Lilian Baroni
Se existe destino, eu quero o acaso a surpreender-me. Se existe recompensa, serei boa aluna. Se existe outra vida, eu quero o encontro. Se existe o céu, eu quero a paz. E na rotina morta dos meus dias, eu quero aquela fala firme, aquela força azul, aqueles olhos...
Eu não posso florescer se não tiver uma raiz plantada. Se não puder me alimentar da força da vida. Não sei onde nasce, para onde vai esse rio que a todos carrega. Às vezes fecho os olhos e vários quadros pintam-se à minha vista. Aquarelas que representam o que fui e o que quis ser: o sol iluminando caminhos, sorriso revelando intenções.
Não vou me enganar. As palavras, trancadas, prendem-me a idéias, riscos.Vou querer descobrir o outro lado: entregar-me ao frio e ao escuro para, então, renascer luz.
Minha eternidade já não cabe mais em mim.
Brilhos diferente revelam o meu óbvio.
Minha metade eu faço, completo.
Acabo em transparências que não conheço.
Meu corpo cede à ilusão.
Música, toque, felicidade em gotas,
Inundam , vazam, encharcam meus dias.
Lágrimas de estilhaços internos carregam os meus restos,
Para que a vida possa sorrir,
Calma como a velocidade de uma brisa.
Levando o meu passado, atingindo os meus desejos...
Meu coração desmaia em tristeza
E depois explode em correnteza,
Deixando pulsar essa saudade,
Sabendo que jamais viverá, de verdade,
Se for apenas da lembrança do que é o Amor...
Quando esse véu me cobre os sentidos
Minhas asas se recolhem
A manha me encontra com o olhar longe...
Separo-me de minhas palavras sagradas,
Sou um ponto dentro de mim.
Esqueço-me de meus vôos
Do meu canto nas estrelas...
Esqueço-me porque parti,
Porque é preciso estar aqui...
Eu sou como a brisa que completa a manhã
Eu sou como a cor que tinge a vida
Estou na vontade de cada um que sonha...
Mas, quando esse véu me cobre os sentidos...
Esqueço...
Mergulho no abismo
Sou apenas um ponto dentro de mim.
Lílian Baroni
A vela se acende
E o tempo não apaga
O vento passeia carrega a tua fala
Palavras arranham sentimentos
A dor não chorada
É dor aprisionada
Faz frio, faz calor
Ai de mim que não sei o que é o amor
No arrepio das entranhas
Canto uma canção
Minha voz não é desse mundo
Também não é meu coração
Quando eu chegar a meu destino
Descansarei meu corpo e minha alma
Saberei quem sou, quem fui
Deixarei pra trás o medo
Voarei pra além de todos os segredos
Comigo fica apenas uma lembrança,
A de um olhar que nunca foi meu
A de um beijo que nunca aconteceu...
É em mim,
Nessa ponte que me liga ao labirintos do meu Ser,
Que existo, em verdade
Não sou bonita
Não sou feia
Sou a energia pura
De todas as emoções que neguei
Todas as lagrimas que já chorei
De todo o amor que já quis pra mim,
E também de todo o amor que já vi partir...
Permaneço
Nunca voei na liberdade que me faz
Nunca pronunciei a palavra que me esconde
Nunca dancei esse movimento que cresce e explode em suavidade,
Dentro de mim...
Meu espírito, Ele é...
E me faz completa
Mas não permaneço Nele.
Tragam-me os medos
E a poeira dessa vida
Vivida em confusão
Lançam-me em tristeza as cenas de minha prisão
E no mais escuro de minhas escolhas
Acendo a luz de um clarão
E peço...
Que me iluminem o coração.