Lau Siqueira

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Dentro de mim morreram muitos tigres.
Os que ficaram, no entanto, são livres.

Por que escrevo poemas curtos?
(Eu
Ando
em
busca
do
silêncio.)

Estatística

Escrever poemas não vale
um corpo caído no asfalto.
Sinais de sangue no sapato.
Riso apagado no ato.

Escrever poemas não vale
a memória dos inimigos da
horda jogados na caldeira
dos silêncios.

Escrever poemas não vale
a noite incômoda e feroz
dos que dormem cobertos
de luas e estrelas.

Escrever poemas não vale
um único segundo de um
dia inteiro penando
injustiças…

Escrever poemas não vale
a primeira sílaba da palavra
morte – derradeira dormida
do corpo e da alma.

Não vale o poema. Não
vale o silêncio sob o manto
dormente das milícias.

Não vale a outra face
navalhadano tapa. Não
vale a pele do mapa.

Não vale a trapaça
da dor, ferida aberta
na couraça.

Inserida por pensador

Essa sensação
que a porta vai abrir

e que o seu abraço
derramado no meu
abraço derramado

vai molhar o piso

Inserida por pensador

metade era
soco

outra metade
sopro

e tudo era tanto
pro meu coração
tão pouco

Inserida por pensador

razão nenhuma

o que escrevo
é apenas parte
do que sinto

a outra parte
finjo que minto

e acredito

não existem feridas
que não cicatrizem
mas a marca funda
de um olhar amargo
dói como a dor
de um bicho esmagado

Inserida por pensador