Leunam Osodra - José Manuel Cardoso
Tou sentado a porta de casa
E vejo os netos que queríamos a brincar
Chamam-me avô como tínhamos imaginado
Os girassóis que sempre gostaste estão lindos
E até agora nem uma única doença me afeta
Meu coração continua poeta
E passo os dias a jogar ao dominó com os vizinhos, tal como tínhamos planeado em jovens
Tantos planos que foram concretizados
Como o sonho de nos casamos
E nem um do outro fomos convidados
Nunca prestei para ti.
Tive medo
Fui fraco
Por amar-te tanto
Evitei sofrimento maior, mesmo ele não sendo certo
Fui burro
Antecipei a separação por receio de deixares-me por outro amor
E agora sofro
Os anos passam e ficou o "se"
Se eu fosse mais corajoso
Se eu não fosse tão covarde...
Sou mais insignificante que um grão de areia no deserto
Sou tudo para ninguém
E sou nada para alguém
E meu ego entrou em desespero
Sou fraco
Tive medo
Antecipei o pior acontecimento
E fujo covarde
Mostrando ser imune ao que me destrói por dentro
Talvez um dia
Renasça coragem e vontade de viver
Porque agora sou um inseto repugnante
Sem amor próprio e sem chances
Vou me lamentar porque nem vontade tenho para cantar
Nem que a música seja melancólica
Nem que seja a solo e sem palmas
O fundo do poço já era bom
Quero pular de alegria sem ter que sofrer noutro dia
Quero tudo de mão beijada mas nada que seja em demasia
O que é em demasia estraga.
Voar tão alto pode fazer-me esquecer como pousar
Beijar todos os dias sem me fartar...
Sentir o que é bom sem ter medo que possa passar
O tempo dá o tempo tira
O amor dá o amor ensina
A dor mata a dor irrita
Estou tão só ao fim ao dia
Tanta coisa quis, porque quis conhecer... Se não existisse, nem tão só no pensamento - não queria conhecer.
O meu amor mudou de nome
Agora chama-se "Saudade"
Vivi toda a minha vida pensando que ia ter um amor para a vida toda
Mas nem tive um amor
Nem vivi com nenhum deles a vida toda
Hoje sei que isso é mentira
Mas será que não mentirei também?!
Se achar que cada vez que amo
É o amor dá minha vida...
E vida só tenho uma
As borboletas da minha barriga
Viraram traças
A indiferença de olhares,
Provoca mais...
Querer ser tanto para quem não nos vê.
O amor perde-se o amor ganha-se
O amor perde na ausência do toque do olhar
O amor ganha-se no toque no olhar
O amor perde-se na ausência do diálogo
O amor ganha-se no diálogo
O amor perde-se nas discussões e nas costas viradas
O amor ganha-se a socializar e no peito aberto
A falta, faz falta..
O tempo a seu tempo