Leonardo Corrêa
O Autor e a Obra
Sou quem me modifica,
Quem me policia e me constrói,
Quem me decepciona e me felicita.
Sou intempérie do pensamento,
Inverso dos meus intentos,
Integrante de um Universo
Contido em um momento.
Sou as asas daquela borboleta, ou um furacão na China.
Sou o autor e a obra.
A antítese.
A metáfora.
A metonímia.
Infortúnios
Tenho as lembranças de quem tenta.
Pudera ter outrora acertado,
ter seguido um rumo não atravessado,
ter cedido menos ao que me atormenta.
Ter sentido o momento da mudança,
novamente, visto o ciclo que se encerra.
Ter me aguerrido menos a uma terra,
que trouxe mais infortúnio que esperança.
Ter premeditado o pesadelo,
com tanto cuidado e certeza
que o mal fosse embora com a noite
Enxergar com o espírito aberto
a consequência dos futuros atos,
antes dos anos passados.
Passeio Noturno.
Parei para realinhar meus pensamentos!
A noite novamente baixara mais cedo.
A Lua uniu as sombras do arvoredo,
Em um Breu que tornava vivos meus tormentos!
Levei minha febre louca à boca seca,
Na tentativa de espantar o meu temor.
Sonhei minha morte em passos que se estreitam,
objetivando revelar o meu horror.
Os passos largos que eu já tinha caminhado,
Tão lamentados por terem sido em vão.
O andar já tinha tomado a direção,
de rumos loucos pra terem sido trilhados!
Levo-me a uma nova reflexão.
Paro para realinhar meus pensamentos.
A luz dissipa sombras e escuridão.
A noite sempre me deixará mais atento!
Um Poeta
Sou um Romântico!
incurável, entregue ao drama,
a ingênuos sentimentos de quem ama.
Sou um Romântico!
Sou um cético!
Incurável, entregue à dúvida,
de Deus , do céu, de mim, do mar, do mal, da morte,
das Súplicas.
Sou um cético!
Sou racional!
Indubitável, entregue à equaçôes.
Deduzo, induzo, analiso. Tenho as explicações!
Sou racional!
Sou um filósofo!
Inadvertidamente entregue à busca,
do saber, do universo e natureza,
de ponderação e de clareza.
Sou um filósofo!
Sou um poeta!
Inteiramente entregue à arte e à beleza,
do mar, do mel, do céu, dos olhos da morena,
das cantilenas e do som do violão.
Sou um Poeta!
Essa Cidade
Ah! As ruas da cidade
embebidas de tristeza,
são malhas de tal beleza,
são rios de temeridade.
Nos caminhos da vontade
repletos de estranheza,
nos confins sombrios, clareza
na nobreza, enfermidade.
Onde andam os perdidos,
Onde correm os afoitos,
Onde se encontra os amigos
Quem procura a igualdade,
Quem desdenha a verdade,
Convivem nessa cidade.
Gostaria
Gostaria de ter certeza
de simplesmente poder dizer e ser entendido
Ou de não precisar dizer
Gostaria de me expressar livremente
de te ver e não esbarrar no receio
de perder o que ainda não tenho
Gostaria de saber
Perguntar com o olhar em ter em rersposta sorrisos
de poder contornar os seus frisos
de estar presente em você
Gostaria de envolver-te
entre meus braços e lábios
Ficar em silêncio sem constrangimento
de resolver nossas futuras diferenças
e sobrevivermos felizes ao tempo
Devolução Necessária
Tento novamente escrever alguma coisa inteligente ou poética, ou ainda, romântica. Todavia esbarro na falta do que dizer ou no medo de dizê-lo.
Poderia dissertar vagamente sobre o amor. Um tema quase sempre bem aceito e nunca verdadeiro. Por quê? Como poderia ser descrito em palavras um sentimento?
O que é descrito, são as nossas impressões sobre ele, ou seja, nós o sentimos pela semelhança do que lemos, com nós mesmos!
Mesmo assim insisto!
Pois se posso fazer com que entendam algo pela semelhança dos nossos sentimentos, é possível que alguém saiba exatamente como me sinto. Como uma mensagem codificada que se decifra.
Eu deveria ter dito...
Ter roçado em teus cabelos,
Insistido em meus meios,
para não tê0la perdido.
A Poesia é de quem a inspira, não de quem a escreve.
Dona do meu texto!
Este texto é uma confissão, declaração, um desabafo.
As palavras escritas são normalmente mais belas que as ditas, pois são permanentemente belas, enquanto o falar perde-se no tempo.
Contudo, quando o dizer, constante na memória, nos transporta a um mesmo ambiente, um mesmo impacto da primeira vez, desfaz-se a necessidade de papel.
Admira-se mais que a construção elaborada das palavras a sensação que elas nos trazem.
Mesmo assim escrevo!!!
Quero sobreviver ao tempo em alguma parede de quarto, delicadamente recortado e colado por atenciosas e ternas mãos.
Quero que sorriam para mim quando eu for lido, e quero ser constante fonte de inspiração.
Mesmo assim escrevo!!!
Pois é mais fácil se livrar de convenções sociais, bloqueios pessoais, ou medo! Medo de mal interpretação. Medo de desistir de dizer. Pois as palavras ainda poderão ordenar-se, procurando um melhor sentido.
Mesmo assim escrevo!!!
Por não poder deixar de escrever. Por saber que serei bem vindo.
Escrevo para você. olhos amigos, donos deste texto, portanto, deste escritor.
Escrevo para que você sorria, e para que me faça sorrir.
Escrevo pelo interesse de poder lê-la como resposta.
E,finalmente, Escrevi a mensagem que gostaria de ter dito.
Imóveis itinerantes.
Lençóis brancos, como fantasmas, imóveis, assustando uns aos outros, eternamente, sem riscos.
Esperam a sorte. Um fortuito movimento que lhes faça surpreender, uma fresta na antiga madeira, um sopro de novidade, um fluxo de incerteza.
Se pudesse a luz escapar à sua falta...quantas novas sombras para admirar? Quantos quase sim, por baixo dos lençóis?
Mas nem sombras há.
Não! Não! O tempo virá!
As frestas serão lacunas, não mais se edificarão.
Não haverá empecilho ao romper do dia, o correr do ar, pois não há eternidade, há movimento.
Apenas movimento.
Lençóis brancos, como fantasmas, itinerantes, descobrem uns aos outros.
Fenda dupla
Algumas vezes me entorpece, algumas vezes me envenena.
É transferível, a dualidade humana, aos objetos?
Às cidades?
Esse mesmo chão que me encanta em seu movimento, que me aquece, me conforta, o mesmo chão me afasta e me entedia, me angustia, me revolta.
Ou será que ele não muda? permanece estático, e eu, apenas eu me modifico?
O quanto do que eu sou resiste ao onde sou? o quanto o onde estou resiste ao que eu faço?
O quanto o que eu escolho, escolhe à minha volta, por outros? o quanto as escolhas alheias falam em mim?
Talvez o chão apenas se mexa, e é no movimento que exista a incerteza, vetores cruzados, e o estático seja um resquício, uma impressão.
E a vida se modifica quando se observa, enquanto se observa.
E eu observo!
Procuro o que corrobore meus vetores, enquanto tudo eu mudo, me muda, à minha volta.
Algumas vezes me enveneno, algumas vezes me entorpeço.
Diálogo incompleto
Sabe de uma coisa? Eu já escrevi esse nosso diálogo.
Não com as mesmas palavras ou vozes, mas o sentido.
Com certeza está perdido em algum caderno dos muitos que eu tenho, talvez em até mais do que apenas um deles, entre os textos filosóficos, os estudos musicais, os desenhos abstratos, os sonetos incompletos.
Talvez até mesmo esse diálogo esteja incompleto...e talvez sempre se incomplete*.
Que seja assim!
É preciso que haja algo a se dizer.
***
Você está muito bonita! Você é muito bonita. Inevitavelmente. Mais do que antes, ontem ou no início da frase, mais do que eu possa perceber.
Que sorte a minha! Que triste eu sou!
Não vá! Não dessa vez, esqueça a distância.
Será muito arriscado? O que você faria?
Obrigado! Que feliz eu sou!
Posso contar com você.
Pode contar comigo!
Ilusão permanente
Você poderia ser minha!
Se houvesse quem pudesse ser
Minha!
Se não evanescesse, pela própria essência, fugidia, a posse.
Ilusão permanente de quem almeja!
A solidão
A solidão é o dreno da alma.
Você diminui até que seca, e fica vazio.
Vazio de vida, vazio de forças.
Torna-se terra erodida, e as folhas não mais caem em você.
Você envelhece.
Como fendas - as rugas no espírito - na secura do chão.
Triste pensar único. Sem resposta.
Ardida aridez no caminho. Todo pesar deixa rastros.
Deixar de mover é permitir o enterro!
Vejo uma nuvem escura.
É chuva que alaga o vale e responde com lama e sujeira.
à Procura
Me perco no mar, seus olhos, na ressaca.
Me perco nos lábios, seu canto, em suas vagas.
Procuro nas curvas do mar, as suas, e me perderei nelas!
Música que a vida me fez seguir.
Estarei no oculto dos oceanos
com cardumes luminosos,
desbravando seus mistérios.
Estarei na espuma que beija a areia,
no horizonte que aporta o destino.
Onde chegue sua voz.
Naufragarei mil vezes em busca
desse encanto mais que encantamento,
que na melodia, pairando com Éolo,
alento me traz, ao sorrir.
E a encontro, afinal, minha Sereia,
Minha vívida lembrança que a anima.
E eu, marinheiro, me transformo em poesia.
Para sempre alcançá-la, em meio às cheias.
Diferente
A estranheza que causo ao passar,
ao falar, enfim ser, simplesmente.
O visível torpor é latente.
Não se pode conter ao olhar.
Se tão cedo já vinha escutar
o espanto dos meus divergentes.
O quão pouco adequado me sentem?
Quanto aprovo do jugo ao calar?
Poque sempre me vi descontente
entre sábios a me conformar
em seu conhecimento aparente.
Que me tenta categorizar.
Isso fere, é muito diferente
da loucura que vem libertar.
Ontens
Ontem eu cheguei.
Quisera ter partido.
Estivera arrependido
da rotina que criei.
Hoje eu irei!
Ontem já foi decidido.
Poderias vir comigo?
Amanhã te buscarei.
Muito em breve saberei
quais caminhos percorridos
do passado que deixei...
ainda serão vividos.
Se ainda sofrerei
os males de estar perdido!
Eclipse
A Lua subira vermelha no Céu, e cessou o movimento ordenado dos elétrons...
Voltava ao tempo dos candelabros, onde a chama tremia a cada sopro, a cada movimento brusco.
Ainda que se pudesse capturar a luz, era o fogo que se via, que se fazia refletir nos corpos, nos olhos.
A Lua subira vermelha no Céu.
Taquicardia
Possuis minha taquicardia. Tão logo te afastes de mim, te apoderas do que me resta, do que não te acompanha.
E tudo torna-se almejar. Cada passo perde-se em delírios, cada delírio de ti se angustia. Anseia ávido tua presença.
Palavras Deferidas
A irresolução como dúvida filosófica ou como empecilho para ação?
Haverá um tempo para realocar as palavras deferidas? Ou elas acumular-se-ão indeléveis em nossas gargantas medrosas, ressequidas.
Será que algumas dessas palavras, quando ditas, esmorecem o vínculo com o incômodo silêncio, e permitem que outras saiam? Dando um maior espaço ao alívio, que é poder respirar. Ou será que elas pesam e caem no peito?
Amassando os átrios e ventrículos, sendo inoculadas centenas, milhares de vezes, acompanhando cada pulsar vacilante.
Ou ainda, as palavras se erguem, encontram uma intrincada estrutura, vasta, imprevisível. Alojam-se nos meandros do pensamento, onde têm espaço pra proliferar, derivar a si mesmas em pequenas cópias.
E dar oportunidade para que lhes neguem novamente a voz.
E para que ela seja ouvida!