Labohèmecris - Cris Gomes
Havia uma mulher
Havia uma dor
Havia um vazio.
De repente, haviam outras mulheres,
Outras dores
Outros vazios.
Elas juntas decidiram dar as mãos,
Unir forças.
Elas juntas entenderam suas virtudes,
Tamanha suas cores
Tamanho seus valores,
Por mais machista que o mundo seja,
Elas nunca mais se enxergaram pequenas
Elas são enormes
Elas são mulheres
Elas são berço
Elas são leito
Elas são nascente.
Já eles, nunca entenderão seus poderes.
Nunca.
Dói, eu sei, ser afável é uma dolorosa forma de viver.
É ninguém te disse isso, mas é isso que te faz linda.
Diante de toda crueldade, que é estranhamente como o universo funciona.
Eles precisam que seu raio de bondade lhes mostre como estão frios.
Na areia da praia,
Há solidão enterrada
As ondas levam os sonhos desaparecidos
Conchas vazias de palavras incompreendidas do amor
Na areia da praia,
Está enterrado o riso das crianças,
Memórias de férias,
Invernos lentos, cheios de verões dourados,
Horizontes em movimento,
Desejos que partem
Na areia da praia,
O mar apagou corações desenhados com um dedo,
Juramentos esquecidos com cores desbotadas
Palavras flutuam
Na areia da praia.
Eu gosto de corações sujos e mentes inquietas.
As almas antigas que conheceram vidas difíceis.
São essas, que lançam o brilho mais maravilhoso sobre as vidas alheias.
Desconfio dos que se dizem serenos.
Todas as noites, caminho na ponta dos pés, em torno de minha solidão.
Tomo muito cuidado, para não acordá-la.
Ela chorou tanto naquela noite.
Que até seus anjos, se sentiram desconfortáveis.
Mas ninguém a ouviu.