Lis Tavares.
Não consigo dormir direito à noite, não sinto fome, não sinto vontade de nada, na verdade. E eu só queria conseguir sentir alguma coisa no meu coração, queria sentir que tenho um e que ainda bate aqui dentro. Mas os cacos se resumiram a pó e por serem pó é difícil juntar tudo novamente sem faltar uma parte. Porra, eu só queria sentir alguma coisa, eu só queria me sentir importante e amada; eu só queria que as mágoas sumissem, que as lembranças se esvaíssem ou fossem apagadas, porque por mais boas que sejam, só estão causando o mal. Eu só queria que isso tudo passasse, que as coisas melhorassem, que as pessoas se importassem de verdade, que os dias não fossem tão longos e sombrios assim. Estou no meu limite, estou exausta, estou sem animo, sem vontade, sem rumo, sem sentido, sem esperança, sem fé, sem amor e sem abrigo. Minha alma definhou, minha felicidade desapareceu, meu peito apertou, minha garganta sufocou e eu morri por dentro. Eu era tão cheia de coisas boas, tão cheia de amor e agora me tornei oca, vazia, sem sentimentos e ainda mais fria. Fecharam as janelas da minha alma e a escuridão tomou conta do meu ser, não existe mais aquela luzinha lá no fundo; não existe mais aquela voz sussurrando baixinho que tudo vai ficar bem; não existe mais aquele fiozinho de esperança que costumamos nos agarrar quando tudo está difícil. Não existe mais nada além de vazio. Minha alma morreu e eu também morri por dentro.
Fui ficando fria ao longo dos anos, sempre esperando por alguém que não iria voltar. Fui perdendo as forças, os sentimentos, as vontades, os desejos, os sonhos, os planos e a vontade de continuar a viver. Enfrentei tantos temporais, tantas nevascas, tantos ventos fortes e no final virei isso, um iceberg, um inverno prolongado, com previsões de muita neve, chuva, raios e trovoadas, o ano todo, a vida toda. Coração de gelo, não bate e nem apanha, ele está parado e inabitável. Ninguém aguenta um frio de -100º, ou seja, ninguém aguenta viver aqui dentro. E foi isso que restou, uma longa e devastadora avalanche de sentimentos e sonhos congelados.
Quando as pessoas começarem a respeitar umas as outras o amor se tornará mais presente no meio delas.
Quem vive fugindo dos mares bravos e inquietos e só atraca em portos seguros, nunca irá desbravar terras desconhecidas, nem construir novos portos.
Não tem como esquecer o passado, ele faz parte de nós. Temos que nos acostumar com as ausências que ele trouxe e com as dores que ele causou. Só assim conseguiremos seguir em frente.
Hoje eu estava mexendo nos meus rascunhos, nas notas do celular e achei o texto do pedido de namoro que te fiz, junto com a foto do meu cachorro com a plaquinha, que por sinal, não durou dez segundos. É, exatamente um daqueles tantos pedidos que você não aceitou. Eu o li várias e várias vezes e enquanto as lágrimas escorriam pelo meu rosto, acabei lembrando do que “não” vivemos e por mais que eu diga e finja que está tudo bem e que eu estou seguindo em frente, aquilo me doeu muito. E fez desmoronar toda a barreira que eu construí em volta do meu coração e eu percebi que o que eu construí, na verdade, foi apenas uma máscara pra ninguém notar o quanto meu coração ainda está ferido e chorando por você. A falta que você me faz é gigantesca e mesmo sabendo que você não sente nada por mim, continuo sentindo tudo por você, involuntariamente. Parece piada, mas eu continuo esperando você voltar, mesmo sabendo que tem 100% de chances disso não acontecer nunca. E eu te espero porque eu me sinto sua casa, eu vivia sozinha e de repente você chegou, conquistou um espaço no meu coração, reformou as paredes, o teto, o chão, mudou os móveis, ficou por um tempo e depois foi embora largando tudo, mesmo eu te pedindo pra ficar. Sua presença não existe mais, mas a mobília e o amor continuam aqui, largados as traças, meio empoeirados e precisando de reforma. Mas ainda assim, resistindo ao tempo e a falta de cuidados.