Leninha Alves
Não me dou com essas pessoas q só relatam fatos
Estou cheia desse mundo pequeno e concreto
Prefiro os loucos viajantes...
Eu hoje gostaria de ter conversado sobre abstração, universo, ângulos ou visões... Mas so encontrei sacos vazios que insistem em ficar de pé.
Tenho a sensação de nada...
Caminho sem chão...
Blues no silencio...
O estranho sentimento de que vivi sem passado
E de que tudo estar por vir
O GATO
Há um gato imundo na calçada, molhado, magro. Gato de rua. Gato como outro. Olhar sedutor de gato. Se ele tivesse sorte eu o levaria pra casa. Se ele tivesse sorte não estaria aí: imundo.
É essa queda por poetas
Que me faz chegar ao fundo
Quando eu tento me erguer
Giovani me derruba
Com o menor sarau do mundo
Tem dia que a gente está tão à toa
que se assusta toda hora
rir de qualquer besteira
se emociona com qualquer cena
se irrita com o jornal
se explica pro cachorro
enxerga as plantinhas
procura lua branca do dia
e segue o vento
Quando me vi
aos cacos no chão
senti vontade de chorar
por conta da minha distração
ganhei sete anos de azar
São esses intervalos entre as palavras
que dão sentido a conversa
o silencio explica
o silencio acusa
o silencio grita
Podia ser ser de terra
Podia ser de ar
Podia ser de fogo
Mas escolheu ser de mar
E assim é
De mar
Ed
mar
(Para meu amigo Edmar)