Leticia Mello
Hoje eu tenho muito mais medo de não viver do que de morrer, já que a morte é inevitável e imprevisível, enquanto a vida é uma escolha diária.
A impermanência é a constante da vida, e por mais que a gente tente parar o mundo no lugar que ele está, por mais que a gente sinta como se estivéssemos sob controle de tudo que fica imóvel, congelado, criando a falsa noção de que fizemos a terra parar de girar, estamos só nos iludindo que conseguimos controlar o que é natural da vida: o movimento.
É mais fácil ter companhia na gaiola pra ver pelas frestas a vida passar do que confiar que suas asas sabem voar quando se deparar com a imensidão do desconhecido.
E o que elas esperam de nós na maior parte do tempo? Que sejamos felizes quando é permitido ser feliz: nas festas e eventos do calendário. E que no restante do tempo estejamos insatisfeitos aguardando essas datas chegarem. Esperam que você̂ abra mão dos seus sonhos em nome da família, da religião ou de um relacionamento, porque o oposto disso seria uma heresia. Esperam que você̂ diga o que eles querem ouvir, o improviso os deixa deslocados. Esperam que você̂ sinta falta deles, porque você̂ se sentir completo sozinho os deixaria arrasados. Esperam que você̂ reclame e culpe alguém pelos problemas. E que jamais os solucione, senão a razão deles para viver acaba.