Leni Martins
Não temo mais...
os fantasmas que me perseguem.
Eles já fazem parte das minhas noite e tardes.
Convivem comigo em meu cárcere.
Fazem-me companhia
em dias de nuvens negras onde
o sol não brilha.
Na lama, onde atolo minhas poesias,
escureço meu olhar, perco minha alegria,
confesso em meus versos as tristezas dos meus dias
Não temo mais ao confrontar-me comigo,
já me vejo no espelho como assombração
admito...
ser um ser abatido, meio sem cor,
pálido e ferido.
Vou ficando frio...
sem emoções..neste meu vazio.
No oco do meu mundo
vou desfilando letras e compondo
meu absurdo.
O escuro não me aflige mais...
se não tenho estrelas fico apenas
com os vendavais.
Se nem o vento aqui passar, fico apenas
com o silêncio a me silenciar.
Não temo mais a boca seca,
nem as mãos cruzadas,
nem ao arrepio que me chega
em horas desesperadas. Ajoelho-me
e me entrego ao exílio de minhas palavras.
Durmo entre as navalhas...
Acordo entre os punhais.
Tornei-os desprezíveis,
não me cortam nunca mais.
Esgoto a céu aberto,
humanos comem lixo,
sem nenhuma perspectiva de vida,
muitos cometem suicídio
-Quem são os culpados?
Eu te respondo:
-São os políticos.
Guerra fria...
no poder legislativo,
eles burlam as leis...
pra seus próprios benefícios.
Olho por olho...
dente por dente...
Os governantes não se importam
com a fome desta gente.
O desemprego já virou rotina ,
é sapato furado e molhado
esperando o ônibus na esquina...
È assim que você pensa.
olho por olho,
dente por dente,
não é seu sapato...
seu safado presidente.
Doentes em hospitais,
morrem como indigentes,
é porque não são familiares
dos políticos e presidentes.
Crianças estão jogadas
em calçadas e avenidas,
sem um teto, sem escola
pedem esmolas pela vida.
Enquanto tudo isto acontece,
a corja do poder rouba e enriquece,
esquecem que quando morrerem,
levarão somente as vestes.
Doutores das leis
assinem a alforria,
libertem a humanidade da miséria
condenando os governantes por
homicídio e covardia.
Longe de mim mesmo!
Estou longe de mim mesmo,
Vagando em pensamentos,
Oprimindo meus sonhos,
Desprezando meus desejos.
Longe das fantasias,
Longe dos entusiasmos,
Vivendo a realidade
Sobrevivendo de um passado.
Estou longe de mim mesmo,
Vivendo o que mais temo,
De corpo cansado e alma morrendo!
Olhos vendados, pés amarrados
Punhos fechados, amargo veneno.
Longe de mim mesmo!
No suicídio dos meus dias,
Eu vou me entorpecendo,
Matando as alegrias,
Matando-me por dentro.
Estou muito longe!
Muito longe de mim mesmo!