Lalice
Lua de um Lobo
Tergiversei cada algo
Que se quer não fosse você.
Alvejar teus atos estapafúrdios
Era inexorável,
Adorável.
A cada nosso momento
Estrambótico,
Estrelava, em mim
O uivo de um lobo.
Lobo meu
Que adoravas em presença tua.
Anagrama
Tremo de temor da morte,
Mas és a diva da vida.
Prensa tua perna e pensa:
Teu motor está morto?
Dana aquele que anda do nada,
Mas lotas aos talos os altos
E teimas que miaste aos metais.
Entras em transe?
Torce para um certo corte
E terá ao tear uma reta.
Medita pela temida medida,
Terminas tuas mirantes mentiras.
Carta ao conflito
Com uma bomba,
Exploda-me de amor.
De tua arma,
Atire-me beijos doces.
Às árvores mortas e cinzas,
Apresente o caminho da vida.
Em teu fim,
Não se esqueça do começo.
Melancolia
Em meio a devaneios, acordei da utopia. Percebi que aquele mundo já não voltaria. Olhei para as portas trancadas do passado e faltou-me ar nos pulmões. Lembrei-me e cai pesada em torno do túmulo da memória.
Olhos mar, mar
Escondes nas profundezas
As ondas do teu olhar
Olhos mar, mar
Abras o caminho
Para eu navegar
Olhos mar, mar
Sintonia
Lembro-me!
Olhava os astros contigo,
Cantarolava melodias sem sentido,
Éramos apenas sintonia.
Nosso amor
Pela superfície era tímido,
Mas nas profundezas estava contido,
Éramos apenas sintonia.
Pensamento
Penso, penso, penso.
Todo o tempo, penso.
Mas qual tal motivo?
Se não fosse tu,
Não seria pensamento.
Penso, penso, penso.
Tu és meu passatempo.
Vizinhos: Música country na casa ao lado
Já passava da meia noite
As botas batiam as solas no chão
O som do banjo soou alto
Um chapéu voou rumo ao sertão
Com seu cinto afivelado
O vizinho não pôde se conter
Ergueu logo seu laço
E seu quadril começou a remexer
Morte, heroína do fim
Em meu lar, uma cobra
Rastejando humilde e lenta
Arrastando um rato e sua sobra
Rato que, pela própria vida, não lamenta
A solidão da vida
Carregava sua carcaça já decomposta
Facilitando apenas sua ida
Acompanhada da morte feliz e disposta
Salvação que chegara no lar
Onde uma deplorável mente morava
Sozinha e sem lugar
Enquanto com o fim caminhava
Tão distante, parece o fim
A marca perpétua e árdua da vida
Deixou de lado toda alegria e emoção
Machucou infinitamente a superfície
Depois cravou o fogo sobre o sangue
A dor da chama quente ardente
Muito maior que a perda da própria vida
Não pode ser mais curada
Todas as feridas permanecem abertas
E somente a morte pode salvar da dor
Tempos planetários
Parado,
Tudo observo
Nada compreendo
Onde estou?
O fim, o fim, o fim.
Tímido chegou
Mas já se apressou.
A vista
Claramente escura.
O que houve?
Um passageiro:
O tempo.
Uma luz em seus céus
Escuro céu
Abriga um brilho
Brilho passado
Anos de distância
Apenas uma luz
Em seus céus
Universo ábdito
Traz uma poeira
Poeira estelar
Substância da vida
Apenas uma luz
Em seus céus
Estrela compacta
Funde matéria
Matéria nuclear
Dimensões deformadas
Apenas uma luz
Em seus céus
Contraditório
Triste, triste,
Confuso,
Feliz.
Uma hora,
Devaneio em pesadelo.
Outrora,
Em nuvens passo adiante.
De que forma instável
Poderia eu
Ser formado?
Confissões de uns olhos
Seus olhos
Instigantes
Um doce toque
De tempestade
Sua superfície
Suave
Deseja mostrar
Tantas profundezas
Sua alma
Acalma turbulenta
A pele sensível
Ao calor ardente
Padecida flor
Noite escura,
Levai-me deste mundo,
Pois nestas terras
Nada me resta.
Oh, grande amiga!
Morte companheira,
De sofrer já basta,
De viver não vivo mais.
Querer
Queria querer
o que quero
Queria fazer
o que quero
Queria saber
o que quero
No momento
só quero
Atormentada vida
Andava feliz
Muito feliz
Mas tinha algo
Tinha algo no caminho
Alguma coisa no caminho
Por quê?
Não há definitiva
Solução para tal questão
Digo-lhe que sim
Digo-lhe que não
Igual será o resultado
A doce e objetiva morte
Morte que espera calmamente
Morte que vem outrora
Ou agora
Amor planetário
Oh, Júpiter!
Sua grandeza
ilumina minhas noites.
És minha única
e magnífica
intimidade.
Meu companheiro
de solidão.