Laura Abreu
Como será o dia em que vou me decidir?
Deve estar se perguntando decidir sobre o que ou sobre quem. Mas a resposta é decidir sobre ir ou ficar.
Tem momentos em que tudo faz sentido, os planos, os sonhos, as pessoas, tudo é convidativo para decidir ficar. Porém, também existem os momentos em que nada mais importa, nada faz sentido, todas as escolhas que tomei na vida foram erroneamente erradas. Nesse ínterim, chego a conclusão que nem a maior e melhor bomba nuclear é tão destrutiva como eu. Me perco no ar. Quando respiro, sinto tudo, todo o suspiro de esperança de cada um que acreditou em mim. Tão jovem, tão inteligente, uma vida inteira pela frente, profissões importantes e imponentes, fora os outros adjetivos que nem consigo escrever sem debochar.
Um dia decidi ir e ao mesmo tempo ficar, que mistura de dor e alegria, uma partícula de água lutando para penetrar o óleo mas o que pode, foi só encostar e também, aproveitar, já que aqui parada não podia ficar. E assim segui, tentando ser a normalidade de um ser normal nesse curto espaço de tempo que me restou. Felicidade? Onde eu compraria um pouco disso? Afinal, nem sei realmente se conheço esse sentimento ou se finjo conhecer.. ninguém sabe. Mas decidir ficar é algo que não está ao meu alcance, essa decisão tem um tempo, dizem ser o tempo que Deus estipulou, já que há coisas que nem com o martelo do Thor é possível derrubar. Mas e se? E se eu fosse, se eu fizesse, se eu pudesse.. mudaria tanto assim? Seria melhor para as pessoas, para a sociedade, para você.. mudaria algo?
Se eu pudesse realmente escolher algo, esse algo seria renascer, renascer em uma versão melhorada, evoluída e não destrutiva. Mas está aí mais uma coisa que não é um poder de escolha ninguém.
O que é simples para mim é um turbilhão para outro alguém e vice-versa, a escolha certa é errada e a errada é certa.. tensão viver assim. Um dom desperdiçado por alguém que só ficou machucado. Mas o que eu quis dizer não foi isso.. mas o que eu quis fazer não foi desse jeito.. justificativas em cima de justificativas e o que está dentro do coração ninguém tem nem a noção.
Sem que tenha reparado, a decisão mais concreta até o presente momento é a de ir. Ir para onde a pele, é pó e onde a carne não fere.
Mas com toda certeza, você tem razão! Que loucura a minha pensar que poderia ter voz, que poderia ser compreendida. Você tem razão, eu errei, me exaltei, te machuquei.
É claro que você não me magoou, não me feriu, não me levou ao extremo, claro que você não fez isso. Eu estou louca. Estou louca também em pensar que aqui não é lugar para mim, já que tenho tudo, tenho todos, tenho a vida. Bobagem minha. Me desculpa. A minha decisão é ficar até me decidir.
E se você tivesse que elencar as coisas que mais lhe fazem feliz? Conseguiria?
Eu sei, talvez você nunca tenha parado para pensar nisso, não é corriqueiro pensarmos na nossa própria felicidade. Mas é necessário.
Se você tem filhos, eles são a sua prioridade.
Se você tem marido, ele é sua prioridade.
Seus pais? Mesmo com tudo que você enfrentou junto a eles, eles são prioridade.
Você busca no fundo da sua alma fazer com que se sintam felizes.
Mas e você? Em qual lugar você se coloca como prioridade? Você se sente feliz consigo mesma?
Elencar o que lhe faz feliz, não é somente falar sobre quem lhe faz feliz e sim, sobre o que você gosta de fazer, a sua comida preferida, a música da sua vida, o livro que você leu e nunca se esqueceu.. é sobre o que você vê quando se olha no espelho.
As lutas que venceu, as dores que passou e tudo que você já conseguiu evoluir.
Ao elencar o que mais lhe faz feliz, comece por você.
Eu vi você
Menina linda, doce e contagiante
Eu vi você
Eu vi você se desfazer pouco a pouco
O brilho sumir, o sorriso partir
Eu vi você cair, se desiludir
Ser retalhada em pequenos pedaços
Mas também vi você encher de abraços os seres com quem tem laços
Eu vi você chorar, se rastejar
Eu vejo você agora, em posição fetal, mas você sabe, que eu vi, que nada disso é fatal.