Leoa Muniz
Lamento pelo momento em que alcançarei o livramento do tormento e sofrimento de lhe ter em pensamento.
O abandono do cão, de raça
Era uma vez um cão, de raça, que tinha um dono, um homem sem muita educação e sofisticação, que dentro de suas limitações o tratava bem. Este cão, mesmo não tendo tudo o que julgava merecer era feliz ao lado de seu humilde dono, até que um dia, sem esperar, o cão, de raça, foi abandonado. Ele vagou durante meses sem entender o motivo de seu abandono, sempre espreitando um local onde seu antigo dono freqüentava para observar o que acontecia (o cão o conhecia bem, e sabia que de discreto, ele não tinha nada). O cão, de raça, descobriu que seu antigo dono agora criava um pequeno vira-lata que combinava com o jeito brega do homem, mas ele não entendia porque foi preterido, já que era tão bonito, leal, inteligente e tinha “n” motivos que o tornavam especial... porque o homem o trocou por um outro animal “inferior”?
Pobre cão, de raça!
Ele passou a odiar aquele pequeno vira lata que ele nem conhecia, mas que achava ter sido culpado pelo seu abandono. Começou a espreitá-lo também, e viu que o pequeno animal vivia deslumbrado com o que para ele era uma vida luxuosa, que talvez nunca tinha sonhado viver um dia, agradecendo ao “Deus dos cães” e espalhando aos quatro cantos o quanto era feliz.
Pobre vira lata?!?
O cão, de raça, percebeu então que o abandono não foi uma experiência tão negativa... ele sentia que merecia mais, porém, estava acostumado com o que seu antigo dono lhe proporcionava, achando que aquele era seu destino. Hoje ele continua por aí e não vive sempre feliz, mas é feliz sempre que vive novas experiências, conhece novos lugares e amigos e principalmente, quando sonha em encontrar o “dono” perfeito, aquele que reconheça o quão valioso ele é, que seja leal e íntegro (mesmo que isso nunca aconteça), diferente de seu antigo dono.
E o pequeno vira lata? Não se sabe se ele encontrou o seu lugar no mundo, ou se terá seu tapete puxado por outro vira lata, cão, de raça, ou pelo seu próprio dono, de percepção limitada, desonesto e desleal.