Laís Heidemann
Tô com medo de onde a gente vai parar. Tô com medo de nos perdermos na primeira esquina que passarmos, e tu seguir por uma rua que eu não sei como chegar até ela. Enquanto eu fico parada no meio de qualquer rua, me perguntando onde estou, ou como fui parar ali.
Esqueci que não se promete algo sem ter certeza de que irá cumprir. E, querido, fizemos juras demais. Juras de amor, juras por impulso. Juras que agora escorrem pela minha alma tirando a cor de todo o céu que você pintou de azul. Escorrem pelos meu olhos. Juras malditas que sempre são tormentas para as pessoas que conhecem o fim de algo, mesmo que não saibam se ao menos teve um começo.
Esquizofrenia
Escutei as batidas do teu coração por várias vezes essa semana. Algo do tipo impossível já que km nos distanciam, mas ainda sim, andei me perguntando se esses batimentos acelerados eram por se lembrar de mim, do mesmo modo como o meu coração descompassa por lembrar dos teus toques, teus beijos.. Pensei nisso, principalmente porque minha ilusão me faz imaginar que tu pensas em mim muitas vezes por dia. E não seria nada mal me fazer sentir menos errada por sintonizar meus pensamentos em ti o tempo todo. Só que não é facil assim não é? Eu sei que esses batimentos são por correr, por levar um susto, ou sei lá. São por qualquer coisa, menos por mim.
Eu espero que tu não ouça meus batimentos aí. Isso entregaria tudo o que eu tento esconder quando te encontro.
Mas eu não quero mais viver essas hipérboles de adolescente. Não quero continuar com essas idéias e pensamentos na cabeça. Poxa, a vida é tão curta pra eu ficar sofrendo por qualquer coisinha! Mas ainda sim, insisto nessa minha melancolia sem sentido, nesse meu drama sem pé nem cabeça. Só que eu apenas não quero continuar com esse frio na barriga. Não quero mais esses arrepios inesperados, e nem um sorriso espontâneo, por mais malicioso que seja, se o causador dele for um garoto. Cansei de me identificar com esses textos e frases de quem sofre. To preferindo falar sozinha no espelho, do que falar sozinha com alguém, se é que você me entende.
Vivemos com sonhos, utopias de diversos tipos, e tudo bem. Tudo bem mesmo, porque sonhar faz parte da vida. Todos nós sonhamos, e esperamos que tudo se realize. Querendo ou não, sempre criamos expectativas, falsas ou não, e sempre criamos ilusões também. Normal. Até acho bom sonhar, só assim se acha motivos para continuar tentando. Mas é preciso cuidar a intensidade do que se sonha. De uma hora pra outra, quem sabe, sonhos viram pesadelos, porque é o tipo de pegadinha que a vida ousa em fazer. Ela joga pesado, e o mundo ajuda (até demais) a destroçar teus sonhos, e jogá-los ao vento sem nem te dar uma chance de os pegar de volta em uma esperança de refazer tudo o que ela estragou. Mas desiste. Desiste porque se a vida te fez isso, você achando isso bom ou não, é porque não era pra ser, porque existem sonhos melhores pra se lutar. E não esquece que o mesmo vento que levou os pedaços do teu sonho, pode te devolver da mesma forma, assim, de repente.
Eu me perco nesse teu olhar e em teus gestos combinados. Sinto teus desejos pela palma da tua mão e intensamente viram os meus também. Tu concretiza todos os meus pensamentos insanos e impulsos à flor da pele. Esses arrepios são consequências dos teus atos tão bem feitos, das tuas mãos tão bem posicionadas, e da tua respiração ofegante. Lhe dou todos os créditos por meus orgasmos pensativos.
Ele é tudo o que há nesse mundo pra me fazer feliz. Eu poderia falar da sua personalidade, mas é algo que me intriga, pois eu sei que o conheço e ao mesmo tempo não consigo explicar. E deixo ficar assim, com esse ar de mistério. E misteriosidade é uma coisa que me puxa tanto, que tenho esperança dele me puxar pra ele. Eu não tive muitas oportunidades de conhecer o seu físico, mas o pouco que tive, me fez gravá-lo de uma forma como eu nunca consegui gravar um assunto pra prova, mesmo estudando por horas.
Ele tem olhos cor-de-mel escuros que se confundem com sua pupila, e eu gosto da imensidão que eles me proporcionam. A boca dele, um tanto quanto “carnuda” e em um tom pêssego, e rosada depois de um beijo, é tentadora e cativante. E eu prefiro não falar daquele sorriso, ou então vou acabar sorrido sozinha, sentindo meu coração palpitar e sem conseguir soltar uma palavra sequer que não seja “Porra, que sorriso é esse? Que sentimento é esse?!”. E pronto, já estou assim. Pra tentar esquecer do paraíso que há em sua boca, lembro da sua pele lisa e daquela temperatura que me lembra o tempo frio de inverno. E vocês não sabem o quanto eu adoro inverno..
Desnecessário é o tempo em que passo tentando esquecer tudo o que até mesmo o ar me faz lembrar. Tudo me faz falta nesses últimos dias, como os sorrisos que soltei por tua causa e hoje não passam de um borrão feio. Há um precipício entre eu estar bem e te querer bem. Não queira saber o sabor dessas lembranças que ficam em minha boca e me tiram o apetite. Me fazem mastigar palavras tuas ditas em algum impulso que nem tu deves saber explicar. Indiferença faz parte do que sinto por ti no momento e eu não sei identificar isso de forma boa ou ruim. O modo como tudo anda fazendo pouco menos sentido do que antes fazia é do tamanho da frustração em ter acreditado em qualquer palavras solta nesse teu dicionário de mentiras.
Sei que venho erroneamente tendo atos e pensamentos sufocantes. Porque te querer é o erro que mais pesa em minha consciência cansada de carregar esse fardo da paz que o teu sorriso me trouxe e que foi-se embora contigo. E isso explica meus dias de tormentas.
Continuo te querendo. Te sonhando. Te escutando. E deixo dito que teus sussurros são as piores partes da minha noite, pois tua voz nunca foi tão em baixo tom e tão ensurdecedora. Mas eu te supero rápido, e logo isso passará a ser comparado com os barulhos da rua, que não representam nada além de um passado que me enlouqueceu num momento de fragilidade e, quem sabe, medo. E não pense que poderás voltar como se nada fosse nada e que minhas horas gastas me convencendo de que tu fostes e eu não fui culpada em momento algum. Porque quebrarás a cara em pedacinhos miúdos como meu coração, dividido em partes incontáveis e perdidas pelos cantos do meu quarto e de todo o caminho que venho seguindo, cambaleando sem apoio. Aprendi que quem vai uma vez, vai duas, três.. e não se deve dar tantas chances pra quem só quer um passa-tempo, e não um recomeço.
Eu pedia toda noite que você voltasse. Porque, meu bem, tua falta está presente em todos os meus dias. Mas sei que nada seria como antes.
Não volta, não volta.
Chega mais perto e sente os arrepios que tu causa no meu corpo, que hoje está marcado com teus toques e beijos. Prova o gosto da amargura em tuas palavras, e depois lembra do doce que elas eram, e me diz se algo nessa situação é justa. Me diz o quão antiético é jurar algo e não cumprir, e se puna por ter feito isso comigo. Abaixa o tom da tua voz, e sussurra em meu ouvido que foi tudo um erro e que voltaremos pro começo. Faça-me sentir segura nos teus braços de novo, e eu juro que faço virar possível regressar no tempo. E me sinta, me proteja, me ame. Me traga o chão que só teus beijos conseguem tirar debaixo dos meus pés, fala qualquer besteira que me faça pensar por um minuto em qualquer coisa além dos teus olhares voltados a mim e diz que o depois fica pra depois, e que o agora é pra sempre. Confunde minha mente e rasga minh’alma. Tira minha roupa e me faz sentir tua como eu nunca serei mais de alguém.
Eu traduzi alguns sentimentos em palavras e constei que não há no dicionário. Sabe por quê? Porque é raro. Não é nada normal algo te encantar tão rápido dessa forma, como se o tempo parasse, e, ao mesmo tempo, passasse rápido. É tipo “temos nosso próprio tempo”, né? (Sei que sorriu).
Olha, sei bem que há um fim em um dos dois rumos que podemos tomar, e eu quero muito ir para o que não vejo o fim, sei que queres também. Vamos então? A pé, de bicicleta, carro, ônibus, sei lá, qualquer coisa que nos permita ir de mãos dadas. Mas você se segura, se prende em si para não se entregar a mim, e eu tento te fazer perder esse controle porque tudo que é bom, é feito mais por impulso do que planejado. É engraçado. Nós passamos a vida inteira tentando se encher, e aparece uma pessoa que nos faz querer ficar vazios. Porque a gente se esvazia pra se preencher de alguém. E eu me esvazio pra me preencher de você, olhos escuros. Porém, não posso me permitir ficar vazia, enquanto você está cheio. E então, você se arrisca? Se perde em si, pra se achar em mim? Até te deixo roubar outro sorriso, se com isso você me roubar e me levar pro teu mundo, pra tua casa, pros teus braços. Todos sabem que qualquer distância acaba quando dois corpos se encontram, meu bem, e a galáxia é pouca pra tanta vontade de se ter e se tocar. Só você não sabe.
Maísa era complicada. Beirando aos 20 anos, havia se perdido em sua busca por respostas de perguntas que nem a mesma sabia formular. Sua cabeça cheia de dúvidas de como a vida é, a fez ter como companhia álcool e cigarros. Maísa se tornou solitária, saía para bares apenas com seus pensamentos conturbados. Perdeu o rumo, ou quem sabe nunca havia encontrado um. Ela queria entender como a vida era, mas nem entendia ela mesma. Não faz sentido… mas será que deve fazer?
Desde criança ela perguntava de tudo, sua frustração era a falta de respostas. Naquele tempo ainda sabia o que perguntar, já hoje em dia ela apenas queria saber porque tudo é como é, e não como deseja. E sobre seus passa-tempos, não existiam. Ela era centrada na ideia de desvendar os segredos da vida. Teve que se virar sozinha, seus pais nunca a ensinaram direito a viver e agora não tem certeza do que fez certo e do que fez de errado até então. Só que tempos depois, Maísa se salvou da loucura, se conformou com a vida. Pensar demais era quase seu suicídio.
E agora Maísa sabe que cada nascer do sol pode ser a resposta de uma de suas perguntas. Conseguiu entender que a vida não se entende, só se vive. Agora sabe que o que tiver que ser, acaba sempre sendo o melhor no final. Agora ela sabe, ela sabe.
A vida nunca vai ser como nós queremos, ou planejamos, você sabe disso. Muitas pessoas entram no teu mundo com passagem de volta pro passado, e você sabe disso também. Sabe o que é o medo de preencher o coração com pessoas e suas intenções de saírem logo em seguida, só pra te deixar com saudade, e gostinho de quero mais. A gente espera sempre de quem não espera nada, de quem não liga, de quem tem a ideologia errada. Mas você não pode ficar com medo de tudo, darling. Afastando qualquer tipo de afeto que possa te afetar, e conseguir arrancar um sorriso seu. Vida é feita de riscos também, sabia? Nós planejamos uma parte, e a outra é impulso, você sabe que é assim. Ah, vamos lá. Se faça de mocinho, mas não me deixa ser a vilã da tua história. Eu sou aquela que esbarra em você nos primeiros 15 minutos, e nos 60 já sou o teu destino, a garota das linhas tortas que tinha que cruzar com a tua linha premeditadamente certa. Me diz, estamos em quantos minutos já? Porque o acaso já me levou até você, e só estou esperando chegar no letreiro pra poder sair da frente de todos nos olhando, e viver o que ninguém precisa acompanhar. É quase um “feliz pra sempre”, só que sem a parte do “é só um filme”, me entende?
Por dias jurei não me entregar a mais ninguém, antes de me sentir totalmente renovada. Mas aí você veio como quem não espera nada mais que uns beijos, e conseguiu de cara meus suspiros. Eu sempre desconfiei de garotos com sorriso de malandro e barba mal feita, mas você ainda tinha olhos verdes e lábios lindos, e aí ficou difícil me concentrar no “Não, ele não presta” que ecoava insistentemente na minha cabeça. Eu sabia que você não prestava, - e continua não prestando - mas eu estava disposta a ser corajosa e enrolar seus cabelos ao redor de meus dedos, percorrendo minhas mãos por todo o seu corpo. Foi engraçado me entrelaçar nos seus braços e esquecer que aquilo era um sábado em que eu passava sóbria, imaginando outras garotas em seus saltos altos, enchendo seus sangues de álcool para esquecer de quando, por tais veias, já se pulsaram litros de sangue mais limpos, por culpa de toques de seus respectivos garotos-encrencas. És um deles, só que além de toques, até teus olhares provocavam contrações ventriculares prematuras em meu coração. Sabias que em algum momento aquele beijo tiraria todo o ar do meu pulmão, mostrando o lado bom de você me trazer todo ele de volta. E você me perguntava o motivo de eu querer te beijar deitada, não sabendo do chão que sumia sob meus pés quando suas iris encontravam as minhas, enquanto meu corpo recebia a notícia de que o bpm aumentava a cada instante, confundindo a sensação de calmaria que sua voz trazia para meus pensamentos. Você me instigou desde o início, e naquela época nem sabia como eu adorava tentar desvendar toda a história que uma pessoa carrega por baixo de sua pele. O vício de acomodar minhas mãos em teus ombros era perceptível. Meus dedos dedilhavam sua pele, como quem deseja gravar pra sempre algo tão bonito como as constelações que eu imaginava em suas costas, uma estrela para cada sinal tão perfeitamente alinhado no teu tom quase moreno. E degustaste do sabor de meus sorrisos, da minha doçura, minha amargura, e da minha alma. Você fez seu caminho em mim, e o chamou de felicidade. Dizia repetidamente “a felicidade está em ti, garota.”, enquanto eu te olhava sério, imaginando em que momento eu pude acreditar que havia outro modo de ser feliz. Não, não havia. Eu sempre soube. Era por isso que dávamos certo. Eu gostava de você, você gostava de mim. Éramos um ser só. Éramos eternos.
Ninguém nunca entenderá como deve ser, ou como aconteceu. Só entenderão o que mereceu, o que sentiu, o que marcou. E podem não entender nem isso também, mas confusão faz parte do que acontece, faz parte de tudo que há por ai. Confusão é o novo alzheimer, eu diria. Porque, veja bem, de confuso todos somos um pouco, não acha? E algumas situações ainda confundem muito mais, e esse acúmulo nos leva à loucura. Tudo bem, não se generaliza algo desse tipo, mas é o único jeito de não se especificar em algo, ou alguém. Confusão é o mal do século, meu bem. Século pelo qual todos esperamos que passe a cada dia, pois os dias estão cada vez mais infinitos e nunca se sabe o limite da felicidade. Essa é a parte ruim. Felicidade tem data e hora para acabar, e a culpa, a tristeza nunca acaba, acredite. Ela some, é claro, não somos depressivos à beira de nenhum precipício mental, mas sabemos que os momentos tristes duram muito mais que os felizes. Prova de que morremos à cada final do dia, e, normalmente, nascemos junto ao sol. Ah, onde está a confusão nisso tudo? Em seu pensamento agora. Tentando entender onde estou querendo chegar com tudo isso. Eu lhe respondo: quero chegar no fim. E esse, meu caro, é o fim.
Estou sendo “bem-vinda”.
Há acasos em que a vida te leva a tropeçar em um caminho que você nunca havia visto antes e te mostra que antes sempre teve fim, para um outro começo ter chance de ser infinito. Foi o que aconteceu com Cecília e o garoto de olhos escuros. Ela aparentava tanto ser forte, que era quase difícil imaginá-la com olhos inchados debaixo do chuveiro. Já ele, bem vivido, tinha o péssimo costume de abandonar quem o queria bem. Típico de protagonista bonzinho, e dessa vez, não seria diferente.
Era uma noite calma aquela em que duas almas se conectaram. E foi o impacto do mistério que fez a garota de cabelos castanhos ansiar pelos toques do rapaz, até então, não nomeado. Ele parecia ter o manual de tudo o que Cecília desejava, desde o perigo, até seu impetuoso modo de instigá-la. Ela, prematuramente, almejava ser algo desejável para ele. Vinicius, dono dos olhos que a devoravam delicadamente. Tentador, como o veneno que agrada, e vicia. Olhos que a provocavam e encarnavam todos seus anseios escondidos por trás de toda a sutilidade que ela carregava. Ele a despertou o lado inesperado e proibido do mundo. Ela, o instinto de proteção que parecia não existir em parte alguma do corpo convidativo de Vinicius.
Ambos sabiam a delicadeza que carregavam em si, depois de noites envolventes, e conversas sobre qualquer coisa que pudera proporcionar bons momentos a serem lembrados. Os olhos escuros do rapaz combinavam estranhamente com os claros da garota, assim como os corpos possivelmente se fundiriam em um só, por um encaixe tão perfeito. Ah, a vida e seus destinos traçados de última hora. Chega a ser confortante saber que o ruim, no final, acaba te trazendo algo melhor que o passado e mais intenso que o futuro, assim como Vinicius foi para Cecília, sua insanidade, e Cecília foi para Vinicius, seu ato de redenção. E continuará sendo, até um novo caminho invadir os corações pertencentes ao acaso mais certo que já aconteceu.
Desculpa, rapaz. Desculpa por fazer, quase sempre, a coisa errada. Desculpa por tua ausência me causar esses pensamentos sem sentidos, essas minhas bobagens que te falo sem nem antes pensar. Há muita coisa que não te conto, pelo simples motivo de ter medo de me arrepender depois. Somos dois corpos com um vazio implorando para ser preenchido, e eu não sei qual parte do teu corpo quer que eu o preencha, João. Não sei se teus lábios anseiam pelos meus, assim como os mesmos pronunciam teu nome num tom quase inaudível. Eu não sei da sua alma, não sei se cheguei a atingi-la ou se ela já tentou sair daí pra vir pra cá. Não tenho nem ideia de que tipo de sorriso você faz, me diz, mostras os dentes quando sorri por mim? Fica com a cara de bobo, e esconde o rosto pra nem você acreditar estar fazendo isso pela garota nova que soube te fissurar? Qual o teu problema, me conta. Já te fiz escutar muito, e deixo você soltar o verbo também. Meu corpo é teu, tens o direito de me abraçar e pode até não me soltar nunca mais, se quiser. Apenas recomendo não falar nada ao sussurros, se não tem a intenção de me posicionar aí no teu coração. É que eu me entrego fácil, e você é ao contrário, isso é algo que me preocupa. Mas arrisco me perder nos teus olhos escuros, se prometer me achar logo em seguida. Me guarda pra ti, eu nem ligo. Já esqueci de mim faz um tempo, saiba disso. Meu objetivo é continuar nossa história sem nenhum estrago no coração, sem traumas. Eu não desejo tirar o brilho dos teu olhos, John. Acho que todos merecem boas memórias. E, bem, minha memória não é das melhores, mas de você eu vou lembrar sempre. Você sabe.
Eu andava calmamente pelas ruas, era como qualquer outro dia de pensamentos insanos, sempre arranjando um modo de fugir dessa cidade tão mal frequentada, de gente que quer viver mais minha vida, do que eu mesma. Mas aí um velhinho, sentado no banco da praça, desvendou minha expressão de confusa que nem meus amigos mais próximos souberam notar, e me perguntou logo de cara “Tu ta aqui, e coração? Ficou lá?”. Como assim? Como ele soube acertar tão bem o que eu pensava, o que me corrói um pouco a cada semana que passa? Tudo bem que adolescentes normais pensam mais nisso do que em suas notas da escola no final do semestre, mas eu acho que ele notou o peso que eu carregava. Digo, pra quem conseguiu me decifrar fácil, deixando quase me sentir vulnerável a ser descoberta, ele soube me atingir. E ninguém soube fazer isso antes, não com tanta facilidade. Não, eu não sou uma anti-social, que sente revolta, ou que não se importa com a sociedade que critica pra caramba, mas as vezes me sinto ser mais do que até eu mesma penso ser, será que faz sentido isso? Pra ele parecia que sim. Eu fiquei sem reação, ele aparentava ser calmo, nem ligou pro meu susto e não pareceu se importar por eu ignorá-lo e sair dali. Tentei resistir, não pensar em relação ao que ele disse, mas minhas pernas se certificaram de me levar pra casa, me trancar no quarto e fritar os neurônios com o coração na mão. Aí fiquei sentada na cama, com os olhos focados em um lugar qualquer, mas eu estava bem distante.. Será que eu estava “lá” com ele? É que ele nem demonstrou saudades, quem sabe eu estivesse o tempo todo lá.
Em uma noite dessas de verão, eu estava sentado em um restaurantezinho qualquer, apenas para sair, depois de um fim de semana inteiro enfurnado em casa. E notei uma garota de cabelos castanhos e olhos azuis ou verdes, fiquei indeciso quanto a cor de seus olhos.
Ela estava sozinha, imaginei que estivesse esperando alguém, e tive certeza ao ouvir sua voz suave falando pelo celular com, aparentemente, um cara, perguntando se ele demoraria muito para chegar. E aí as horas foram passando, e se estendendo.. até eu notar a expressão triste da garota, que ainda estava sozinha.
Bebi uma ou duas doses de whisky, tomei coragem e fui falar com ela, mas a conversa acabou não saindo como eu esperava. A deixei nervosa e vi seus olhos lacrimejarem. Depois de umas tentativas frustradas de me desculpar pelas minhas escolhas erradas de palavras ao falar sobre ela e o rapaz, ela me disse que eu não sabia nada sobre os dois e que eu deveria cuidar dos meus problemas.
Fico mal em concordar, mas é a pura verdade: eu deveria cuidar mais dos meus problemas. Só que enquanto ela me falava coisas e mais coisas para me sentir mal, a única coisa com que eu me preocupava era que eu ainda não havia perguntado o nome dela. E sem nem ao menos pensar, a interrompi, perguntando seu nome.
Ela se levantou, pegando sua bolsa branca combinando com o tom de sua pele, disse que era Lana e logo foi me dando tchau. Me levantei tentando alcançá-la, pois ela andava rápido, mas ela olhou pra trás e eu só tive a chance de olhá-la nos olhos.
A última visão que tive de Lana: os olhos.
Como se faz pra conseguir pular todos os muros que me impedem de te ver, me diz. Acho que nunca te falei que tuas palavras causam um impacto forte em mim, e eu odeio me sentir fraca nesses momentos. É que eu ando tão perdida nos meus pensamentos, não sei nada sobre a gente, e tenho medo de saber. Vai que é isso que teremos, vai que é só um encontro de duas bocas e línguas, e só? Não quero isso. Eu penso muito no que pode acontecer e acho que essa é minha pior fraqueza. Meu bem, eu desmorono à cada futuro que prevejo pra gente, sendo ele ruim, e se é bom.. Eu nem penso. Difícil tentar não criar expectativas, sem parecer uma sem esperança. Eu sei, você já disse pra aproveitar enquanto posso, e se for pra sofrer, que seja depois, pra não morrer antes do tiro. Até eu já disse isso, mas meus momentos de sanidade me levam à esses pensamentos, e me carregam ao mais fundo do poço possível. Sou um caso sério. Ontem mesmo pensei em te ligar e pôr um fim. Assim. “Pronto. Acabou. Não vai rolar. Desculpa.”. Mas aquele negócio de que só precisamos de 20 segundos de uma coragem insana não funciona comigo. Em 20 segundos eu penso em mil coisas e em 1 minuto eu enlouqueço. E agora você para de ler e pensa bem com que garota tá se envolvendo. E eu peço pra tentar me aturar mais um pouco à cada semana, porque se eu consigo, você deve conseguir também, né? Tens mais paciência que eu.
Acho que você não entenderia se eu dissesse que eu sou estúpida e você é um doce de pessoa. Nem eu entendo. Porque eu sei que, ou nós dois somos estúpidos em pôr esperança nesse caso perdido, ou somos um doce de pessoa, mesmo não provando do teu sabor e todos confirmarem a minha amargura explícita. Só que os olhos que me encontram na rua não são como os que me veem da forma que sou de verdade, e nem as línguas que me provam sabem que não sou só acidez. Eu tenho lábios doces, será que ninguém sentiu? Eu não sou assim tão amarga, arrogante, e grossa como todos falam, você pode confirmar isso. Há alguma razão nessa cor pálida em mim. Eu não preciso da cor do pecado pra te fazer perder os sentidos, mas também não sei te fazer encontrar o caminho da minha casa. Da mesma forma que teus olhos não precisam ser claros para me cativar, e você não precisa ter o melhor corpo do mundo, nem uma mão grande. Eu só espero um pouco de coragem de ambas as partes. Talvez se atirar daqui do alto não seja tão ruim e nós encontraremos um final pacífico lá em baixo. Você só não pode ter um maldito carro e deixar as chaves jogadas aí do teu lado, sem vir me ver. É uma oportunidade desperdiçada. É ridículo. Tão ridículo como teu nome ser comum. O trágico é que meu coração bate menos a cada pensamento ligado ao teu, e tudo bem, eu sempre soube que morreria de amores. Vai ver você admire isso em mim. Talvez você goste desse meu lado masoquista que pede pra levar um tapa ou dois por essas coisas que penso, e sabe-se lá se é no bom sentido ou não.
Nunca tive vontade de conhecer pessoas, as achava sem algo que me interessasse, mas tinha aquela garota. Uma beleza estampada em seus 1,64 de 17 anos bem vividos. Haviam histórias em seus olhos e eu nunca tive a oportunidade de lê-las, porém, as más bocas sempre falam do seu último ano na antiga cidade e do rapaz que a enganou e soube espalhar aos quatro cantos sua vitória. Ela perdeu a esperança, e eu o fôlego. Lamentei por uma boca tão linda não ter o costume de abrir um sorriso, mas conseguia pegar seus momentos mais únicos de uma felicidade clandestina. Eu nunca tive certeza do que ela era, ou do que queria ser. Sei que Alice não era sociável e que fazia bom uso de sua voz ao cantar baixinho Beatles ao caminho da escola. Eu a via olhando as estrelas, tentando falar com alguém que viveria mais que ela. Poucos metros daqui, se encontrava a garota de cabelos escuros que caprichou na arte de me entreter. Ela era minha vizinha. Eu esperava que em algum momento ela me visse, ou me notasse, mas Alice sabia das palavras soltas em seu olhar e por isso olhava apenas para o chão. Ela nunca soube o quão bonita era, e decidiu testar sua coragem. Ah, Alice, mal sabia ela que coragem não se testa assim. Não se atira de cima de um prédio pra saber que está viva. Ela existiu, mas viver foi apenas o tempo do voo que sempre almejou. Ela sempre será lembrada por aqueles que a viram com olhos de garota inocente e desnorteada, mas mesmo assim, não sabiam da sua dor. Sua inexplicável dor por aquilo que nunca fora consertado. Eu tentaria, se ao menos pudesse descobrir o que a fez subir os dez andares e descer em queda livre. Mas agora é tarde. Naquela única noite em que eu resolvi sair da janela, ela tomou seu rumo. Se eu desistisse da ideia de ficar sem olhá-la, quem sabe eu teria a salvado. A salvado de si mesma.
Eu acho que você não entende a gravidade do dilema que destrói todo fio de esperança e me liga à minha sanidade mental. Resquícios teus me marcam tanto, que prefiro não me observar, não prestar nem um pingo de atenção no estado psíquico que eu possa estar. Porque à essa altura a fantasia pode ser um caminho melhor do que a realidade. Acredite em mim quando eu digo, querido, louca eu sempre fui. Só havia esquecido disso no meio de tantos seres que poderiam se dizer normais se não fossem os olhos de quem deseja ser o dono do próprio ser. Tais olhos demonstram que ninguém deixa de ser insano por saber que é errado. Pelo contrário, eu diria. Não há mais uma linha que traça e diferencia o errado do certo, porque certo é ser quem você quer ser, não quem deveria. Por isso somos todos errados por achar que pecado é ansiar por uma noite de prazer, ou simplesmente não ligar pro que dizem por aí: que todos querem alguém ao lado para passar o resto da vida. Até eu, que acredito em amor, prefiro pensar que o “pra sempre” é só um tempo pré-determinado e que não há infinito em um lugar onde se entregar pode ser teu maior arrependimento.
É provável que quem me conhece sabe que não sou do tipo de pessoa que espera a hora certa pra fazer as coisas. É o melhor motivo que acho pra explicar essa dose de realidade que engoli agora pouco. A questão é que estou abrindo uma nova ala no meu coração, e não está nomeada. É o lugar onde ficam as coisas perdidas, como a minha coragem que se foi à muito tempo e quando fui procurá-la, quase acabei caindo nessa ala: quase me perdi. Vamos apenas dizer que eu seja um tanto quanto peculiar quando se trata em guardar sentimentos, lembranças e mágoas. Medo também, quando o caso é entregar aquela parte do coração que não deveria sair nunca - nunquinha - daqui de dentro. É como quando a noiva joga o buquê pro tumulto e sempre o malvado que pega. Pobre coração. Lamento sempre quando ele volta reclamando que nunca miro bem, e que preferiria cair no chão do que nos braços de um novo canalha. Eu pediria desculpas se fosse adiantar algo, mas erros são erros, e minha especialidade, sem querer me gabar. Também não é nada que me orgulho, mas prefiro ver pelo lado positivo, se é que há. Mas se eu conheço bem minhas sensações, há algo certo em tudo que acaba: o finito. Acho melhor, mais seguro. O infinito sempre foi lindo, mas parece o tipo de caminho que alguém segue parar viver uma vida sem limites, e se há uma coisa que eu conheço em mim é que eu tenho limites absurdos, que dirá sem eles. Eu seria o caos em pessoa, se já não sou. Deixo assim, mal dito, pois o que foi nunca mais será, e eu já fui muito segura do que fiz. Agora apenas improviso, esperando alguma brecha que me faça ser livre e ultrapassar os limites que me prendem aqui.