Kipo
"O mundo é dos artistas e sonhadores, daqueles que mesmo com as paletas secas utilizam das lágrimas causadas para umedecê-las e pintarem mais telas, e daqueles que mesmo acordados dão asas a imaginação"
Temo o amanhã pois não posso prevê-lo;
Me agonio no passado pois não sei esquecê-lo;
E me ausento no presente por esquecer de vivê-lo;
Tudo oque toco, vira poesia, poesia daquelas que fazem o estomago revirar, os lábios secarem, e os olhos se arregalarem, poesias estas, que sujam de sangue as rosas brancas e escurecem o céu azul. Tão melancólicas e frias, que se pudessem ser tocadas carregariam a imagem de um defunto, pálidas, sem graça e sem vida, contudo não culpe-me por tê-las criado tão dramaticamente, verás que fazem sentido quando experimentarem do mesmo sentimento.
Poesias transformam lágrimas em sorrisos, a escuridão em luz ou muitas das vezes em uma nova chance de seguir em frente, entretanto, ao admirar cuidadosamente as obras de minha autoria percebo que tomam atitudes reversas, transformam risos em lágrimas, e luz em escuridão. Quando percebi que dentro de mim não se saia nada bom, fechei o baú que nunca deveria ter sido aberto e o tranquei a sete chaves e sete cadeados.
Não há poesia em mim, não há nada de poético em uma mente atormentada por fantasmas imaginários.
Sem restrições, sem regras, era como eu queria escrever, mas claro, não me considero filósofo ou poeta, considero-me simples, simplesmente apaixonado e intenso quando se trata de colocar ideias e palavras no papel, não tenho filtros, ou sim, até tenho, mas não em todas as ocasiões, seja o trecho qual for, nunca costumei pensar muito no que dizer, hoje em dia, penso, repenso, e no fim, nada se forma nas linhas a minha frente.
Então, de escritor para pessoa do outro lado, não oprima as palavras soltas na mente, nem se force a afogá-las em um mar de seriedade e normalidade, lembre-se, as melhores poesias vem dos loucos e mal vistos por aqueles que se auto titulam perfeitos.
Sinto falta do meu antigo eu, o eu que antes deixava cada palavra fluir como a correnteza calma de um rio, o antigo e doce eu que pintava cada linha com imagens e cenários imaginários só porque achava bonito, que mesmo recebendo olhares maldosos e julgadores continuava dançando com a música alta pois era assim que libertava o próprio coração. O antigo eu, escritor, poeta, músico, dançarino, tudo que quisesse ser e não ser.
Mas esse eu morreu. Eu o matei. Ou talvez o mundo todo o matou. O mundo todo que cresceu e moldou neste antigo eu uma torre alta e assustadora, onde lá, ele passaria o resto de sua vida sendo infeliz, sendo sugado por fantasmas cinzentos que roubaram sua cor segundo após segundo, até não sobrar mais nada. E eu o matei deixando isso acontecer. Sem impedir, sem salvá-lo.