Leomir Barbosa
A maturidade vem com o tempo. Não especificamente a cada ano que se faz aniversário. Até por que existem crianças adultas, as chamadas precoces, e adultos que ainda são crianças, aquelas que o Aurélio me falou que não atingiram plenamente o desenvolvimento físico, emocional ou intelectual. Tornar- se maduro é muito mais que uma questão de ter dois metros de altura, ser ranzinzo ao extremo ou ser um Einstein do ano dois mil. Uma fruta torna-se madura por exemplo, devido aos raios do sol, as gotas de chuva, a brisa do vento e até mesmo devido a ventania. Nós, para nos tornarmos maduros também precisamos dentre outras coisas o chamado “sentimento”, o chamado “cair e levantar” e disso as frutas não precisam. Além do mais, quando caímos semelhamos a elas mais uma vez. Machucamos-nos e quando a queda é grande e o machucado dolorido demais a ferida fica.
Acho, às vezes, que nem o Word consegue me entender. Quando digito “Não é o fim” ele teima em corrigir: “Não, é o fim”.
O coração? Sumiu, desapareceu. Virou rebanho de andorinhas e seguiu sua sina como outros de mesma espécie. Calou. Tapou a garganta como quem estapeia o grito de alguém, do lado de dentro dum choro clamando por perdão. Secou como uma fonte inesgotável de ventos noturnos, frios e úmidos. Tombado como um patrimônio próprio do patriotismo imundo e sujo. Como um pedaço de carne apodrecido jogado aos negros passarinhos passeando pela horrenda nudez de não saber mais amar.
Tanta burocracia para legalizar algo que provém da natureza, visto que todo e qualquer ser vivo é Criação Divina. O amor também é Divino, natural e muito mais alucinógeno e viciante que qualquer outra droga. E Assim como qualquer outra droga não tenho a mínima intenção de provar. Mas não me incomoda quem usa ou quem deixe de usar.
Digamos que nós nos apaixonaríamos. Digamos que nós ficaríamos juntos uma noite e na noite seguindo também, seguida de outras cinco noites. Digamos que começaríamos a encarar o fato de que estávamos loucamente envolvidos e digamos também que já não suportaríamos o fato de sentirmo- nos mal quando nos sentíamos longe. Digamos que nos acostumaríamos a estarmos juntos todo o tempo: No intervalo das aulas e no portão da escola, em todos os fins de semana, em todas as noites e todas as tardes a apreciar o beijo do sol com o horizonte. Digamos que toda gente do nosso círculo afetivo passariam a nos olhar com vista torta porque parecíamos bobos e infantis. Digamos que até achariam nosso beijos um tanto nojentos e nossa troca de palavras coisa muito melosa. Digamos que isso passaria a pouco nos importar: Falo das pessoas, dos compromissos, das tardes que gastávamos lendo um livro ou vendo um filme, das noites que saíamos com nossos amigos ao cinema ou a quadra de esportes. Digamos que passaríamos a notar que tais coisas começariam a nos fazer falta e perceberíamos que todo o tempo junto não era necessariamente e unicamente o que nos fazia bem. Digamos que passaríamos a nos ver horas menos do que de costume, dias menos do que de costume e nos ligávamos menos do que costumávamos ligar. Digamos que nosso beijo havia mudado, desconfiaríamos. Nossa troca de palavras passaria a ser ofensiva ao invés de carinhosa. Nossos encontros passariam a ser para discutir sobre fulano ou cicrano que ouviu de beltrano que disse alguma coisa sobre pôr um fim nisso tudo. Digamos que brigaríamos feio e que acharíamos melhor mesmo pôr um fim. Digamos que não nos veríamos mais, não ligaríamos mais um pro outro e nos distanciaríamos a tal ponto de já não nos lembrarmos de quão bom foi nossa primeira noite, nosso primeiro beijo tremulo e a cara debochada dos visinhos quando nos viam passar de mãos dadas distribuindo sorrisos gratuitos. Digamos que depois de tudo isso restar-nos-iam boas memórias de bons e velhos momentos. Digamos que o tempo passaria e triplicaria em velocidade, um guepardo. Digamos que mesmo assim diríamos para nós mesmos que valeria a pena. Só digamos, veja bem, valeria?
Se nunca fui digno do teu amor e compaixão, tão pouco serei merecedor do teu ódio e do nojo que cultivastes por mim, escorpião. Nunca foi de meu interesse retribuir tais afetos e jamais o farei com tais desprezos. Morra ao sabor do teu próprio veneno, meu bem.
Eu não me importo se tu não se importas no meu cabelo, no cheiro do meu jeans novo, no gosto do meu batom de fruta pão porque só tu me importas e eu importo todo o mundo para o raio que o parta quando estamos juntos. Não interessa mesmo se tu te preocupas ou não com o que eu penso ou deixo de lado. Do teu lado eu só penso em estar dentro de ti, no coração, na alma ou em carne mesmo, tanto faz. Tanto fiz pra ficarmos a sós e cá agora estamos isso é bem do normal quando retenho algo que sempre desejei. É surreal ficar rodando essas coisas enquanto você dorme, mas não quero que acorde por que assim você parece só minha mesmo que com isso tu não se importes.
Sou dependente do teu amargo dom de me tratar como um doce, do teu psicopata e monstruoso anjo sem asas que voa em direção ao inferno de nós dois. É tenebroso como tu desenha as formas impuras do nosso corpo que é meu, que é teu, guiando- nos por um labirinto infinitamente desconhecido e sem curvas, de longe e bem perto. Nosso bom e terno senso de limite são insensato e mal criado semelhante a nós que de quando em vez limitamo- nos a saltar da boca do abismo sem mal tocarmos o solo, que arde e queima como nós.