Kiko Arquer

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Se só vê só.
Céu e Sol
são só sós

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VOLPAMENTE: Relativo ao VOLP - Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa - da ABL - Academia Brasileira de Letras.

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Cada Drummond que leio,
faz de minha poesia
um lixo que nem rima eio
e nem imagina o ía.

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só me vê bobo
o cordeiro tático
na boca do lobo.

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Faca: se não mata, mita.
E no muito do mote, defeca.

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Com meu nariz franzido
e um torto lábio apertado,
não acredito nem vendo
e nem caminhando ao meu lado.

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Cetemque

Cetemque é palavra de gramática brava.
Meio que um substantivo verbo-adjetivado.

Usado,
só tem a 1ª pessoa.

Um tipo de acusativo bem conjugado.

Eu cetemqueio,
Nós cetemqueamos,
seu cetemqueado!

O infinitivo é o próprio cetemquear.

Em 2ª pessoa fica redundante.

Em 3ª?
Ah, a mudança é toda radical:
Eletemque toma forma
e aproxima o abessivo paga-pau.

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Bisbilhoto um desconhecido que
acaricia minha gata na rua.

Ele vai.
Eu chego.
Ela foge.

Essa tem meu dote,
tá sempre na saideira.

Sarnento conhecido que sou
só peço carícia na coceira

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O espanhol Mário
não tem o nosso alô,
perguntei "que Mário?"
E ele disse "yo".

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CONTO DO MEIO

Quando pequeno, eu estava no aniversário de um amiguinho

e pus meu dedo no bolo.

Não coloquei e tirei. Não passei o dedo.

Apenas enfiei a ponta do indicador naquela parte branca.

O dedo permaneceu lá, parado, enfiado, intacto.

Todas as mamães me deram um sorriso falso.

Os papais estavam bêbados no quintal.

O único homem ali perto era o tio Carlos.

Tio Carlos se escondia atrás dos óculos e da câmera fotográfica.
Era bobo, agitado e gorducho.
Quase sempre sorrindo.
Tinha poucas, raras, nenhuma namorada.
Tio Carlos atrás dos óculos, da câmera e de namorada.

Meu braço esticado era a Golden Gate.
Uma conexão entre minha consciência
e aquele montante de açúcar.

A ponta do dedo imóvel, conectada, penetrada no creme branco.

Uma das mamães resolveu liderar a alcateia
e me pediu para tirar o dedo.

Pra que tanta coragem, perguntou meu coração.
Porém meu dedo,
afundou um pouco mais.

Olhei-a nos olhos sem docilidade.
Meu corpo imóvel.
O dela recuou.

Minha mamãe, sem graça,
falou que isso passa.
Eu atravancava, ria e dizia:

- Vocês passarão, eu... - estendia a aporia.

Eu era a Criação de Adão na Sistina.
Era mais que Michelângelo,
Era Adão no Bolo,
Era Bolo em Deus.

Mamães desconcertadas. Olhando umas para as outras.
O silêncio reinava,
o reino era meu.

Mamães desorientadas. Olhando para mim.
Tio Carlos com a câmera fotográfica
olhava para as mamães.

Acho que ele era apaixonado por umas três mamães,
ou mais,
ou todas.

Esperei um não.

Esperei um pare.

Ninguém era páreo

para um rei.

Tirei.

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de mão dada
olhou pro lado
praquela que não dava.

mal sabia
que a tua sorria
praquele que passava.

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Os que creem, que deem.
Têm dois, salve um.
Os que leem, lá veem
quem têm dois, ou nenhum

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Sèu fosse você, vïxi.
Pecava a santa
e fugia c'moço.

Dá pra vê...
que além de babar nocê,
ele tem bigode grosso.

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Na rua,
um barbudo me deu ódio
Ele nem
me via.
- Qualé a sua?
Dei-lhe um tapa no bigode.
Pogonofobia

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Eu
Tu
Nele
Nós’n
Voz
Deles

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Prólogo do Livro MICROCUSPEs

PRÉ-CUSPE

Não sou poeta, não me chame assim.
Quando criança, na escola, uma professora de redação,
dessas que vivem de dar nota, me disse:
Vai, Kiko, ser gauche na escrita.

Quem me dera que meus cuspes fossem leminskiados.
Sinto inveja desse cachorro louco. Como é que ele consegue?

Nem se eu caetanasse o que eu escrevo...sairia um inutensílio.

Ponho R em Buarquer, Francisco Buarquer, pois assim me sinto mais
confiante. Posso ponhar à vontade, pois sempre acerto as crases
e dou rodopios nas mesóclises.

"Caro leitor, escrever-lo-ía com clareza, mas..."

mas (adoro conjunções adversativas),
mas... descubro
que
mais
importante
do
que
o
que
quer
ser
dito,
é
o
que
quer
ser
impresso.

Então, se tá feio, takai-me na ternura. Pra mim tá bão.
Não páro pra pensar mesmo.
(não páre o "pra" nem o "bão", muito menos "páre" este acento,
pois agudo já estou).

Apenas seleciono alguns versos, rimas tolas e pronto.

Por fora, um status quo de bestos textos.

Impressão preto & branco.
centímetros de largura.
pixels de altura. CMYK.

Sorriso de selfie e uma voz arnaldoantuniada dizendo
que o livro existe porque foi feito.

Por dentro, ah...interjeições....

Trago na Pessoa a suavidade em nada se dizer.
Grandes espaços em branco, Duncan to a canto.

Ainda acho que um louco vai pesquisar "neologismo" no Google.

Um desocupado, com certeza.
Um ocioso severo, caso de morte ou vida.

Me cubro de humanidade
irrespiro o brio do transparente
ignoro a qualidade,
mas sou gente. (já falei que adoro conjunções adversativas?)

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Se eu tivesse que fugir,
eu nunca teria ido.
Estaria de corpo lá,
e alma cá.
Com o despeito em si
e um pedido despido.

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Se o aluno não quer,
não adianta texto colorido,
professor palhaço,
nem o saber sabido fazendo estardalhaço.

Se o aluno não quer,
é sem giz,
é não aula.

O aprendizado dá no pé
e até o recreio vira jaula.

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Perguntam meu nome querendo dizer Pedro.

A data do meu aniversário, pedindo presente.

Qual a minha opinião sobre patos, bigodes, bolsas e crentes?

A rachadura na parede ouve, nitidamente, meu quack-quack, nãoseioquelá, deuses.

Já Pedro pedreiro, penseiro

só esperando seu trem

que só vai
que só vai
que só vai

E eu aqui,

já desisti de me empolgar,

só vejo um bife desfocado a tagarelar.

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Um beijo vale mais que mil palavras.

Ai de mim,
lábio seco,
com todos os livros do mundo.

Bom para o surdo de balada,
boca grande,
vocabundo.

Inserida por kikoarquer

Não aguento escritor besta.
Diz que é assado, é assim.
Livro bom tem que ter uau.
Pegar o que eu sinto
e cuspir em mim.

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Para,
ideia sem sinal pelo pelo mostro o enjoo.

E velho peludo que sou,
trëmo sem bengala
e bólo o coloquial.

Mas se velha,
volpamente,
pudesse ser véia

perderia o acento
então,
a veia da veia
ortogloficaria o rabugento

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- Seu lindo! - foi xingado.

E enxugando as lágrimas
entortou a boca
e andou de lado.

Inserida por kikoarquer

bandido bom é bandido mudo
um bendito forte
que furta a rima
e engana a morte

Inserida por kikoarquer

Para
vê-la
olho
o que vela
o olho.

Então
meu desejo
logra
a manobra
que vejo.

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