Laerte Sampaio

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⁠Vírus

se o vírus não tivesse te deixado tão doente,
talvez você ainda estivesse aqui.
talvez ainda gostasse de ser chamada de coelhinha,
talvez ainda pudesse dizer pra mim que era só minha.

a gente estaria brigando pra escolher time de futebol,
e eu me fingiria de mongol só pra ver aquele seu sorriso que era como um anzol.

sinceramente, já não sei quem é você,
às vezes eu saio pra tentar te ver e aí
lembro que certamente já não iria mais te reconhecer.
eu me fingi de ateu, pra tentar falar com aquele teu Deus
e perguntar por que tirou tudo aquilo que era meu.

ah, se aquele vírus não tivesse te deixado tão doente,
talvez eu tivesse conseguido ser mais presente.

esse vírus, também me deixa muito doente
e esse ódio todo que eu sinto é porque ele é perfeito
e eu sou só um delinquente.

eu era inocente, até sua mãe me odiar
e com os olhos falar pra deixarmos de ser
tão indecentes.
poderia ter sido diferente,
se agora você não fosse o vírus
que me faz ficar tão doente.

⁠Ela e o Tempo

Eu não voltaria no tempo,
não por ela.
Bom, em maio eu voltaria no
tempo, por ela.
Mas em agosto já não tenho vontade
de voltar no tempo por ela.
Faria tudo diferente, mas
não faria nada com ela, nem por ela.
Falaria do futuro para ela e diria:
"Não vá até o castelo que nos transformará em migalhas e farelos."
E isso eu faria por mim, não por ela.
E, mesmo assim, ela iria; teimosia era
o nome dela.
Pra falar a verdade, eu nunca a conheci verdadeiramente.
Mas conheci o suficiente para saber que eu não voltaria no tempo, não por ela

⁠Um Dia Antes

Era trinta de maio,
se eu tivesse deixado meu cérebro falar,
naquele dia eu não teria viajado.

No dia seguinte o caos já estava por todos os lados
e eu lembro de já estar no chão, todo quebrado.
Se eu tivesse ouvido menos o meu coração,
naquele dia eu não teria me decepcionado.
Se tivesse me falado que estava fingindo,
mesmo assim eu teria te perdoado.

Queria que soubesse que me machucou tanto
a ponto de me fazer perceber que o tempo inteiro eu estive errado.

Era treze de junho,
você disse que nada era uma mentira;
mas se fossem verdades, você teria voltado.

Você não pôde ver o quanto eu estava revoltado,
meus amigos me viram totalmente esgotado, eu nunca fiquei tão envergonhado.

Era dia dos namorados,
eu não era mais seu namorado
e muito menos o seu amado.

Naquele dia, de longe eu vi você andando de mãos dadas com o diabo.
Graças a você, não existe no mundo alguém mais amargurado.

E de fato, se eu não tivesse ouvido o meu coração
naquele dia talvez eu não estivesse tão decepcionado.

⁠Maçã e Hortelã

Seus olhos são lindos,
Você usa eles para deslumbrar o mundo.
Seu sorriso é magnífico,
Mesmo que ainda sem dentes e tão miúdo.

Você veio ao nosso encontro
No mesmo dia em que alguns se tornaram cegos e loucos,
Pra mostrar que não há medo
Em tentar viver tudo de novo.
Nunca pensei que veria seu pai vestido de noivo,
Declarando ao mundo estar apaixonado
Pelo que antes era seu medo mais tosco.

Me disseram que você tem cheiro de hortelã
E que seu pai, na juventude, tinha cheiro de maçã.
Ele não vê, mas se parecem mais
Do que ele mesmo pode compreender.
Você me lembra coisas lindas
Que nunca poderei esquecer.
Sua presença é a permissão para que neste campo novas flores possam vir à nascer.
Ruim ou bom, tudo isso é coisa do nosso próprio querer.

Espero que, quando crescer,
Não se apegue a detalhes e não se deixe abater;
Por favor, continue sempre a correr.

O coelho miúdo e fugaz,
De olhos castanhos e pequenos,
Vinha há um tempo me alertar da tua chegada repentina.
Não disse com todas as palavras quem eras tu, mas mostrou claramente que algo lindo viria.

⁠Daniella

Daniella, você é a mais bela.
Entre todas elas, é impossível encontrar alguma que seja mais esbelta.
Uma é tagarela, em outra falta uma perna,
mas você é a fornada perfeita de uma linda boneca.

Seu pai pintava você com aquarela,
enquanto o coelho me dizia que você seria uma menina muito esperta.
Quando tiver vinte e cinco, vai pular de asa delta
e vai dirigir um carro roxo com as janelas todas abertas.

Um dia vai subir na garupa de uma motocicleta
e vai se apaixonar por um rapaz que terá muitas tatuagens na perna.
Seu pai vai enlouquecer pra conseguir entender
que "aqui se faz, aqui se paga"
e que essas são as consequências de pôr no mundo uma filha tão bela.

AETERNITAS

⁠Já não me importa se o número quatro traz azar,
Se o coelho não aparece mais para tomar chá,
Ou se as velas não se acendem mais para o jantar.
Se com você agora eu posso estar,
Pra que ter tanto medo de amar?

Você vem para dançar e eu sinto a brisa leve do mar,
Nunca pensei que pudesse perder o meu medo de amar,
E agora eu só penso em ao seu lado estar.
Tenho tanta sorte de poder te abraçar,
É um privilégio ao seu lado caminhar.

Você sempre usa um vestido lindo
E um laço vermelho no seu cabelo preto,
É tão doce te adorar.
Daqui em diante, eu juro,
Se eu viver, será só para te amar.