Lázaro Ramos
Ter passado a conviver com pessoas que não refletiam sobre o racismo no seu dia a dia me fez buscar argumentos para inserir esse tema nas conversas. Queria que elas percebessem o que para mim era tão claro. Queria dividir sem medo minha sensação de entrar num restaurante e ser o único negro no lugar. Queria mostrar as riquezas da cultura afro-brasileira, da qual eu tanto me orgulho e que é tantas vezes ignorada.
Eu era muito bem tratado pela patroa da minha mãe e vivia brincando com os netos dela. Mas, em alguns momentos, eu era o filho da empregada. Na hora da bagunça, só eu era chamado à atenção. Lembro de uma vez em que todas as crianças foram brincar na cama da avó. Ela não gostou. "Tá fazendo o quê aí, menino?", perguntou, ríspida, para mim. Eu consigo recordar até hoje a sensação: foi muito mais do que ficar sem graça, eu não sabia qual era o meu lugar no mundo.
Por isso, digo sempre aos meninos e meninas que têm origem parecida com a minha: não há vida com limite preestabelecido. Seu lugar é aquele em que você sonhar estar.
Para ser sincero, eu nem mesmo ouvia o termo negro dentro de casa. "A gente, que é assim, tem de andar mais arrumadinho." A palavra "assim" dizia tudo e nada ao mesmo tempo.
Superar é sempre possível!!! É acreditar no impossível, mesmo que as chances sejam mínimas!!! (Lázaro Ramos no Criança Esperança)
A equação não é simples, o fato de inserir o negro de forma positiva na mídia não significa que a sociedade o aceitará melhor. Mas é nosso papel brigar por isso.
O que mais se diz ao falar da luta negra é da necessidade de resistir. Ter que resistir sem existir é simplesmente mais uma crueldade sem tamanho.
Muitas vezes o racismo faz com que a gente não trilhe nosso caminho e comece a pautar nossas ações pela demanda do preconceito. Às vezes não seguimos adiante porque paramos nos limites impostos pela sociedade, e nós temos que caminhar mais, temos que entender a complexidade das coisas, das pessoas, temos que ter liberdade.