nada aqui ou lá
nem mesmo
essa estrada
se me perco
na viagem
tenho asa.
tédio e versos apenas
a noite cobriu tudo
só restou esse poema.
ANJO LOUCO BARROCO MODERNO
Quando nasci
Eis que me veio o anjo
E me olhou sem pressa
Com cara de espanto
Não apertou a minha mão
Apenas franziu a testa.
CARTÃO POSTAL
Paisagem impressa
Impossível observar
O que resta.
FRESTA
Mera coincidência:
um fiapo de lua
bate no livro de haicais.
OUTONO
Perco-me caem folhas
Ao vento a alma
Ao tempo ilusões.
Ergue-se a lua
mãos dadas
casais à deriva.
Mínima sentença:
condenado à morte
por viver apenas.
Meia-noite enternecida
Meu coração aflito
é o livro que não li
CHUVA
Riscos na noite
Risos de casal
A Chuva insiste.
pássaro entre as nuvens
a gaiola balança
ao sabor do vento.
Deixo as dúvidas todas
para a arte
A vida imita a rima.
Noite extensa
Todos se entendem
Menos os poetas.
escurece o tempo
a noite nem conta
permanecem os ponteiros no vento.
Pousam os mosquitos
sobre a mesa - lentos
bocejam a tarde morta.
VOO LIVRE
Sem grades ou cortina
A janela aberta
O pássaro vem
(verde-oliva)
e pousa
repousa
na retina.
POÉTICA
Um poema dá trabalho
Noites a fio
Dias a desfiar
Toda uma existência
Tecida e destecida
Noite a noite
Dia a dia.
AO MEIO
meio-dia
a vida ao meio
o sol ardendo inteiro.
“Ultimamente o ser humano têm sido mais simpático com câmeras do que com pessoas.”
Um médico e responsável por curar as feridas da alma; um poeta as da alma.