucessões
Antecipam um evento, em casa de calções
Fazem o devido reconhecimento e os planos de acções
Não creem em deus nem em contos de fadas
Apostam nos seus familiares e bradas
Praticam o bem, a troco de nada
Diferente de quem espera por palmadas
Mulher..., não é o que parece
Acham que não quer, que ninguém o merece?
Enriquecer, envelhecer, sozinho no estresse
Adoecer e depois morrer, não, ninguém merece
Ser igual é chato, ser diferente é duro
Dou por mim estupefacto, encostado no muro
Pelo simples facto de instruir um burro
Ser ignorante de facto hoje em dia é mais seguro.
Há perguntas que ainda não têm respostas
Embora outras tantas com afirmações supostas
Como baratas tontas, apressados tomamos notas
Escrevendo ideias em palavras soltas
Rimas de amor, paixões e revoltas
Contra o opressor que o maldizes e votas
Contra o pastor que te toma as notas
Em nome de um senhor que cegamente o devotas
Sentirias minha dor se na minha pele estivesses
Sou além deste amador que na escrita conhecesses
Exprimo de sem fulgor a dor da multidão
Sou um reles narrador movido pela obsessão
Escrevo tudo de coração, desde o princípio fui puro
Não tenho uma legião, simplesmente não procuro
Sou apenas um embrião, que ambiciona ser maturo
Permanecendo «Underground», ciente que o caminho é duro
Conciso na visão acerca do futuro
Batalho desde então, sozinho, no quarto escuro
Distante da distração, só aqui me sinto seguro
A vossa falsa opinião, juro que já não aturo
Mas não sou tão chato assim à ponto de recusar
Opinião doutro MC que só me vem a beneficiar
Apenas fechei-me aqui no meu próprio lugar
E prometi não me adaptar a quem me quer rejeitar.
Sem receio ou censura, sem desvaneio vou escrever
A rima mais pura e verdadeira sem esquecer
De representar a cultura que ensinou-me a ser
Para além da envergadura que muitos sonham em ter
Hip Hop da rua é a cultura que refiro
Olhado como pobre por suportar o martírio
Afastado dos nobres isolado no retiro
Ideias como essas são frutos de um delírio
Pois pobre sou mas não completamente
A falta de dinheiro não me torna indigente
Sou livre, sensato e são de corpo e mente
Concreto, não abstracto e amigo de boa gente
Fui educado pelas ruas não por falta de parentes
Agarrei-me as duas escolas diferentes
Com unhas e dentes, em todas as vertentes
E hoje sou um discípulo daqueles competentes
Único RAP digno vive e fala a realidade
Afirmo pelo desígnio explícito na oralidade
O MC tem um papel importante em sua comunidade
Ariscar a pele em prol da verdade
Hip Hop é uma actividade de muita responsabilidade
Mesmo quando usado para outra finalidade
E embora escusado em sua musicalidade
Os que respeitam o legado, o representam com criatividade.
Não tenciono por nada ser a próxima celebridade
Ergo a caneta gastada, com mês de idade
Traço a letra alinhada aos sucessivos versos
Mente entusiasmada, explorando universos
Pouco serei reconhecido por este acto solitário
Escrever feliz e aborrecido como se construísse um diário
Muitos me têm esquecido, poucos me percebem
Não me dou por vencido nem convencido que não me recebem
Não sei ainda ao certo qual é o fim disto
Embora conciso decerto, escrevo e insisto
O amanhã é incerto, aldraba-se quem o tem previsto
O agora é que existe, aproveito e não desisto
Quero sair dos bastidores, da sombra das cortinas
Encarar espectadores, espantar as rapinas
Quero estar com trovadores escalando a pé colinas
Não procuro aduladores nem intimidades com meninas
A solidão me basta mas a fama não nego
Letra tenho tanta de transtornos que carrego
Depressão me persegue com martelo e prego
Mas ela não percebe que nunca me entrego
E se a morte é para todos, então não tenho medo
Vou escrever e escrever até sangrar os dedos
Fazer da caneta e a sebenta meus brinquedos
Um dia serei ouvido, reconhecido, tarde ou cedo.
Começou na curiosidade, experimentei ao acaso
Naquela ingenuidade era um papel raso
A ideia era rimar, métrica não vinha ao caso
O mais rápido terminar, obedecia um prazo
Em uma viagem de ida, com passagem de volta
Atraído pela batida, a mão ficou mais solta
Cabeça toda pronta, cegueira conheceu a morte
Rasguei meu passaporte e abracei esta sorte
Sorte de aprender quando estou a ensinar
Sorte de poder falar a rimar
Sorte de escrever, sem nada para limitar
Isto me fez conhecer meu próprio limiar
O norte é a frente, a morte é a meta
Métrica diferente na voz e na letra
Cai areia da ampulheta eu sentado num cometa
Viajando pelo planeta, com caneta e sebenta
Mas nem sempre é assim, imaginação esgota-se
Transpiração entra aí quando a mente encontra-se
Em transe temporário, fora da órbita
Aciono o modo solitário, pratico a mania mórbida
Sem grupo ou banda, sozinho no «Under»
A mim ninguém manda, MTA, só anda
Sem grupo ou banda, sozinho no «Under»
E se o reconhecimento não vier? MTA, não se zanga.
Cinco anos na activa, já sou licenciado
Manter a poesia viva, (cumprindo o primeiro jurado)
Depois da positiva com a obra «Verbum Pro Verbo»
Cheguei a conclusiva que sou um bom servo
Entreguei-me por inteiro tal como advertido
Fiel mensageiro, requisito cumprido
Desde sempre verdadeiro, mais outro obedecido
E tudo que me é retribuído, é um público ensurdecido
Ninguém me escuta, isso tem em aborrecido
E não há desculpa que me deixa convencido
Que o conteúdo que trago passa despercebido
Isso não acredito, mesmo sendo introvertido
Juro meu irmão tentei parar de escrever
Mas essa opção não me cabe escolher
O cérebro e o coração são os comandos do meu ser
Não posso dizer não, apenas proceder a obedecer
Na auto-exposição, apostei em demasia
Canção em canção são, tristezas e alegria
Se verso fosse um grão de arroz não emagrecia
Desnutrição não preocuparia, gastrite não temeria
Só para a minha informação, o que disse é utopia
Caio em depressão só de saber que a poesia
Que escrevo com dedicação não passa de uma porcaria
Ao desgosto do cidadão influenciado pela maioria
… Globalização.