Laguna de Jesus
Viver é como caminhar embriagado numa rua larga, só é possível chegar ao destino se alguém estiver do lado nos apoiando e nos levantando em cada queda que formos a sofrer...
Preta negra
Teu corpo nunca montaste
És linda sem tal vaidade
Extensões sempre desprezaste
Com orgulho e naturalidade
A cor da tua negra face
É a mesma com a do resto do corpo,
Não como a das não da tua classe
Engraxadas; claras e escuras no mesmo corpo
És um verdadeiro contraste
Tão pé descalço como sempre fui
Mas tu sempre me amaste.
Poemando
Tu que te envolves neste ritmo
Sem vida
Seguindo ao pé da letra
Esta melodia vencida
Sim!
Tu,
Oiça o verdadeiro canto
Que há dentro de ti
Oiça a voz do silêncio
E sinta o batucar das cordas de som
Que levam o sangue ao teu pulso
Não, não mexe o corpo avulso
Dance a marrabenta do quotidiano
Que é da cor da sua raça
Converse, desconverse
Faça tudo com emoção
Mas antes de ouvir um conselho
Oiça a voz do coração.
Quando te amei
Ainda era cedo para amar
Me amaste quando eu precisava
De alguém para amar
Todavia, para mim
Ainda era cedo para amar
Eu queria
Mas não devia
Porque se a ti amasse
E a mim condenasse
Esse amor de nada valeria
Porque quando te amei
Ainda era cedo para te amar.
Verbo amar
Eu amo
Tu amas
Eu amo-te
Tu amas-me
Só amo a ti
Porque igualmente amas a mim
Foi conjugando o verbo amar
Na primeira e segunda pessoa do singular
Que descobri o quanto somos um só
Você em mim e eu em ti
Na carência ou na abundância
Enquanto estiveres comigo
O meu verbo preferido será te amar.
Hipnose
Concentro as atenções em nada
Penso em nada
Procuro-me sem sair do lugar
Onde não me encontro
Fujo da sombra que poderia ser minha
Mas não é porque a fujo
Corro sem sentir o chão
Sinto suor vermelho escorrendo
Lentamente pelo pulso
O suor desconcentra-me
Volto a reiniciar a minha concentração
Vejo-me com o rosto molhado
Pelo suor já sem cor, mas salgado
Que vai gotejando pelos olhos
O coração bate forte
Pois sente-se amedrontado por nada
Fecho os olhos, ouvidos, a boca e as narinas
Logo morro sem ter nascido
Mas, três segundos depois
ressurjo da hipnose sem ter morrido.
Sempre te quis
Mesmo quando te chamava
Pelos mais pejorativos nomes
Mesmo quando acariciava os seus ouvidos
Com os mais abomináveis adjectivos
O meu coração sempre te quis
Te queria como sempre vou te querer
Não consigo dizer não a essa chama
Ela me queima como fogo quente
Mas mesmo assim te quero
Te quero porque assim eu sinto
Por mais que eu me esconda de que jeito
Esse fogo sempre vai me queimar
Me queima porque gosto
Me queima porque se não me queimar
Posso deixar de te amar
Por mais que me doa o coração
Eu sempre te quis.
Eu quero ser poeta
Eu quero ser poeta
Eu preciso ser poeta
Sim,
Só para poder justificar a minha dor
E saber do coração os porquê dos amor
Eu tenho de ser poeta
Não para desenhar palavras
E nem é para me expressar bonito
Mas sim para ter razão
Ao me alimentar do pranto ácido e infinito
Eu preciso ser poeta, agora.
Por mais que seja por um minuto
Quero lembrar o que não esqueci
Isso porque as dores não se apagam
Apenas são armazenadas
Apenas quem é poeta
É que pode compreender essa filosofia
Porque ela não é uma qualquer
Está para quem pode e não para quem quer
É por isso que eu preciso ser poeta.
Voz silenciada
É o grito negro
É a pele escura sobre os ossos da minha gente
É o querer inapto de um indigente
É uma boca mal aberta
Para quem não pode se expressar
É querer sem poder, aliás
Nem é uma nem é outra
É voz silenciada
Voz silenciada
Não é voz das cordas vocais
Mas sim voz que não se ouve mais
Voz de quem nunca teve voz
Voz minha, minha voz
Que para ouvi-la basta estar de longe
Porque de perto ela não se ouve
Voz silenciada ainda pode ser a tua
Se junto com a minha
Permanecerem trancadas no silêncio.
Basta o coração que me levaste
Porque devo sacrificar-me por ti
Se tal como as outras
Menos tardar te apartarás de mim
Como fel amargos serão os meus dias
E depois de ti não mais terei
Prazer em com prazer vive-los
Um famigerado me tornou
Perante os deuses do amor
Assim como tu eles vivenciaram
O mais belo sentimento
Que por ninguém ainda posso sentir
Basta o coração que me levaste
Por eu ter sido tão ingénuo
E por teres tu sido
Como todas as mulheres
Se comigo pretendes continuar
Não me peça mais do que lhe tenho dado
Porque quando me fores a deixar
Eu possa afirmar: já fui amado.
Afinal! Porque devo amar?
Se os que amam
Os vejo lameando em lamurias
Prantos e injúrias
E que por terem amado
Já não querem mais amar
Afinal porque me fazes amar?
Se o que eu quero é não amar
Eu sei que floridas emoções
me adornarás
Mas quando o prazer se esgotar
Mil súplicas farei
Mas nem de longe estarás
Esse é o meu medo. Amar.
Pois, mal se sabe quais são
as possíveis vantagens do tal amor
se quando bem fazem
mal também desejam.
Meu maior desespero
É saber que vives dentro de mim
Mas não posso te tocar
É sentir que te amo imenso
Mas sem poder me declarar
Meu maior desespero
É te querer enquanto ausente
Te ver no meu passado fazendo juras
Para o futuro
Mas sem te ter no presente
Tudo me desespera quando fico desesperado
Mas o verdadeiro desespero
É quando não te tenho do meu lado.
Este poema, seu poema
Este poema
Na verdade foste tu a autora
Eu sei,
Não te lembras do dia nem da hora
Mas foste tu
Quem escreveu este poema
O que fiz
Se é que algo fiz
Foi desenhar em palavras
Cada gesto seu
Adicionei beijos e juras
E este poema nasceu
Este poema é todo seu.
Convite
Vinde a mim todo o solteiro
Pois sou o único amável e verdadeiro
Mergulhai neste poço de água viva
Comigo nunca falha a expectativa
Peço perdão
Pela falta de educação
Dirigi-lhe a palavra sem antes me apresentar
Eu sou inimigo da solidão, eu sou amar
Não é fácil me conhecer
A mim só verás com os olhos de ver
Dizem que confundo pela maneira de agir
Mas o que sou só se pode sentir
Eis que te faço um convite
Aceite-me e tenha um bom apetite
Eu sou amor
Aceite amar e esqueça a dor.
Bassopane Vafana
Eis que vos advirto rapazes
Ainda que não seja do vosso agrado
Doravante leveis isto em cartazes
Há um mal que nos ameaça
Há uma eclosão demográfica
Que nos amordaça
Só para que tenhais noção da gravidade
Na verdade
Este mal é tão forte,
Quanto o ferro que tudo quebra e esmiúça
Ainda podemos personifica-lo em
Coelho – o animal e a astúcia
Este mal é mão por natureza
Ludibria até aos santos
Sempre que se monta de beleza.
Enquanto eu tiver voz vos advertirei;
Bassopane Vafana!
Espírito santo
O meu coração jaz
No desconforto da sua ausência
E desafogadamente sacio os dias
No amargo pranto da minha dor
Onde posso lhe encontrar? Oh, consolador!
Sei que de tudo quanto eu padeça
Na é grande que a vossa fortaleza
Fortaleça-me, ainda que não mereça
O mau cega meus olhos, não vejo beleza
A minha direcção é a sua graça
Ao me envolver destrói-se cada ameaça
Jesus prometeu antes de partir
E essa promessa é que me troce até a ti
Pois de nada me vale existir
Se não é para te ter aqui
Espírito, espírito consolador
Espírito, espírito fortalecedor
Que as sua bondade venha me alcançar
Porque amargos tem sido os meus dias
Baptiza-me, por favor!
Baptiza-me em nome do Senhor.
Na estética do seu corpo
No atraente bronzear dos lábios
Com a língua
E dulcificar aromático
Do “Smel” de cada contorno do seu corpo
Com os meu olhos
Conheci o belo
O belo em arte
O belo que não é sinónimo de bonito
Se eu disser és linda
Há quem ainda pode me contrariar
Tu és bela
Como uma obra artística
Como uma imaginação nunca imaginada
Bela como o belo em si
É na filosofia do seu corpo
Onde só a estética faz parte
Que eu me inspiro
E me torno artista.
Perdido em mim
Sinto-me um fantasma
Um rosto sem forma
Perdido no desaconchego de mim próprio
Lutar para me encontrar
Seria como ajudar um morto a ressuscitar
Em pensamentos me perdi
Voei sem voar
Dei asas a imaginação e me perdi
Perdi-me na ineptidão psicológica
Já nem me aquece
A inocente poesia metafórica
Procuro-me no espelho
E ele como se fosse fotocopiadora
Me tira a mesma imagem
Perdida em si mesma
Que tal como eu, precisa se encontrar.