Laércio Benitti
SONETO DE UTOPIAS
Onde vislumbro a utopia
Contudo a plantar quimeras
Como quem colhe poesias,
de todas serás mais bela.....
E planto um pouco de ilusão,
Enquanto durmo falo com elas.
Que delírio poder falar-te então....
A plantar sonhos, colher quimeras.
Que desdita falar com utopias.
O que os sonhos te dizem?
Do que te falam as fantasias?
Pois só quem planta utopias,
Poderá sonhar e falar então,
plantar ilusão e colher poesias.....
EU TE PROCURAVA
Eu procurava o meu tácito amor
Como quem navega em mar oculto....
E era o sequioso tempo
E a luz em um vago momento.
Meu Universo e a poesia aguerrida
A combater com sublime ternura
E luta constante de quem procura,
E eterno era o tempo,
Segregando a vida.
E procurava como quem traduz a poesia
E já era a implícita luz
Que percorria o meu súbito verso,
Como quem anoitece na luz do dia.....
Eu procurava e não encontrava
Porque era celeste e pura
A propagar a eterna procura
A expressar a divina ternura.
O carinho e o inflexível tempo
Eu procurava com ardilosa eloquência
No céu de etéreo firmamento
A obliterar os dias, com profunda iminência.
Tão perto de ti eu estava, e não te encontrava.
Quando suprimia o tempo, com sofreguidão
A ocultar-me na luz te buscava....
Eu te procurava com tácita paixão.....
E secretamente revelava,
Como quem no oculto procura
A desvendar com misteriosa razão
A segregar o pranto com eterna amargura.
Eu te procurava em uma serena madrugada
A qual era de busca iminente
E quão tarde era a dor ausente,
No fulgor do instante, minha intensa alvorada.
E na madrugada fria uma eterna procura
Então encontrei meu amor, na vastidão da poesia,
Por vereda calma e sombria
Encontrei finalmente, o que tanto buscava!
SONETO DOS PUROS
Ser alvo como a neve, o amor
Sereno corpo, refulgido ser
O clamor, o pranto a amanhecer,
No brilho ávido o temor.
A pureza de sequiosa luz
A refletir no tempo o meu olhar
Luz aguerrida a purificar
E inerte chama que me conduz.
O porvir, o dormir, o ir, o rir
A pureza de ser e o vago fulgor
De um vasto tempo e inerente luz.
A segregar na luz o pranto
A unir o puro encanto
De um vago momento o qual reluz....
O ECO, ECOA.....
Sou muito sonoro,
É que esqueço-me de ouvir
E no silêncio ignoro,
O eco que há de vir...
Em ondas sonoras a ecoar
O eco que penso escutar,
No silêncio, com estrépito som
Segue o ritmo de um eco sem tom.
O eco então a ecoar
Em ondas sonoras entoa
O equidistante som a tocar
Pois paralelamente o eco, ecoa...
E estando o eco sem som
Sem ritmo e sem harmonia
De espectro e variação,
Ecoando um eco na poesia!
O JARDIM CIBERNÉTICO
A flor que plantei crescia e era uma flor neuro estática,
a qual conhecia as dores humanas, e discursava a flor eloquente, nos jardins, entre as ogivas de flores tão potentes
e cinéticas.
Seu cheiro era de metal e falripas de ferro....
E olhava-me a flor, que descobri sintética.
Suas orilhas revelavam suas faces distintas,
propagando em suas faces a dor de guerras funestas....
Ouviu-se nas grotas a orvalhada bélica,
Escuta-me então divina flor esquálida, e de visionária face e melopéia da inércia.
Cantai então, pura flor dos átomos....
Onde está o seu galardão?
Pois seu cântico de razão eminente,
nos jardins da nefasta flor renitente.....
Governais profana a dor que tanto emana,
eflúvio de um átomo que dilacera,
e desditosa é a flor vigorosa e impura.
De que vale a luta da flor aguerrida
nos jardins de tanta dor sofrida,
e de flores, de bruta seiva pura.
POEMA INEFÁVEL
Em um desejo fecundo o instante
Como o etéreo lume do meu corpo,
No rútilo semblante do meu rosto.
E inerte como o tempo de meu pranto.
Em um momento estéril e obstante,
Em seu corpo ausente e encantador,
E de arte e beleza dois amantes
A presente chama e seu calor.
Submerso momento criador
Indizível e obstante amor,
Onde existe o belo e a presente dor.
POEMA SÚTIL
Embora quando te criei,
foste feita pura.....
de ternura,
No entanto, sútil serei,
ao divagar os versos
como quem a procura
em amor submerso.
Se percebo em ti a finura,
Passo então a acreditar
como que a nascitura
fosse a arte de criar.
Se foste então delicadeza
e de oculta amargura
Peço então que ao inventar,
o brilho da sua fulgura
Brilhe com sutileza, á arte de te amar.
POESIA MÓRBIDA
E era sem vida – e débil presença
A procurar na poente visão,
E sentir no corpo a ausência
Um frágil instante de emoção.
A buscar o túmido dia
Será o ocaso e o fraco vigor,
A unir nossa triste poesia.
A ser de inerte langor.
A inverter a lânguida vida
E a transpor toda tristeza,
A ocultar a luta aguerrida
A exaurir o encanto e a beleza...
Na morbidez do puro espanto,
E foste frágil desventura
A revelar com orgulho o pranto,
O segredo da vida e a nascitura.
Há de nascer a oculta chama
A esconder o meu triste ser,
Latente angústia de quem ama
E fúlgida agonia do querer.
POETRIX
POETA
ONDE
ESTÁ
SUA
INFINITA
ARTE?
"Eu não espero, e nem
sou provisório,
apenas me espanto.......
PRELÚDIO REMINISCENTE
(MINHAS LEMBRANÇAS)
Lembrareis com tácita procura
Ei-la pois a obliterar a chama
Onde esplende com ternura,
o ávido amor de quem ama.
Esquecereis o lânguido tresvário
Visão de olhar entumecido,
Deveras ao ver-te visionário
E de fato sonhar-te adormecido.
Recordaste então de alma pura
o inerente e o contrito amor,
e morte de tantas nascituras.
A divagar e caminhar impura
Remiste em tão renitente dor,
a libertar-me com infinita brandura.