Larissa busch
Eu tenho muita saudade do que fomos, ou pelo menos do que você aparentava ser. De como a vida fluía quando você me olhava daquele jeito fraternal. Me aflingi numa busca insaciável para tentar superar o buraco que você deixou. Não toco mais em seu nome. E quando me perguntam sobre você, não respondo. Logo eu que gostava tanto de cantarolar teu nome no banho. Logo eu que te escrevia repetidamente na última folha do caderno junto a milhares de corações. Veja só, logo eu. Seu nome se tornou lâmina afiada, arame farpado, caco de vidro. Tento não olhar para trás, porque eu sei que irá doer quando eu notar mais uma vez que o que construímos foi abruptamente jogado para o alto. Eu sinto tanto, mesmo tendo toda consciência de que não tive um por cento de culpa. Nunca esperei que me acabasse, que me esfarrapasse. Porque na minha mente apaixonada, tola, e inocente, éramos um só. Eu acreditei quando me disse que se me machucasse te doeria em dobro. Eu acreditei. Desculpe-me por ter sido ingênua ao ponto de te amar tão cegamente. Desculpe-me por te defender diante de todos aqueles que me alertavam sobre você. Perdoe-me por ter acreditado no teu melhor, e desde sempre ter amado cada mínimo defeito, ter te ajudado a levantar nos teus tropeços, ter visto vantagem nos teus erros. Nós éramos tudo, tínhamos tudo, almejávamos tudo. Hoje somos a poeira que saiu do tapete, e me causou alergia. Somos a comida que não gosto de comer. Os livros dos quais não gosto de ler. Canção que não gosto de cantar. Hoje somos lembranças das quais não gosto de lembrar. Esquecerei. Esquecerão. Eis que serão. Eis que serei papel branco de novo, quando meus olhos pararem de arder.